Acordo nuclear. Negociações com Irão começaram de forma "produtiva"

por Inês Moreira Santos - RTP
EPA

A União Europeia e os países signatários do acordo nuclear com o Irão reuniram-se em Viena, esta terça-feira, para preparar o regresso ao tratado por parte de Washington, que o abandonou unilateralmente em 2018. No final do primeiro dia de negociações, vários diplomatas concordaram que as reuniões foram "construtivas" e "bem-sucedidas".

Os Estados que ainda fazem parte do acordo sobre a questão nuclear - o Irão, a China, a França, o Reino Unido, a Rússia, Alemanha e a UE - têm pedido o regresso dos Estados Unidos ao tratado e iniciaram esta terça-feira os esforços para retomar as conversações e equilibrar as preocupações e os interesses de Washington e Teerão.

Foram então criados dois grupos de trabalho, em Viena, para analisar e debater a questão das sanções económicas que os EUA aplicaram contra o Irão, que espera que os países europeus ajudem a influenciar Washington para a suspensão das sanções.

Embora não estejam agendadas nem previstas discussões diretas entre o Irão e os Estados Unidos, a presença de ambos nas conversações na capital austríaca é, pelo menos, um sinal de que é provável que todos os signatários voltem a cumprir o acordo.

Mas, embora ainda estejam no início, as reuniões parecem ter sido "produtivas".

Ao final da manhã desta terça-feira, o Irão saudou as declarações de Rob Malley, emissário da Casa Branca para o Irão, que mencionou um provável levantamento das sanções.

"Para nós é uma posição realista e promissora. Essa posição pode ser o início da correção de um mau processo que colocou a diplomacia num impasse. Nós saudamos essas declarações", disse o porta-voz do governo iraniano, Ali Rabii, durante uma conferência de imprensa em Teerão.

Entretanto, também o responsável iraniano em Viena, Abbas Araghchi, afirmou que as negociações com os países signatários foram "construtivas".

"As reuniões em Viena foram construtivas. A próxima reunião será na sexta-feira", disse Araghchi à Press TV. "Continuamos a recusar qualquer acordo sobre o acesso aos mil milhões de dólares de dinheiro iraniano [congelado na Coreia do Sul] em troca da suspensão do enriquecimento de urânio a 20 por cento", disse ainda.

Mas "o levantamento das sanções dos EUA é a primeira e a mais necessária ação para retomar o acordo", continuou Araghchi.

"O Irão está totalmente pronto para reverter a sua atividade e regressar à implementação completa do acordo imediatamente após a verificação das sanções".

A delegação do Irão em Viena, liderada por Araghchi, também inclui representantes do banco central do país, do Ministério do Petróleo e da Organização de Energia Atómica, já que as sanções afetam principalmente os setores financeiro e petrolifero do país.

De acordo com o Ministério iraniano dos Negócios Estrangeiros, as negociações de Viena incluem "negociações técnicas em reuniões de especialistas" para avaliar como as sanções dos EUA podem ser levantadas e como o Irão pode voltar a cumprir integralmente o acordo. Daí a complexidade destas negociações, uma vez que as sanções norte-americanas têm como alvo uma série de indivíduos e entidades iranianas, incluindo por motivos de "terrorismo" e abusos dos direitos humanos, avança Aljazeera.

O embaixador russo junto das organizações internacionais, Mikhail Ulianov, afirmou também esta terça-feira que as primeiras discussões para tentar salvar o acordo internacional foram "bem-sucedidas".



"O restabelecimento" do acordo, concluído em 2015 em Viena e numa fase crítica após a retirada em 2018 dos Estados Unidos, "não surgirá no imediato. Vai levar tempo", escreveu também na rede social Twitter.

O diplomata acrescentou que o "mais importante (…) foi ter-se iniciado o trabalho prático para atingir esse objetivo".

Já Enrique Mora, o responsável da União Europeia nas conversações em Viena, também afirmou que a reunião foi construtiva, acrescentando que "houve uma unidade e ambição para um processo diplomático conjunto".



Noutra publicação, Mora tinha reiterado que o objetivo destas conversações "é o regresso da implementação plena e efetiva do acordo por todas as partes".

De acordo com o Departamento de Estado norte-americano, Rob Malley está na capital austríaca para discutir com o grupo P4+1 e a União Europeia que está a tentar mediar o processo relativo ao eventual regresso dos Estados Unidos ao acordo, mas não esteve nas reuniões desta terça-feira porque não reunirá diretamente com o homólogo iraniano.

O acordo internacional sobre a energia nuclear iraniana, concluído em Viena em 2015, foi afetado pela decisão unilateral dos Estados Unidos que, em 2018, sob a administração de Donald Trump, abandonou o tratado e impôs sanções contra Teerão. Desde essa altura, Teerão tem violado as restrições do acordo, nomeadamente em relação ao enriquecimento de urânio e à quantidade que armazena.

O acordo previa o alívio das sanções internacionais contra o Irão em troca da criação de limites ao seu programa nuclear. Agora Joe Biden promete voltar a assiná-lo mas com a condição de que o Irão retome, primeiro, os compromissos assumidos, que o país quebrou no momento da saída dos EUA.

Já Teerão afirma que as sanções estão a prejudicar a economia iraniana e, portanto, considera que Washington tem de dar o primeiro passo.
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