Conselho de Segurança marca reunião de emergência após matança em Gaza

por RTP
Reuters

O Conselho de Segurança da ONU reúne-se esta quinta-feira de emergência para discutir o incidente durante uma distribuição de alimentos na Faixa de Gaza, em que as forças israelitas mataram mais de 100 palestinianos que procuravam alimentação para as suas famílias. António Guterres já condenou o episódio em que ficaram ainda feridas outras 750 pessoas e manifestou-se "consternado com o trágico custo humano do conflito" no território.

O Conselho de Segurança Nacional dos EUA qualificou o ocorrido como um "grave incidente", quando "palestinianos inocentes apenas tentavam alimentar as suas famílias", e o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou não ter detalhes.

Em declarações divulgadas pela cadeia televisiva CNN, um porta-voz do Conselho de Segurança dos EUA afirmou que a matança em Gaza "sublinha a importância de aumentar e manter o fluxo de ajuda humanitária, inclusive através de um possível cessar-fogo temporário (...) Continuamos a trabalhar dia e noite para alcançar esse fim", acrescentou.

Entretanto, este novo episódio trágico para os palestinianos suscitou uma nota amarga de António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas.

"O secretário-geral condena o incidente de hoje no norte de Gaza, no qual mais de uma centena de pessoas são dadas como mortas ou feridas enquanto procuravam ajuda vital", disse o porta-voz de Guterres, Stéphane Dujarric, em comunicado.

"Os civis desesperados em Gaza precisam de ajuda urgente, incluindo os do norte sitiado, onde as Nações Unidas não conseguem fornecer ajuda há mais de uma semana", frisou.

Pelo menos 109 habitantes de Gaza morreram e 760 ficaram feridos durante a madrugada, enquanto aguardavam a chegada de ajuda humanitária transportada por uma caravana de 32 camiões, segundo o Ministério da Saúde, controlado pelo movimento islamita Hamas, que responsabilizou as tropas israelitas.

Por seu lado, o exército israelita disse hoje que se tratou de dois incidentes distintos: o primeiro em que não houve fogo israelita, mas uma multidão esfomeada terá saqueado e cercado os camiões que transportavam ajuda, fazendo-os recuar.

A "maioria das vítimas" ocorreu neste incidente com o camião, disse o porta-voz militar Peter Lerner numa videoconferência.

"Muitos foram atropelados, esmagados até à morte", disse, negando o envolvimento das forças militares.

Num segundo incidente, alguns metros mais a norte, na estrada que liga o sul e o norte de Gaza, e depois de os camiões se terem afastado, disse Lerner, um grupo indeterminado de habitantes de Gaza terá sido alvejado por soldados que os consideraram uma "ameaça numa zona de guerra".

"Foi uma resposta limitada, fogo limitado", disse Lerner, mas não deu uma estimativa do número de feridos ou mortos.

O subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Humanitários alertou que "a vida está a deixar Gaza a um ritmo aterrador", reagindo às muitas mortes registadas durante uma operação de distribuição de ajuda humanitária.

"Estou indignado com as informações segundo as quais centenas de pessoas foram mortas e feridas durante uma operação de transporte de ajuda humanitária para o oeste da Faixa de Gaza hoje", escreveu Martin Griffiths na rede social X.

"Mesmo após quase cinco meses de hostilidades brutais, Gaza ainda tem a capacidade de nos chocar", adiantou.

O Governo palestiniano tinha já acusado Israel pelo "massacre atroz" de civis.

Horas antes, as autoridades de Gaza indicaram que o "horrível massacre" na Cidade de Gaza, que causou mais de 100 mortos e 750 feridos, ocorreu "no contexto do genocídio e da limpeza étnica contra a população da Faixa de Gaza". "A ocupação teve a intenção premeditada de cometer este horrível massacre", acrescentaram.Cairo fala em "crime vergonhoso" de Israel

Egito e Jordânia também condenaram o ataque de Israel no sudeste da cidade de Gaza.

O Ministério egípcio dos Negócios Estrangeiros afirmou em comunicado que o "ataque contra cidadãos pacíficos que corriam para conseguir a sua parte de ajuda humanitária é um crime vergonhoso, uma violação flagrante das disposições do direito internacional e um desrespeito pelo valor do ser humano".

O organismo instou a comunidade internacional e o Conselho de Segurança das Nações Unidas, especialmente os Estados Unidos que têm vetado resoluções para um cessar-fogo, que "assumam a responsabilidade moral, humanitária e jurídica para deter a guerra israelita contra a Faixa de Gaza".

Já a diplomacia jordana qualificou o ataque de "brutal" e lamentou a "ausência de uma posição internacional para deter a guerra e o massacre humanitário que Israel está a cometer".

A Jordânia renovou o apelo à comunidade internacional para que garanta proteção aos habitantes de Gaza e intensifique "os esforços para alcançar um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza".Giorgia Meloni pede contas a Israel

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, expressou "profunda consternação e preocupação" com as "notícias dramáticas", sendo "urgente que Israel verifique a dinâmica dos factos e as responsabilidades".

O Conselho de Segurança reúne-se esta quinta-feira de emergência para debater a situação, a pedido da Argélia, segundo uma fonte diplomática.

A guerra em curso entre Israel e o Hamas foi desencadeada por um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano em solo israelita, em 7 de outubro, que causou cerca de 1.200 mortos e mais de duas centenas de reféns, segundo as autoridades israelitas.

Em represália, Israel lançou uma ofensiva no território palestiniano que já causou mais de 30 mil mortos, de acordo com o Hamas.

 

c/ Lusa

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