Tarifas de Trump. Europa ainda espera alcançar acordo mas já prepara contramedidas

O comissário do Comércio da União Europeia, Maros Sefcovic, afirmou esta segunda-feira que vai levar por diante as negociações com os Estados Unidos, até porque rejeita desistir de um acordo sem “um esforço genuíno”. Caso contrário, admitiu, a imposição de tarifas de 30 por cento, tal como ameaçou Donald Trump, seria equivalente à eliminação do comércio entre europeus e norte-americanos. Entretanto, a UE diz-se preparada para aplicar o pacote de taxas retaliatórias no valor de 21 mil milhões de euros caso as negociações falhem, mas as contramedidas podem praticamente quadruplicar este valor.

Andreia Martins - RTP /
O comissário do Comércio da União Europeia, Maros Sefcovic, considera que a aplicação de tarifas por Washington seria “efetivamente proibitiva para o comércio mútuo”

Dois dias depois de Donald Trump ter anunciado a imposição de tarifas de 30 por cento sobre todos os produtos da União Europeia a partir de 1 de agosto, a União Europeia vinca que continua a trabalhar para alcançar um acordo que evite esse cenário. 

Durante o fim de semana, a presidente da Comissão Europeia afirmou que a Comissão Europeia vai procurar um entendimento, mas prometeu adotar “todas as medidas necessárias para salvaguardar” os seus interesses, o que inclui “a adoção de contramedidas proporcionais, se necessário”. 

Já está segunda-feira, o comissário europeu para o Comércio, Maros Sefcovic, espera que as discussões entre os negociadores norte-americanos e europeus decorram já esta segunda-feira.
“Pretendo voltar a falar com os meus homólogos norte-americanos ainda hoje, até porque não consigo imaginar-me a deixar este assunto neste momento sem fazer um esforço genuíno”, afirmou o responsável antes de uma reunião de ministros do Comércio da UE em Bruxelas. 

Segundo o comissário do Comércio, a aplicação de tarifas de 30 por cento por Washington seria “efetivamente proibitiva para o comércio mútuo” para o comércio entre UE e Estados Unidos.A UE e os EUA têm a maior relação bilateral de comércio e investimento e a relação económica mais integrada do mundo. Juntos, representam quase 30 por cento do comércio e 43 por cento do PIB mundial. Em 2024, o comércio transatlântico de mercadorias e serviços ultrapassou os 1,68 mil mihões de euros, segundo dados da Comissão Europeia

"Será quase impossível continuar o comércio como estamos habituados numa relação transatlântica. (...) As cadeias de abastecimento transatlânticas serão fortemente afetadas em ambos os lados do Atlântico", alertou.

Maros Sefcovic afirma que a Europa deve estar preparada “para todas as eventualidades, incluindo, se necessário, contramedidas proporcionais e bem calibradas para restaurar o equilíbrio na nossa relação transatlântica”. 

“A atual incerteza provocada por tarifas injustificadas não pode continuar indefinidamente”, destacou. “Farei tudo o que estiver ao meu alcance para evitar este cenário”, prometeu ainda.
“Se queres a paz, deves preparar-te para a guerra”
À entrada para a reunião de ministros do Comércio da UE em Bruxelas, o ministro dinamarquês dos Negócios Estrangeiros, Lokke Rasmussen, afirmou que a União Europeia não quer “uma escalada” da guerra comercial, mas deve preparar-se para o pior cenário. 

“Queremos um acordo, mas há um velho ditado: Se queres a paz, deves preparar-te para a guerra
, vincou o ministro dinamarquês, cujo país ocupa por esta altura a presidência rotativa do Conselho da União Europeia. 

Já o ministro francês responsável pelo Comércio, Laurent Saint-Martin, admitiu que a situação se alterou desde o anúncio de tarifas pelo presidente norte-americano no último sábado. 

“Obviamente, a situação após o último sábado deve levar-nos a mudar a nossa abordagem”, afirmou o ministro a partir de Bruxelas, considerando ainda que “não deve haver tabus” na discussão. 

Em entrevista ao jornal italiano Il Messagero, o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros e ex-presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, afirmou que a União Europeia está preparada para impor um conjunto de tarifas às importações norte-americanas no valor de 21 mil milhões de euros caso as negociações não cheguem a bom porto.

Para o MNE italiano, a situação deve levar inclusive a medidas de apoio à Zona Euro por parte do Banco Central Europeu (BCE) com um plano como o que foi alinhavado durante a covid-19 para “proteger as empresas”. 

Antonio Tajani espera que haja progresso nas negociações entre a União Europeia e os Estados Unidos, mas adiantou que a UE já está a preparar um novo pacote de tarifas para lá dos 21 mil milhões de euros. 

De acordo com o jornal Politico, os ministros europeus estão a preparar umo novo pacote de medidas retaliatórias que podem chegar aos 72 mil milhões de euros, que acrescem às tarifas de 21 mil milhões de euros ao aço e o alumínio, que foram adiadas. 

No domingo, a presidente da Comissão Europeia anunciou a suspensão das medidas retaliatórias contra as tarifas norte-americanas sobre o aço e o alumínio. A suspensão deveria expirar na noite de segunda para terça-feira. 

c/ agências
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