Acusações de racismo. Polícia de Londres apresenta desculpas a atleta português

por RTP
DR

A polícia metropolitana de Londres apresentou desculpas ao casal Bianca Williams e Ricardo dos Santos, ela britânica, ele português, ambos atletas negros, que foram algemados num incidente ocorrido no passado sábado. A polícia começara por negar qualquer procedimento incorrecto, mas reconsiderou agora a sua avaliação do incidente.

Ricardo Santos, atleta do Benfica e recordista nacional dos 400 metros, e Bianca Williams, também ela uma velocista medalhada em diversas modalidades, foram mandados parar quando ele conduzia o carro, com o filho de ambos, de menos de um ano de idade.

Segundo Ricardo Santos, um carro da polícia que os seguia mandou-o parar e ele demorou menos de 20 segundos até cumprir a ordem - apenas o tempo suficiente para poder parar em segurança. Ainda segundo o relato do casal Santos e Williams, o atleta foi imediatamente intimidado com um bastão, enquanto os agentes o acusavam de cheirar a canábis.
Apesar de afirmar repetidamente que não fumava e que era uma atleta profissional, foi algemado, tal como Bianca Williams.

Perante as acusações de ambos, que atribuiram o comportamento da polícia a uma motivação racista, a corporação começou por afirmar que um primeiro exame do vídeo feito pelos agentes não indicava que tivesse havido qualquer irregularidade por parte da polícia. Justificou-se ainda a ordem de parar com um alegado excesso de velocidade do veículo, embora, como fez notar Ricardo Santos, ele não tenha sido autuado por essa alegada infração.

No entanto, o treinador de Bianca e Ricardo, o antigo campeão olímpico Linford Christie divulgou também um vídeo da detenção e acusou os agentes de violência gratuita com motivação racista. A questão foi entregue à inspeção interna da polícia e agora a comissária dos Mets (a polícia metropolitana) emendou a mão, apresentou desculpas ao casal e prometeu rever as instruções nos acsos em que alguém é algemado.

A comissária, Cressida Dick, admitiu que a prática de algemar suspeitos quintuplicou nos últimos três anos e que 35 por cento das pessoas algemadas são negros e admitiu também que é preciso garantir que essa prática não se torne uma rotina, usada contra suspeitos que depois se verifica, como neste caso, que não detinham quaisquer substâncias ilícitas.

Contudo a comissária passou depois a uma justificação para o elevado número de negros a serem algemados, ao afirmar que eles não o são apenas em número desproporcionadamente elevado, mas que são também delinquentes ou vítimas de violência em número desproporcionadamente elevado para a sua quota na população de Londres.

Mais, a comissária justificou também as detenções dizendo que, muitas vezes, os negros detidos pela polícia por suspeita de terem substâncias ilícitas, mesmo se depois essa suspeita não se confirma, são "delinquentes muito violentos que por acaso não as têm [as susbtâncias ilícitas] naquele lugar e naquele momento".

A comissária recusou ainda como "ofensiva" a acusação à polícia de que tem sido muito mais dura contra os manifestantes de Black Lives Matter do que contra a extrema direita.
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