Putin duvida que Ucrânia esteja pronta para negociar paz e acusa Europa de "assalto"

O presidente russo não acredita que a Ucrânia esteja pronta para negociações de paz, ao contrário da Rússia, que está "pronta e disposta" a pôr termo ao conflito.

Inês Moreira Santos - RTP /
Alexander Kazakov - Reuters

Entre críticas à ajuda europeia à Ucrânia, na conferência de imprensa anual para fazer um balanço do ano, Vladimir Putin afirmou que Moscovo não acredita que Kiev esteja pronto a negociar o fim do conflito. Já a Rússia, assegurou o líder russo, quer pôr termo à guerra pacificamente, com base nos princípios que estabeleceu no Ministério dos Negócios Estrangeiros em 2024.

Putin começou a intervenção, transmitida nas televisões russas, a culpar a Ucrânia pela continuidade da guerra e por se recusar a “terminar este conflito por meios pacíficos”. Ainda assim, admitiu que do lado ucraniano tem havido “alguns sinais” que indicam que Kiev pode querer entabular “algum tipo de diálogo”.

“Até agora, não vemos realmente essa disposição [da Ucrânia para negociações de paz]”, afirmou. “A única coisa que quero dizer é que sempre dissemos isso: estamos prontos e dispostos a encerrar este conflito pacificamente, com base nos princípios que delineei no Ministério das Relações Exteriores da Rússia, e abordando as causas profundas que levaram a esta crise”.

Princípios esses que, há um ano, foram rejeitados pela Ucrânia por serem “maximalistas e irrealistas” e por exigirem concessões territoriais - reivindicações de Moscovo no leste da Ucrânia que são uma das condições recusadas pelas autoridades de Kiev para um acordo de paz.
Putin repetiu então que Kiev ainda não está preparada para abordar a questão territorial, o principal obstáculo nas negociações de paz.

Depois das acusações a Kiev, o presidente russo anunciou que as tropas de Moscovo estão a avançar em todas as frentes no território do país vizinho.

“As nossas tropas avançam em toda a linha de contacto (…), o inimigo recua em todas as direções”
, declarou ao país.

Questionado pelos presentes na conferência sobre as negociações de paz, Putin elogiou os "esforços sérios de Donald Trump para concluir este conflito", considerando o presidente dos Estados Unidos "honesto" na tentativa de pôr fim à guerra.

Ainda segundo Putin, a Rússia foi solicitada a fazer algumas concessões durante as negociações com Trump e que, em linhas gerais, concordou com estas. Por isso, sublinhou: "Dizer que rejeitamos ou recusamos qualquer coisa é inapropriado e infundado".

“A decisão está inteiramente nas mãos dos nossos supostos opositores ocidentais, do chefe do regime de Kiev e dos seus patrocinadores europeus”, afirmou.
Proposta europeia para apoiar Ucrânia é “roubo”
Em Bruxelas, os líderes europeus estão, desde quinta-feira, a debater formas de continuar a ajudar financeiramente a Ucrânia. Uma das hipóteses em cima da mesa era usar ativos russos congelados em países da União Europeia, mas os 27 deixaram cair a proposta de utilizar as receitas dos recursos russos congelados e depositaram os olhos na proposta de um empréstimo de 90 mil milhões de euros.

Contudo, a Comissão Europeia advertiu que a Ucrânia só vai pagar este empréstimo quando a Rússia pagar as reparações pela guerra que começou em 2014 e que se agravou em 2022.

Em reação às negociações europeias, o presidente russo considerou que seria um “roubo” usar ativos russos congelados. Segundo Vladimir Putin, os líderes europeus não chegaram a um acordo por temerem que "as consequências pudessem ser muito duras para os ladrões".

Putin clarificou ainda que "roubo é a palavra errada" para descrever a política europeia. E explicou: “Um roubo é um furto secreto de propriedade. Mas aqui eles tentam fazê-lo abertamente. É um assalto. Mas por que eles estão a falhar? Porque as consequências serão severas”.

Se a medida fosse aprovada, acrescentou Putin, teria minado a confiança na zona do euro, criando um precedente preocupante que poderia ser usado indevidamente no futuro contra outros países ou grupos.

“Não importa o que eles roubem, mais cedo ou mais tarde, terão que devolver, e o mais importante, vamos recorrer à justiça para proteger os nossos interesses. Faremos o possível para encontrar uma jurisdição independente do contexto político”, advertiu.
Estabilidade económica russa apesar das sanções
No mesmo discurso, Vladimir Putin anunciou que a Rússia conseguiu equilibrar o orçamento e tem um saldo ao nível de 2021, antes da guerra com a Ucrânia, que desencadeou sanções económicas ocidentais contra Moscovo.

Segundo o presidente da Rússia, é um indicador fundamental da estabilidade da economia e do sistema financeiro do país -estabilidade que permitirá alcançar vários objetivos no âmbito de projetos nacionais e satisfazer as necessidades das forças armadas.

"Tudo isto, em conjunto, dá motivos para falar sobre a estabilidade da economia", afirmou, citado pela agência de notícias russa Ria Novosti.Os aliados da Ucrânia têm imposto sanções contra os interesses russos para tentar diminuir a capacidade de Moscovo para financiar o esforço da guerra que iniciou em fevereiro de 2022.

Recentemente, a União Europeia (UE) concordou em suspender progressivamente as importações de Gás Natural Liquefeito (GNL) e gás por gasoduto da Rússia. O objetivo é uma proibição total das importações russas para a UE até ao final de 2027.

A conferência de imprensa anual, transmitida em direto, é combinada com um programa de perguntas e respostas de cidadãos de todo o país, oferecendo aos russos a oportunidade de questionarem Putin, que lidera a Rússia há 25 anos. O líder russo tem utilizado este evento para consolidar o poder e expor a sua visão sobre assuntos internos e globais.
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