Após ataques russos. Ucrânia tenta restaurar rede elétrica

por Cristina Sambado - RTP
Oleg Petrasyuk - EPA

Grande parte do território ucraniano permanece sem eletricidade, após ataques russos à rede de energia. Em Kiev, os habitantes foram alertados para se prepararem para mais bombardeamentos e armazenarem água e roupas quentes.

Moscovo reconhece os ataques às infraestruturas básicas e afirma que o objetivo é reduzir a capacidade de luta da Ucrânia e empurra-la para negociações. Kiev reafirma que são crimes de guerra.

“Juntos sofremos nove meses de guerra e a Rússia não encontrou uma forma de nos vencer, nem irá encontrar”, afirmou Volodymyr Zelensky no seu tradicional discurso noturno.

O presidente ucraniano acusou também a Rússia de bombardeamentos intensivos em Kherson, uma cidade no sul da Ucrânia que as tropas russas abandonaram no início do mês. Sete pessoas morreram e 21 ficaram feridas em mais um ataque de Moscovo na quinta-feira.

Imagens de satélite da NASA mostram a Ucrânia como uma mancha escura durante a noite.
Zelensky revelou que a energia elétrica, abastecimento de água e comunicações estavam gradualmente a ser repostos. No entanto, esta sexta-feira ainda existem problemas de abastecimento de água em 15 regiões.

Na capital Kiev, uma cidade com três milhões de habitantes, 60 por cento da população estava sem energia elétrica, numa altura em que os termómetros chegam a temperaturas negativas.

“Compreendemos que ataques com mísseis podem voltar a acontecer. Temos de estar preparados para qualquer eventualidade”, sublinhou Vitaly Klitschko, o presidente da câmara de Kiev.

As autoridades criaram centros de emergência onde a população pode carregar os telemóveis, aquecer-se e obter bebidas quentes.

O diretor europeu da Organização Mundial da Saúde confirma que mais de 700 instalações hospitalares ucranianas já foram atingidas por ataques russos.
Os profissionais trabalham em condições extremamente difíceis para tentar salvar vidas. Há operações de risco, como as cirurgias cardíacas, feitas muitas vezes praticamente às escuras.

Os ataques russos mataram 11 pessoas na quinta-feira e pela primeira vez, em 40 anos, as centrais nucleares ucranianas foram encerradas. Quinta-feira passaram nove meses desde que Moscovo lançou o que apelidou de “operação militar especial”. A Ucrânia e os seus aliados afiram que a invasão é uma guerra não provocada.

Desde o início de outubro, Moscovo tem lançado mísseis uma vez por semana, com o objetivo de destruir a rede elétrica na Ucrânia.

Em declarações ao Financial Times, o presidente ucraniano afirmou que os ataques desta semana criaram uma situação que não se viveu durante 80 ou 90 anos – “um país no continente europeu completamente às escuras”.

Na quinta-feira, na central nuclear de Khmelnytskyi um reator foi religado à rede. E segundo a empresa de energia nuclear ucraniana Energoatom, o mesmo aconteceu na central de Zaporizhia, em território ocupado pelas forças russas.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, continua a apontar o dedo a Kiev e acrescentou que “os ucranianos estão a sofrer porque se recusam a ceder às exigências de Moscovo”. Milhares de desaparecidos
Um responsável do gabinete da Comissão Internacional de Pessoas Desaparecidas (ICMP), sediada em Haia, revelou que desde a invasão russa “mais de 15 mil pessoas desapareceram”.

Segundo o diretor do programa ICMP na Europa, Matthew Holliday, “não é claro quantas pessoas tinham sido transferidas para à força, quantas estavam detidas na Rússia, quantas estavam vivas e separadas dos seus familiares, ou quantas tinham morrido ou sido enterradas em sepulturas improvisadas”.
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