Grécia e Europa põem as cartas na mesa para tentar chegar a acordo

por Christopher Marques, RTP
Depois do périplo pelas capitais europeias, Yanis Varoufakis participa esta quarta-feira na reunião do Eurogrupo, presidida pelo holandês Jeroen Dijsselbloem Kostas Tsironis, Reuters

Frente-a-frente. Os 19 ministros das Finanças da Zona Euro reúnem-se pela primeira vez desde o advento do Syriza ao poder na Grécia. Esta quarta-feira Atenas apresenta o seu plano aos restantes 18 países da moeda única. A Europa procura o entendimento possível numa semana que se afigura decisiva para a permanência da Grécia no bloco.

Depois das visitas isoladas, são esta quarta-feira colocadas as cartas na mesa. A partir das 16h30 em Lisboa, os 19 ministros das Finanças dos países da Zona Euro reúnem-se na capital belga para tentar chegar a acordo em relação à Grécia.

Na melhor das hipóteses, os países da Zona Euro seriam capazes de esboçar um acordo de entendimento. Uma proposta que poderia ser validada quinta-feira na reunião do Conselho Europeu, onde têm assento todos os chefes de Estado e governo da União Europeia.

Uma aprovação que permitiria fechar o compromisso na próxima segunda-feira, quando os ministros das Finanças dos países da moeda única voltarem a reunir-se. Tudo a tempo de alguns parlamentos nacionais, como o alemão e o finlandês, se poderem pronunciar e o programa entrar em vigor no princípio de março, evitando que a Grécia entre em default.

Uma calendarização perfeita. Não esbarrasse ela nas divergências que separam a Grécia dos restantes Estados-membros.
Divergências
A divergência greco-alemã subiu de tom nos últimos dias. Alexis Tsipras recordou a dívida alemã perante a Grécia, uma declaração que os germânicos não terão apreciado. Também Schaüble endureceu o tom na terça-feira, ao afirmar que não pretendia “negociar um novo programa” de apoio, uma vez que já há um vigor.

Questionado sobre o facto da Grécia pretender abdicar da última parcela do financiamento da troika, no valor de 7,2 mil milhões de euros, a resposta de Schäuble foi incisiva.

“Muito bem. Nunca a impusemos. Não há problema. Assim sendo, está tudo acabado”, declarou o ministro das Finanças da Alemanha.

Esta quarta-feira o presidente do Eurogrupo garantiu que qualquer alteração ao programa de resgate da Grécia deverá estar de acordo com o programa em vigor.

“Um acordo é um acordo”, disse Jeroen Dijsselbloem no Parlamento holandês, referindo ainda que “só no enquadramento do programa, é que algumas medidas poderiam ser substituídas por outras”.  Plano Varoufakis
Alexis Tsipras acabou o seu discurso de terça-feira manifestando “esperança” que se chegue a um acordo com os parceiros europeus.

Atenas garante ainda não querer cortar totalmente com o memorando de entendimento. Afirma mesmo querer preservar 70 por cento das medidas. O problema estará mesmo nos 30 por cento que Varoufakis quer deixar para trás. Medidas “tóxicas”, apontam os dirigentes helénicos.

“Não vamos deitar fora o atual programa, nem eles vão exigir a sua implementação cega, como se as eleições nunca tivessem ocorrido. Em vez disso, continuaremos a negociar os diversos elos, para que haja um contrato, um período de transição e uma ponte entre ambas as propostas”, declarou o ministro grego das Finanças no Parlamento.
Reportagem de Alexandra André, Carlos Valente, Sónia Lourenço – RTP

Atenas pretende beneficiar de um período de transição de quatro a seis meses, durante o qual será negociado um novo acordo europeu. Para este período, os líderes gregos tentam conseguir financiamento europeu, mas não fecham as portas a recorrer aos Estados Unidos, à China ou à Rússia.

A sugestão do ministro grego das Finanças é que o país possa ir buscar 1,9 mil milhões de euros aos bancos nacionais da Zona Euro, defendendo que se tratam de lucros conseguidos através da compra de obrigações gregas. O restante financiamento viria do fundo que se encontra disponível para a recapitalização da banca grega, no valor total de oito mil milhões de euros.

