Subida de preços do gás na Europa

por Carla Quirino - RTP
Rebecca Naden - Reuters

Os preços do gás estão a aumentar devido a uma forte procura de Gás Natural Liquefeito pelos países asiáticos, baixas reservas europeias e aumento dos preços do carbono. É expectável que esses fatores mantenham os preços altos do gás durante o Inverno de 2021-2022, quando a necessidade é maior. Esperam-se prejuízos colaterais para os consumidores devido ao impacto do preços da energia, tanto na indústria em geral, como em particular, na alimentar.

A Europa está a entrar na temporada de inverno com armazenamento de 70-75 por cento de capacidade total, indicador de que está abaixo da média dos últimos cinco anos.

Soma-se a imprevisibilidade sobre o fornecimento da Rússia.

O gasoduto Nord Stream 2 ainda está em construção e fará a ligação entre Ust-Luga, na Rússia, a Greifswald, na Alemanha. Transportará 55 mil milhões de metros cúbicos de gás por ano.

O percurso de 1200 quilómetros deste segundo gasoduto acompanha o já concluído sistema Nord Stream 1. Os dois juntos fornecerão um total de 110 mil milhões de metros cúbicos de gás para a Alemanha por ano.

Neste momento, os países europeus dependem da Rússia em 40 por cento para as necessidades de gás. Em agosto, a empresa estatal russa Gazprom anunciou que reduziria seu fornecimento de gás natural à Europa por causa de um incêndio numa área de processamento de gás na Sibéria.

Entretanto, a empresa norueguesa Equinor recebeu permissão para aumentar a produção de gás em dois campos na plataforma continental no Mar do Norte para abastecer o deficitário mercado europeu.

As licenças de produção para os campos de Oseberg e Troll foram aumentadas cada uma em mil milhões de metros cúbicos para o ano de gás que começa em 1º de outubro.
Ole Jørgen Bratland / Equinor ASA

A Noruega não pertence à UE mas é o maior fornecedor de gás natural da Europa, a seguir da Gazprom, da Rússia.

Por toda a Europa, os governos estão a procurar atenuar as acentuadas contas de energia das populações. A crise dos preços revelou a dificuldade no financiamento da mudança para as energias renováveis.
Em Espanha
O custo da eletricidade registou um aumento em 35% no último ano. Só em agosto subiu quase 8%.

"Eu pagava cerca de 40 euros por mês e agora estou a pagar 60", disse Amparo Vega, proprietária de um quiosque de jornais no centro de Madrid, à BBC. "Agora tentamos usar eletrodomésticos nas horas do dia em que é mais barato. Apagamos as luzes e tentamos aproveitar ao máximo a luz do dia", acrescentou.

O governo de Pedro Sánchez adotou várias medidas para reduzir as contas de electicidade, que estimam chegar aos 20% . Abrangem cortes de impostos e uma redução temporária nos lucros extraordinários obtidos por empresas de energia. Os fornecedores de energia renovável ficarão isentos.
Em Itália
"As minhas contas de energia aumentaram cerca de 15%, mas ouvi dizer que aumentarão cerca de 40% nos próximos meses. Isso mudará o comportamento das famílias italianas: teremos que calcular melhor as nossas despesas mensais para economizar nas contas" declarou Michele Fiorita, proprietário de uma loja em Roma.

Em Itália, cerca de 40 por cento da energia é gás natural. Metade é fornecida pela Rússia.

O impacto da redução do fornecimento russo e o aumento no preço das matérias primas energéticas estão atingir Itália fortemente.

O primeiro-ministro Mario Draghi disse que nos próximos três meses os "custos do sistema" serão eliminados das contas de gás e eletricidade e transformados em tarifas para ajudar a financiar a transição para a energia renovável.

O governo italiano diz já ter gasto 1,2 mil milhões de euros para atenuar o aumento dos preços às casas particulares e prometeu a soma de mais três mil milhões para ajudar durante o Inverno.

Michele Fiorita é da opinião de que a Itália precisará diversificar suas fontes de energia, para se afastar da dependência do gás. O caminho está na mudança para energia verde e sublinha que "Esse é certamente o futuro. É a única maneira de reduzir custos a longo prazo."
Na Polónia
O regulador de energia polaco já aprovou três aumentos de preços este ano. O impactos nas contas acentuou-se 20 por cento.

Segundo a análise feita pela BBC, o gás produzido é solo polaco é mais barato e fornece as residências. A política energética está regulamentada para proteger as famílias de alterações bruscas nos preços.

Já na indústria, o gás utilizado é importado e mais caro. Mas o carvão continua a ser o principal combustível a operar como motor da economia. A Polónia foi condenada a pagar uma multa por não desativar alguns centros produtivos e por isso está a dar passos para alterar as fontes de energia.

O governo vê o gás natural como combustível intermediário durante o processo de fecho das antigas centrais termoelectricas. Tem o foco no gás proveniente dos Estados Unidos e Noruega para diminuir a dependência do fornecimento russo.
Em Bruxelas
A crise energética está a colocar em causa os planos das políticas climáticas da UE. No entanto, os defensores de uma transição para uma economia mais verde argumentam que quanto mais rápido for a mudança, mais rápido os Estados membros podem escapar desse tipo de volatilidade.
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