UNRWA. Guterres nomeia comité independente para analisar agência da ONU

por Andreia Martins - RTP
Palestinianos recebem sacos de farinha distribuídos pela Agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA). Fotografia de 21 de novembro de 2023 Ibraheem Abu Mustafa - Reuters

O secretário-geral da ONU anunciou esta segunda-feira a criação de um comité independente que irá avaliar a neutralidade e o funcionamento da agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos (UNRWA). A decisão surge na sequência da polémica que envolve o organismo, com pelo menos 12 funcionários regionais acusados por Israel de terem estado envolvidos no ataque do Hamas, a 7 de outubro.

A controvérsia crescente tem levado à retirada de apoios financeiros por parte de vários países, incluindo de alguns dos principais doadores, o que poderá colocar em causa a continuidade da própria agência.

O grupo hoje nomeado será liderado por Catherine Colonna, ex-ministra francesa dos Negócios Estrangeiros, com a colaboração de três centros de investigação: o Instituto Raoul Wallenberg, na Suécia, o Instituto Chr. Michelsen, da Noruega e Instituto Dinamarquês para os Direitos Humanos.

Segundo o comunicado do secretário-geral das Nações Unidas, este comité deverá determinar se a agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos “está a fazer tudo ao seu alcance para garantir a neutralidade e responder às acusações de abusos graves, caso tenham sido cometidos”.

No final de janeiro, Israel acusa um total de 190 dos 13 mil funcionários da UNRWA de pertencerem ao Hamas ou à Jihad Islâmica. Para Telavive, 12 destes funcionários estiveram envolvidos no ataque de 7 de outubro, levado a cabo pelo Hamas, que provocou mais 1.200 mortes e fez mais de 200 de reféns.

Na primeira reação a este caso, António Guterres disse ter ficado "horrorizado com as acusações", mas apelou à continuação das operações da agência.
À procura de novas doações
Numa altura em que ainda se procura esclarecer as circunstâncias deste caso, Estados Unidos, a Alemanha, o Reino Unido ou a Suécia são alguns dos países que já anunciaram, ao longo dos últimos dias, a suspensão do financiamento. Em contra corrente, Portugal confirmou na sexta-feira que irá doar mais um milhão de euros para apoiar a agência, assim como Espanha, que anunciou esta segunda-feira 3,5 milhões de euros adicionais para a mesma instituição.

Doações extraordinárias que chegam num momento em que a UNRWA corre o risco de se ver obrigada a cessar funções já no final de fevereiro. Na última semana, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde alertou que a suspensão de financiamento teria “consequências catastróficas”.

Philippe Lazzarini, comissário-geral da UNRWA, realiza por estes dias um périplo por vários países do Golfo, onde procura arrecadar financiamento que compense as várias suspensões dos doadores anunciadas nos últimos dias.

O responsável reuniu hoje mesmo com Sheikh Abdullah bin Zayed Al Nahyan, ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emirados Árabes Unidos. De acordo com a agência Reuters, o Catar e o Kuwait serão os próximos destinos.
Relatório final em abril

Em comunicado, António Guterres realçava esta segunda-feira que a agência das Nações Unidas agora sob avaliação exterrna é “a organização mais importante da ONU na região” e que está “a trabalhar em condições muito difíceis para ajudar os dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza que dela dependem para sobreviver”, no contexto atual de crise humanitária que é “uma das mais complexas do mundo”, acrescenta.

O comité independente agora nomeado inicia os trabalhos a 14 de fevereiro e terá até ao final de março para apresentar um relatório intercalar ao secretário-geral das Nações Unidas sobre a UNRWA. Um mês depois, até ao final de abril, deverá apresentar um documento definitivo, que será tornado público, no qual deverão constar recomendações para “melhorar e reforçar” os mecanismos daquela agência, se entender que tal é necessário.

Para além do trabalho deste comité independente, a ONU tem também um curso uma investigação interna iniciada em janeiro pelo Gabinete de Serviços de Supervisão Interna, após serem conhecidas as alegações de Israel contra os funcionários da UNRWA.

Segundo a ONU e as autoridades de Gaza, mais de 26 mil pessoas morreram naquele enclave palestiniano desde a intensificação do conflito, na sequência do ataque do Hamas a 7 de outubro.
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