Sindicato de motoristas de matérias perigosas acusa ANTRAM de "quebra de confiança"

por Joana Raposo Santos - RTP
O sindicato anunciou uma nova greve dos motoristas a partir do dia 23 de maio Miguel A. Lopes - Lusa

O Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) considera “uma quebra de confiança” o facto de a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) ter divulgado um alegado acordo de 700 euros de salário base quando, segundo o sindicato, o que ficou acordado foram 1.200 euros mensais. Para já, o SNMMP não quer voltar à mesa das negociações por considerar não existir “clima” para tal. O pré-aviso de greve já foi entregue e esta durará por tempo indeterminado.

Depois de, na terça-feira, uma reunião negocial ter terminado com um pré-acordo e um pacto de paz social de 30 dias, o sindicato recuou e veio anunciar uma nova greve dos motoristas a partir do dia 23 de maio.

De acordo com Francisco São Bento, presidente do SNMMP, o pré-aviso de greve foi entregue esta quarta-feira e paralisação durará por tempo intederminado. "Não há qualquer fim à vista para a greve, depende das negociações", declarou.

Pedro Pardal Henriques, vice-presidente do SNMMP, explicou que “não cabe na cabeça de ninguém que o sindicato viesse recuar de uma exigência de dois salários mínimos nacionais para 700 euros”, conforme anunciou a ANTRAM no dia seguinte à reunião.

Em declarações à RTP na manhã desta quinta-feira, Pardal Henriques considerou que a divulgação de uma proposta de 700 euros significa, “mais uma vez, má-fé, uma quebra de confiança nestas relações que coloca em causa a negociação”.

Assim sendo, o sindicato dá por finalizadas, “neste momento”, as negociações, por falta de “clima para se poder negociar”.

“Aquilo que estava pré-acordado, tal como dissemos quando terminou a reunião, era muito próximo destes dois salários mínimos nacionais”, com uma primeira atualização em janeiro de 2020 para cerca de 1.010 euros mensais, uma nova atualização em janeiro do ano seguinte para 1.100 euros e mais tarde, em 2022, para os 1.200 euros.
ANTRAM não voltará a comentar
A Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) declarou na noite de quarta-feira que não voltará a fazer comentários sobre as negociações com o sindicato dos motoristas de matérias perigosas.

"A ANTRAM apenas voltará a comunicar sobre a proposta que lhe foi apresentada, de forma presencial, aos seus associados, nas reuniões que irão decorrer já na próxima semana, bem como ao SNMMP (Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas) nas reuniões que vierem a ter lugar posteriormente", garantiu a associação em comunicado.

A ANTRAM “não teve o intuito de obstaculizar ou prejudicar as negociações que estão a decorrer com este sindicato num clima de boa-fé negocial”, sublinhou, depois de o sindicato a ter acusado de violar os princípios dessa boa-fé.

A associação, que horas antes tinha assinalado uma “clara mudança de postura” por parte do sindicato, declara-se "totalmente empenhada em dar continuidade ao bom clima negocial" e esclarece que apenas divulgou aos seus associados os principais pontos da proposta do sindicato “para evitar um escalar de dúvidas e agitação nas empresas”.
Governo quer evitar greve
O Governo português avançou esta quarta-feira à agência Lusa que irá continuar os esforços para que os motoristas de transporte de matérias perigosas e a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias se entendam e para que a greve de dia 23 seja desconvocada.

De acordo com uma fonte oficial do Ministério das Infraestruturas e da Habitação, o "Governo está em contacto" com as partes envolvidas na negociação.
Motoristas de mercadorias ponderam greve
O Sindicato Independente dos Motoristas de Mercadorias (SIMM) também pondera recorrer à greve. Jorge Cordeiro admite avançar com uma paralisação a partir de 27 de maio.

"Nós achamos um bocado estranho por parte da ANTRAM, e nós temos estado em conversação com o sindicato das matérias perigosas, e aquilo que eles nos comentaram não tem a nada a ver com aquilo que realmente saiu a público por parte da ANTRAM", confessou.

"Nós estamos solidários com eles. De qualquer das formas, vamos ter reunião com a ANTRAM no dia 13. Após a reunião, temos dez dias úteis para emitir o pré-aviso de greve e aí logo não vai coincidir [com a greve dos motoristas de matérias perigosas], mas será logo a seguir se essa for a única posição que nós pudermos tomar", acrescentou.
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