Governo calcula que greve dos pilotos provocou prejuízo de 35 milhões de euros na TAP

por Christopher Marques - RTP
"Nunca uma greve na TAP teve uma adesão tão baixa", assegura Pires de Lima Miguel A. Lopes, Lusa

O ministro da Economia fez esta segunda-feira o balanço da paralisação de dez dias dos pilotos da TAP. “Nunca uma greve na TAP teve uma adesão tão baixa”, afirmou Pires de Lima, garantindo que “a TAP continuou a voar”. Apesar da “baixa adesão”, o Governo calcula que a greve provocou um rombo de 35 milhões de euros nas contas da TAP e não avança, para já, com estimativas para o prejuízo causado à economia nacional e ao turismo.

Uma greve “irresponsável”, fruto de um comportamento “radical” da direção do sindicato. O ministro da Economia voltou a criticar fortemente a direção do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), responsável pela convocação da greve de dez dias que chegou este domingo ao fim. Pelos cálculos apresentados por Pires de Lima, a paralisação provocou um rombo de 35 milhões de euros nos cofres da transportadora.

“Estamos a falar de quase 25 milhões de euros de receitas perdidas, a que se devem somar cerca de dez milhões de euros de custos em dormidas, refeições e outras despesas de encaminhamento”, explicou o governante. O Governo garante não ter conhecimento da desistência de nenhum potencial interessado na privatização da TAP.

“Só pode desistir quem já fez uma proposta”, o que ainda não aconteceu, explicou Pires de Lima.

Sérgio Monteiro recusou-se a especular sobre um eventual impacto da greve nos interessados na privatização, preferindo esperar até sexta-feira, último dia para apresentação de propostas.


O ministro da Economia afirmou que esta greve veio tornar mais frágil a já difícil situação financeira da companhia. O Governo aguarda agora que, na próxima semana, a direção da TAP apresente propostas para “mitigar essa fragilidade” e “dar um novo fôlego de tesouraria à empresa”.

A solução deverá passar por uma política comercial mais agressiva para repor a relação de confiança com os clientes, mas também por uma redução de custos, como resposta à redução da atividade em relação ao período que antecedeu a paralisação, explicou Sérgio Monteiro.

Quanto aos danos da greve na atividade económica e, especialmente, no turismo, o Governo diz não ter ainda um balanço quantificado, embora refira que o número de passageiros a aterrar nos aeroportos nacionais diminuiu em relação aos meses anteriores e ao que seria de esperar.
"A TAP continuou a voar"

Apesar dos prejuízos causados, Pires de Lima afirmou que “nunca uma greve na TAP teve uma adesão tão baixa”, pedindo à direção do sindicato que “tire as suas conclusões e aceite as devidas consequências”.
“Os números falam por si. Para além dos 278 voos de serviços mínimos, foram efetuados entre 1 e 10 de maio, mais 1739 voos. No total, o grupo TAP realizou 2017 voos durante o período que durou a greve”, anunciou o ministro.

Pelos cálculos apresentados pelo executivo, foram operados quase 70 por cento dos voos programados para o período da paralisação. Uma percentagem que é superior quando apenas contabilizados os voos realizados sob a insígnia TAP – seguiram viagem cerca de 80 por cento dos voos da TAP previstos, confirmando que houve uma maior adesão na Portugália.

“Mais de 80 por cento das pessoas que tinham confiado a sua viagem à TAP chegaram, através da TAP, ao seu destino”, assegurou ainda o ministro da Economia.

“Apesar da irresponsabilidade da direção do SPAC, a TAP continuou a voar entre 1 e 10 de maio”, atacou Pires de Lima.
Nova greve é “totalmente impensável”
O ministro da Economia considera que a paralisação de dez dias veio complicar uma situação financeira já difícil da transportadora aérea nacional. Uma greve “fracassada”, defende, mas que teve custos importantes. Este é o motivo pelo qual uma nova paralisação é, para o governante, “totalmente impensável”.

“Eu não quero acreditar, sequer, nessa possibilidade. Não acredito nela, acho que a larguíssima maioria dos pilotos do grupo TAP se demarcou das atitudes irresponsáveis, do comportamento radical da direção da SPAC”, defendeu o ministro.

Pires de Lima relembra ainda que a direção do SPAC transformou o acordo de dezembro, formalizado em janeiro, em “letra morta”. O governante garante que o executivo cumpre “escrupulosamente” o acordo assinado e assim continuará.

“O Governo vai continuar a cumprir o acordo que tem com os sindicatos que honraram o compromisso que assinaram com o Governo”, promete.
A resposta do sindicato
Após a conferência de imprensa de Pires de Lima, a resposta do sindicato dos pilotos não se fez esperar. Em comunicado enviado às redações, a direção do SPAC defende que os pilotos “não podem ficar reféns de gente que não cumpre os acordos, mente deliberadamente e manipula a informação em desespero de causa”.

A estrutura sindical considera que o processo de privatização em curso “não oferece as necessárias garantias de estabilidade e de continuidade do nível de emprego”, e acusam o Governo de ter utilizado o acordo de dezembro para “iludir o SPAC e os pilotos”.

O SPAC acusa ainda o Governo de nada ter feito perante a “delapidação de 800 milhões de euros infligida à TAP pela Administração nos últimos anos”.

De acordo com o SPAC, o acordo não garante “a preservação nem o cumprimento dos acordos de empresa por um período de 36 meses”. Refere a direção do sindicato, que o caderno de encargos da privatização não define sanções para o incumprimento do acordo de dezembro, o que o torna “inconsequente”.

“Ou seja, os investidores podem revogar os acordos de empresa prematuramente sem que daí resultem consequências”, defende o sindicato no comunicado.

O sindicato promete vir a desenvolver “todas as diligências necessárias e suficientes” na oposição ao que classificam de “opaco e desastroso” processo de privatização.



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