Santa Casa confirma investimento até 40 milhões no Montepio por menos de 2% do banco

por Christopher Marques - RTP
A Associação Mutualista é atualmente dona da totalidade do capital da Caixa Económica Montepio Geral. Há vários meses que a eventual entrada da Santa Casa no capital do banco está em discussão Rafael Marchante - Reuters

Depois de meses de especulação, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa confirma que vai entrar no capital da Caixa Económica Montepio Geral. Em entrevista ao Diário de Notícias e à TSF, o provedor Edmundo Martinho prevê um investimento máximo de 40 milhões de euros e afirma que a instituição não ficará com a totalidade dos dois por cento que a Associação Mutualista pretende alienar. Martinho fala de um investimento “muito seguro”, que não coloca outros projetos em causa e que deverá ficar fechado em duas semanas.

Em declarações ao Diário de Notícias e à rádio TSF, Edmundo Martinho explica que este investimento vai permitir à Santa Casa ter “em princípio dois” representantes não-executivos no banco e participar na escolha, em conjunto com a Associação Mutualista, do presidente da Mesa da Assembleia Geral. Atualmente, este cargo é ocupado pelo Padre Vítor Melícias.

A Associação Mutualista é atualmente dona da totalidade do capital da Caixa Económica Montepio Geral. Há vários meses que a eventual entrada da Santa Casa no capital do banco está em discussão, tendo se falando numa investimento que poderia chegar aos 200 milhões de euros.

Na entrevista, o provedor da instituição afirma que os valores de que se tem falado são irreais. Edmundo Martinho faz referência a um investimento “até aos 30 a 40 milhões de euros” e esclarece que a Santa Casa não ficará com o total dos dois por cento do banco que a Associação Mutualista pretende alienar.

Na passada segunda-feira, em entrevista à RTP3, o presidente da Associação Mutualista tinha já avançado que o objetivo era que “muitas instituições da economia social” investissem no banco e ficassem com “até dois por cento do capital da Caixa Económica Montepio Geral”, em troca de um investimento entre 45 e 48 milhões de euros.

Tomás Correia tinha ainda explicado que este investimento deveria ficar fechado no prazo de um mês. Na entrevista ao DN e TSF, o provedor da Santa Casa afirma que o negócio estará fechado nas próximas duas semanas.
"Não é um subsídio"
O sucessor de Santana Lopes considera que a entrada no banco é um “investimento” que permite à Santa Casa consolidar “a sua posição” e “retirar daí benefícios que se traduzam eles próprios em capacidade acrescida de intervir”.

O responsável da organização que detém o monopólio das lotarias em Portugal garante que a aposta no Montepio não é um “subsídio” nem um “apoio” e que esta participação ficará “por uma percentagem muito baixa dos ativos” da instituição. “É muito seguro do ponto de vista dos investimentos”, insiste Martinho. O provedor exclui ainda que esta aposta ponha em causa outros “investimentos avultadíssimos” que estão atualmente em curso.

A Caixa Económica Montepio Geral resulta da separação entre a Associação Mutualista e o banco Montepio Geral que foi exigida pelas autoridades nacionais. No último ano, a instituição financeira conseguiu regressar aos lucros: 30,1 milhões de euros, valor que compara com os prejuízos de 86,5 milhões de euros de 2016. Contudo, os lucros ainda não foram suficientes para poder distribuir dividendos à Associação Mutualista, devido aos prejuízos acumulados do passado.

Também as contas da Associação Mutualista têm estado envoltas em polémica. Em 2017, a dona do Montepio apresentou lucros superiores a 580 milhões de euros, um valor que contrasta com o resultado positivo de sete milhões de euros apurado no ano anterior. No entanto, este lucro só foi possível porque a associação perdeu a isenção de IRC a que tinha direito por ser uma instituição privada de solidariedade social.

Ao perder a isenção de IRS – na sequência de um pedido de informação feito pela própria Associação Mutualista ao Fisco -, a dona do Montepio viu 808,5 milhões de euros de impostos diferidos serem contabilizados como ativos. A instituição passou assim de previsíveis prejuízos de 221 milhões de euros para um lucro de 587,5 milhões de euros.

A Associação Mutualista é atualmente liderada por Tomás Correia. Esta semana, José Félix Morgado abandonou a liderança da Caixa Económica Montepio Geral, tendo sido substituído por Carlos Tavares, ex-presidente da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários. O mandato de Morgado, que estava à frente do banco desde 2015, ficou marcado por divergências com Tomás Correia, presidente da dona do banco.
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