Aumenta a pressão sobre Berlim para fornecimento de tanques à Ucrânia

por Joana Raposo Santos - RTP
Os países que têm já na sua posse tanques de fabrico alemão estão a aguardar pela permissão de Berlim para poderem enviá-los à Ucrânia. Radovan Stoklasa - Reuters

O Governo alemão nomeou esta terça-feira Boris Pistorius para o cargo de ministro da Defesa, um dia depois da demissão da ministra Christine Lambrecht. O novo governante recebe a pasta numa altura de crescente pressão sobre Berlim para o fornecimento de tanques Leopard 2 à Ucrânia. Vários países que já aceitaram ceder estes tanques a Kiev estão neste momento a aguardar aprovação para o envio, da qual necessitam por se tratar de equipamentos de fabrico alemão.

Até agora, a Alemanha tem sido cautelosa quanto à aprovação do envio de tanques Leopard, temendo que essa ação possa ser vista como uma escalada na guerra.

"Há decisões importantes a serem feitas a curto prazo, em particular a urgente questão de como continuamos a apoiar a Ucrânia no seu direito de autodefesa", defendeu o vice-chanceler e ministro alemão da Economia, Robert Habeck. "A Alemanha tem responsabilidade nesta questão e tem grandes tarefas a cumprir".

O primeiro grande desafio de Boris Pistorius enquanto ministro será na sexta-feira, dia em que aliados ocidentais se vão reunir na base militar dos EUA em Ramstein, no sudoeste da Alemanha, para discutir o fornecimento de mais armas e equipamentos militares a Kiev.

Neste momento, outros países que têm já na sua posse tanques de fabrico alemão estão a aguardar pela permissão de Berlim para poderem enviá-los à Ucrânia. É o caso da Polónia, cujo primeiro-ministro, Mateusz Morawiecki, já pediu à Alemanha que agisse rapidamente.

“Hoje, os ucranianos estão a lutar não apenas pela sua liberdade, mas para defenderem a Europa”, considerou o chefe do Governo polaco em visita a Berlim, citado pela agência de notícias PAP. “[O Governo alemão] deve agir rapidamente para entregar todos os tipos de armas à Ucrânia”.

A Polónia disse pretender enviar a Kiev 14 tanques Leopard 2. Também a Finlândia colocou em cima da mesa a hipótese de enviar tanques à Ucrânia, mas relembrou que tal depende da aprovação alemã.

O presidente da Letónia, Egils Levits, disse por sua vez que o Ocidente precisa de acelerar o processo de envio de armamento, uma vez que a Rússia está alegadamente a preparar uma nova ofensiva contra a Ucrânia em fevereiro e março. “A Ucrânia deve ter todas as armas e apoio necessários para resistir a esta ofensiva”, declarou à Al Jazeera em Davos, na Suíça, onde decorre neste momento o Fórum Económico Mundial.

“Portanto, todos os tanques devem ser entregues à Ucrânia assim que possível”, acrescentou.

Os apelos chegam depois de o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, ter insistido na necessidade de mais armas após um novo ataque com mísseis em Dnipro. Pelo menos 40 pessoas que se encontravam no edifício residencial atingido morreram e várias continuam desaparecidas.

Parte da demora na decisão alemã reside no facto de a Rheinmetall, empresa que fabrica os tanques Leopard, ter explicado que estes equipamentos não estarão prontos para serem entregues até 2024.

“Mesmo que a decisão de enviar os nossos tanques Leopard para Kiev chegasse amanhã, a entrega apenas poderia começar no início do próximo ano”, avançou o presidente-executivo da Rheinmetall, Armin Papperger, ao jornal Bild am Sonntag.
Quem é Boris Pistorius?
O novo ministro alemão da Defesa, Boris Pistorius, tem 62 anos e terminou a carreira militar no início dos 1980. Desde 2013 que estava no cargo de ministro do Interior da Baixa Saxónia e trabalhava diretamente com as Forças Armadas do país.

Tal como o chanceler Olaf Scholz, também Pistorius - conhecido por ter uma postura firme nos assuntos de segurança do país - concorreu à liderança do Partido Social-Democrata alemão em 2019, sem sucesso.

Esta terça-feira, depois de ser formalmente nomeado, disse ter noção da importância do cargo que vai ocupar. "Quero tornar as Forças Armadas fortes para os tempos que se seguem", assumiu. Pistorius deverá receber o homólogo norte-americano, Lloyd Austin, em Berlim na quinta-feira.


Olaf Scholz veio já descrever o novo ministro como um "amigo" e um "bom político". "É alguém com uma imensa experiência em políticas de segurança, tendo cooperado aberta e proximamente com o Bundeswehr (Forças Armadas) durante o seu anterior cargo e possuindo a força e a calma necessárias para esta grande tarefa", declarou.

Pistorius foi, no passado, membro do grupo de amizade germano-russo da câmara alta do Bundesrat (Parlamento), antes de este ter sido dissolvido, em abril do ano passado. No entanto, o novo ministro disse já condenar os "ataques brutais" de Moscovo contra Kiev e considerou que os simpatizantes russos na Alemanha não devem glorificar a guerra.

O novo ministro entra em funções num momento crucial, depois da criação de um fundo especial de 100 mil milhões de euros para as Forças Armadas que tem, agora, à sua disposição. Depois de décadas de baixo investimento, há agora a expectativa de renovação dos equipamentos militares alemães, entre os quais os tanques Puma que foram postos de parte após serem detetados problemas com os mesmos durante um exercício militar.

Recentemente, Olaf Scholz prometeu aumentar os gastos com Defesa para mais de dois por cento das receitas desse setor.

c/ agências
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