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A voz crítica do Kremlin que nunca se silenciou. Quem era Alexei Navalny?

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Maxim Shemetov - Reuters

Alexei Navalny era definido como o principal e mais veemente crítico do Kremlin e do presidente Vladimir Putin. Ganhou notoriedade após ter criado o Fundo de Luta Contra a Corrupção (FBK), que denunciava pormenores sobre corrupção no Kremlin. Após ter sobrevivido a um envenenamento, em 2020, Navalny morreu esta sexta-feira numa cadeia no Ártico onde estava a cumprir uma pena de 19 anos de prisão. Será relembrado como uma voz que nunca se silenciou apesar das várias ameaças e ataques que sofreu.

Durante uma entrevista à Reuters em 2011, Alexei Navalny foi questionado se não tinha medo de desafiar o sistema de Putin.

“Essa é a diferença entre mim e você: você está com medo e eu não estou com medo. Sei que há perigo, mas porque deveria ter medo?", respondeu.

Navalny ficará conhecido como o principal e mais perseverante opositor ao Governo russo. Sobreviveu a um envenenamento, a várias ameaças e ataques, e apesar de estar consciente dos riscos que corria, Navalny decidiu permanecer sempre em Moscovo com a mulher e os dois filhos, ao contrário de muitos opositores russos, que acabaram por fugir para a Europa.

Formado em advocacia, Navalny ganhou notoriedade como ativista anti-corrupção após ter criado um blog, no início dos anos 2000, onde denunciava evasões fiscais, desvios de dinheiro, irregularidades financeiras.


Mais tarde criou a página designada Rospil.net (abreviação que indica "pilhagem da Rússia"), que lhe permitiu revelar diversos escândalos (empresa Transneft, banco público VTB, Aeroflot) e a "pilhagem dos recursos e da riqueza nacional". Nesta fase, Navalny começou a ser designado de "Julian Assange russo".

Esta atividade permite-lhe revelar diversos escândalos (empresa Transneft, banco público VTB, Aeroflot) e a "pilhagem dos recursos e da riqueza nacional".
Em 2011 criou o famoso Fundo de Luta Contra a Corrupção (FBK), que se destacou de início com uma investigação relacionada com Dmitri Medvedev, antigo presidente e primeiro-ministro e um delfim de Putin. Esta organização foi encerrada pelas autoridades russas em 2021.

O ativista liderou durante anos várias manifestações que denunciavam fraudes eleitorais. Em 2011, esteve detido durante 15 dias após protestos contra a alegada fraude eleitoral do partido Rússia Unida, de Putin, nas eleições parlamentares.

Dois anos depois, foi condenado a cinco anos de prisão pelo suposto desvio de 400 mil euros de uma empresa de exploração florestal. O tribunal ordenou a sua libertação com pena suspensa.
Impedido de concorrer a eleições
Em 2017, Navalny foi atacado fora do seu escritório do FBK, sofrendo uma queimadura química no olho.

O ataque não intimidou o ativista, que procurou desafiar Vladimir Putin nas urnas. No entanto, o opositor ruso foi impedido de concorrer às eleições presidenciais de 2018.

É neste período que Navalny emite um apelo ao "voto inteligente", ao pedir aos seus apoiantes para votarem nos candidatos da oposição parlamentar mais bem colocados para derrotarem o partido Rússia Unida de Putin.

Na sua mais recente intervenção pública, Navalny tinha proposto aos russos que se opõem ao presidente Putin para votarem à mesma hora nas eleições presidenciais de março. "Gosto da ideia de que aqueles que votam contra Putin vão às urnas à mesma hora, ao meio-dia. Meio-dia contra Putin”, afirmou nas redes sociais.
Detido desde 2021
Em agosto de 2020, Navalny foi hospitalizado em Berlim por suspeitas de envenenamento após ter-se sentido mal durante um voo. Na altura, o opositor acusou Vladimir Putin de ordenar o seu envenenamento com um agente neurotóxico do tipo Novitchok.

Mesmo estando consciente de que provavelmente seria detido, Navalny regressou à Rússia em meados de janeiro de 2021, após cinco meses de convalescença na Alemanha.

O ativista foi detido de imediato, ainda no aeroporto, e condenado a dois anos e meio de prisão num caso de fraude ocorrido em 2014, que denunciava como politicamente motivado.

Inicialmente, Navalny foi colocado na colónia penal IK-2 na região de Vladimir, perto de Moscovo, mas mais tarde, em meados de 2022, foi transferido para uma colónia penal de alta segurança em Melekhovo, 235 quilómetros a leste de Moscovo, o que não permitia a visita frequente dos seus advogados e familiares.

Em março de 2021 anunciou uma greve de fome em protesto contra as suas condições de detenção, acusando a administração penitenciária de lhe recusar cuidados de saúde e de "tortura" por privação do sono. Navalny chegou mesmo a ser hospitalizado devido à deterioração do seu estado de saúde.

Em outubro de 2021, o Parlamento Europeu distinguiu Alexei Navalny com o prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, atribuído pelo Parlamento Europeu. Na altura, Navalny tinha 45 anos e já estava detido.

Em agosto de 2023, o tribunal acrescentou mais 19 anos à pena de prisão de Alexey Navalny.

No final do ano passado, o ativista esteve desaparecido durante três semanas, tendo mais tarde reaparecido numa colónia penitenciária perto da cordilheira dos Urais, no Ártico, onde permanecia até agora.

c/ agências
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