Ricardo Arroja: Divida limita crescimento e tem que ser renegociada no plano europeu.

por Rui Sá, Daniel Catalão

O primeiro ministro está convencido que Bruxelas vai recomendar o encerramento do procedimento contra Portugal por défice excessivo. A decisão da Comissão Europeia é anunciada na segunda-feira.
Mesmo assim, a agência Moody's não muda a notação dada a Portugal e alerta para o excesso de endividamento do país. Um endividamento que especialistas do FMI afirmam não pode ser resolvido, tem que ser gerido já que vai continuar em níveis muito elevados por dezenas de anos,
No Jornal 2 Ricardo Arroja explica que todas as preocupações se centram na dívida porque o seu serviço "obriga a uma carga fiscal mais elevada para além dos constrangimentos que causa ao nível da despesa pública". Por outras palavras impostos altos afastam investimento privado, limitações orçamentais da parte do estado obrigam a refrear o investimento público. O economista fala na inevitabilidade da renegociação da dívida. "É um assunto que tem que ser colocado no plano europeu. A Grécia já deu o pontapé de saída".

O governo fala em otimismo informado. Bruxelas só pode recomendar o encerramento do procedimento por défice excessivo aplicado ao país desde 2009.

Ainda assim a Moody's mantém o rating de Portugal como investimento especulativo. A agência de notação admite vir a rever a sua posição apenas em caso de a dívida baixar.

Em Lisboa Olivier Blanchard, o ex-economista chefe do FMI, e o homem que assumia o dossier Portugal à data do pedido de resgate, foi claro ao afirmar que a dívida é um problema que o país não vai conseguir resolver nas próximas décadas pelo que deve aprender a geri-lo da melhor forma.

O conselho: Manter o défice para financiar reformas e resolver o problema do crédito mal parado que desestabiliza o sistema financeiro. O resultado: ver o investimento aumentar e o desemprego reduzir.

Olivier Blanchard acredita que é possível fazer baixar o desemprego em Portugal até aos oito, ou até mesmo os sete por cento. António Costa garante que o caminho para lá chegar passa pelo incentivo ao investimento, sobretudo o privado, e pela manutenção em alta das exportações.

A Moody's até elogia a evolução económica este ano, mas fala em perspetivas de longo prazo moderadas. A agência é mais pessimista do que o governo. Prevê menos meio ponto percentual de crescimento económico no próximo ano.e o dobro do défice estimado pelo executivo que é de apenas um por cento..

António Costa recusou esta sexta-feira comentar previsões. Nem as da agência de rating norte americana, nem as do Presidente que afirmou na Croácia que o país podia crescer 3,2% em 2017.

No Jornal 2 o economista Ricardo Arroja fala numa "afirmação desfasada de toda a realidade" que só pode ser explicada "pela vontade do presidente impressionar os seus anfitriões".

O Primeiro-ministro afirma que o trabalho do governo não são previsões, são resultados e estes mostram um crescimento de 2,8% no primeiro trimestre do ano.

Ricardo Arroja recomenda cautela nos números obtidos a partir de uma base de comparação muito baixa e de uma conjuntura internacional favorável. O comentador aplaude o resultado mas lembra "que Espanha aqui ao lado está a crescer acima de 3% há oito trimestres consecutivos, pelo que precisamos de crescer muito mais para convergir com a Europa neste domínio".

Na Assembleia da República Mário Centeno fala do melhor resultado do século, destaca que foi conseguido a par com o menor défice dos últimos quarenta anos e afirma que "o PIB veste hoje Made in Portugal". O ministro das Finanças fez questão de lembrar os deputados que o crescimento do país é dois terços superior ao dá média europeia.

Cresce o PIB, reduz o défice. Não contabilizando o pagamento de juros o país deu mais de 1500 milhões de euros de lucro nos primeiros três meses do ano. Dinheiro que a direita quer ver aplicado na redução da dívida, e a esquerda na reposição de rendimentos.
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