Grécia cede a prolongamento do empréstimo mas rejeita austeridade

por Christopher Marques, RTP
Na reunião do Eurogrupo da passada segunda-feira, Yanis Varoufakis e Jeroen Dijsselbloem não conseguiram chegar a entendimento. François Lenoir, Reuters

O Governo grego avança com um pedido de prolongamento do empréstimo por seis meses. No entanto, Alexis Tsipras reafirma a intenção de este não vir acompanhado pelas condições impostas no memorando de entendimento. Uma possibilidade que Berlim afirma não existir.

Um prolongamento do empréstimo. É esta a solução que o Governo de Tsipras vai seguir para pôr fim ao braço-de-ferro que se mantém entre a Grécia e o Eurogrupo. A intenção de pedir o prolongamento foi confirmada esta quarta-feira de manhã pelo porta-voz do Governo grego e deverá dar entrada na quinta-feira em Bruxelas.

Em entrevista à televisão Antenna TV, Gabriil Sakellaridis explicou que a Grécia pretende um prolongamento do empréstimo mas mantém a porta fechada aos termos do programa de resgate.

“Acreditamos que as condições do resgate não podem continuar de forma alguma”, disse o porta-voz do Governo helénico, afirmando que o mesmo acabou a 25 de janeiro, dia em que o Syriza ganhou as eleições. Uma imposição que vai ao encontro das declarações que Alexis Tsipras proferiu na terça-feira.

“Estamos a trabalhar para encontrar um acordo honrável que não inclua austeridade nem o memorando que destruiu a Grécia ao longo dos últimos anos”, disse o primeiro-ministro grego no Parlamento.

“Queremos um acordo que não inclua a presença tóxica da troika. Qualquer outra proposta não é um acordo, é uma rendição”, afirmou mesmo Tsipras.
“Fase crucial”
O pedido deverá ser entregue na quinta-feira pelo ministro das Finanças, Yanis Varoufakis. A partir daqui, caberá a Jeroen Dijsselbloem decidir se vale a pena convocar uma reunião do Eurogrupo, que, a confirmar-se, poderá realizar-se na sexta-feira.

Esta quarta-feira Alexis Tsipras afirmou mesmo que as negociações estavam já num ponto crucial e mostrava esperança em ver ultrapassadas as diferença

A intenção de solicitar um prolongamento do empréstimo foi anunciada na véspera de uma nova reunião dos governadores do Banco Central Europeu.

Um encontro em que será aprovada a continuação do programa de financiamento de emergência aos bancos helénicos.

Não é expetável que, para já, o BCE feche completamente a torneira às instituições financeiras gregas. No entanto, há alguma pressão do Bundesbank para que não se aumente o financiamento ao banco central da Grécia.
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“Houve movimentações na Europa no sentido de apoiarem as propostas da Grécia. Realizámos pela primeira vez contactos com os líderes internacionais no sentido de impulsionar uma atitude positiva face às nossas solicitações”, afirmou o primeiro-ministro durante um encontro com o Presidente da República helénica.

A esperança de Tsipras esbarra, no entanto, nas declarações que Wolfgang Schaüble proferiu na terça-feira. Berlim garante não haver empréstimo sem programa de resgate.

A questão “não é sobre o prolongamento do empréstimo, mas sim sobre se este programa de resgate será cumprido: sim ou não”, garantiu o ministro das Finanças da Alemanha na terça-feira, em entrevista à ZDF.

Mesmo que venha a merecer o parecer positivo do Eurogrupo, um prolongamento do empréstimo terá de ser aprovado por alguns parlamentos nacionais, nomeadamente pela assembleia alemã.
Braço-de-ferro
Sem memorando de entendimento, o Governo do Syriza deverá propor termos diferenciados, entre os quais uma política de combate à evasão fiscal. Fontes próximas do Ministério de Yanis Varoufakis indicam que Atenas deverá também aceitar um travão a decisões unilaterais.
  Fontes próximas do Governo grego revelaram à Reuters que o pedido de prolongamento é feito com base no documento apresentado pelo comissário europeu Pierre Moscovici.

Atenas afirma que  tinha conseguido chegar a entendimento com Moscovici, mas o rascunho foi descartado pelos ministros das Finanças da Zona Euro na reunião de segunda-feira.

Em contrassenso, esta é uma possibilidade que Alexis Tsipras parecia desafiar na terça-feira. Perante o Parlamento helénico, o primeiro-ministro anunciou que o Executivo avançaria com as medidas de cariz social prometidas durante a campanha eleitoral.

Segundo The Guardian, o Governo vai impedir a execução de hipotecas quando se trata de residências principais e reverter algumas das medidas de liberalização do mercado de trabalho.

As recentes notícias que chegam da Grécia e dos diretórios europeus parecem antever um novo braço-de-ferro nas negociações. Perduram as dificuldades em chegar a um entendimento, quando faltam poucas horas para que se esgote o prazo enunciado pelo Eurogrupo. Os ministros das Finanças dos países da moeda única deram até sexta-feira a Atenas para que solicite o prolongamento do resgate.

Nas últimas horas, várias personalidades vieram a público pedir ao Governo grego que consiga um entendimento. O primeiro-ministro italiano, o Presidente cipriota e o presidente da Comissão Europeia apelaram ao compromisso, tal como o ministro das Finanças do Luxemburgo.

“Não podemos continuar num bloqueio. Todos têm de ceder um pouco, renunciar a algumas exigências de forma a conseguirmos encontrar um compromisso”, disse Pierre Gramegna.
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