Quanto à parte do programa da troika que a Grécia considera “tóxica”, os dirigentes helénicos deverão apresentar dez medidas alternativas que permanecem, por enquanto, desconhecidas. Propostas que deverão ser negociadas com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, com a qual Tsipras estabeleceu um novo acordo.
Uma nova aliança
A OCDE e a Grécia vão trabalhar juntas para avançar com um plano de reformas que permita relançar o crescimento da economia. O acordo foi anunciado poucas horas antes do início da reunião do Eurogrupo.

“Uma comissão de cooperação entrará em funcionamento para elaborar um acordo para reformas que vão relançar o crescimento (…) e terão um objetivo social”, afirmou Alexis Tsipras, citado pela France Presse.

O primeiro-ministro grego garante que este programa não será realizado tendo por base os planos de ajuda anteriores, mas será fundado no “mandato popular” e no que foi anunciado no discurso do passado domingo. O secretário-geral da OCDE garante que a organização quer trabalhar “com e pela Grécia”.

“Não estamos aqui para dizer à Grécia o que ela deve fazer, mas para lhe dar as ferramentas já usadas por outros governos para resolver os mesmos problemas”, declarou o Angel Gurría no fim do encontro.

Alexis Tsipras obtém um importante contributo, que vem juntar-se ao apoio popular dos gregos, agora oficializado com o voto de confiança do Parlamento.
Confiança Grega
O voto do Parlamento traduz a confiança que foi dada ao Syriza nas urnas. Na terça-feira o Governo de Alexis Tsipras recebeu o apoio dos 149 deputados do seu próprio partido e dos 13 parlamentares do partido dos Gregos Independentes, parceiro de coligação. Ao todo, Tsipras mereceu o voto de confiança de 162 dos 299 deputados gregos. “Schaüble e Samaras bem que nos podem pedir de todas as formas, não solicitaremos uma extensão do programa de ajuda à Grécia. Enquanto teremos o apoio do povo, não iremos ceder à chantagem e ninguém nos assustará”, afirmou Tsipras no Parlamento.

Um apoio do povo que, indicam as sondagens, é bem mais do que mera retórica. Segundo Le Monde, uma investigação da Universidade da Macedónia para a televisão grega Skaï tv refere que 72 por cento da população aprova a estratégia de rejeição do programa da troika seguida pelo Governo do Syriza.

Sondagens divulgadas esta terça-feira, referidas pela France Presse, referem que oito em cada dez gregos tenha apreciado o discurso de apresentação do programa de Governo que Alexis Tsipras fez no passado domingo.

Percentagens superiores às obtidas pelo Syriza nas eleições de 25 de janeiro. Uma aprovação interna que dá uma maior legitimidade ao Governo de Atenas. Os próximos dias dirão se esta legitimidade será suficiente para obter um acordo na Europa. Em caso contrário, a saída da moeda única não está fora do baralho.
O fantasma do Grexit
É apresentada como a solução que não interessa a ninguém, mas é uma possibilidade que preocupa as autoridades. Segundo La Tribune, o Reino Unido já estabelece uma política para seguir caso o “Grexit” se concretize.

“Pedimos às partes deste diferendo para que encontrem uma solução comum”, declarou George Osbourne na passada segunda-feira, avançando ainda que o Reino Unido se prepara para “qualquer eventualidade”.

Uma eventual saída da Grécia da Zona Euro terá mesmo sido abordada numa reunião realizada na passada segunda-feira. Uma fonte ministerial confiou à Reuters que a sessão foi presidida por David Cameron, na qual terão participado dirigentes dos ministérios das Finanças e do Banco de Inglaterra.

A saída da Grécia da moeda única é apontada como perigosa para os países da moeda única e poderia mesmo ser fortemente problemática para o Estado helénico.

“Seria, provavelmente, uma catástrofe económica para a Grécia, que subiria uma forte desvalorização ao regressar ao Dracma”, escreve Le Monde. Um risco existente, mas reduzido acredita-se em Bruxelas.
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