AfD: uma extrema-direita em processo de radicalização

por RTP
Alice Weidel, dirigente da AfD Kai Pfaffenbach, Reuters

A AfD (Alternativa para a Alemanha) não fez um longo caminho: nasceu em 2013 e, desde então, tem registado várias "noites das facas longas", sempre com um saldo de maior radicalização à direita. Ao mesmo tempo, e para além de alguns altos e baixos, manteve uma tendência clara para reforçar o seu eleitorado.

A AfD, partido populista, foi criada em ambiente elitista: académicos, empresários, políticos dissidentes da democracia-cristã, com escassos denominadores comuns, entre eles o de recusarem qualquer programa de resgate a países como a Grécia e Portugal.

Uma primeira crise notória situa-se no primeiro congresso do partido, em junho/julho de 2015. Aí emerge como principal dirigente Frauke Petry. Impõe-se aos seus pares, afastando Bernd Lucke, que a acusa de extremismo, populismo e de projectar um "partido PEGIDA".

A acusação era grave e significativa. O movimento PEGIDA (Europeus Patriotas Contra a Islamização do Ocidente) era o promotor de várias manifestações contra a imigração, com um cunho pronunciadamente islamofóbico. Alguns dos seus dirigentes tinham-se desacreditado com referências favoráveis à Alemanha nazi, o que contribuiu para uma certa desagregação do movimento.
De Petry a Höcke
Mas Frauke Petry, de 42 anos, consolidou-se na liderança da AfD, radicalizou o curso islamofóbico do partido e isso não a impediu de obter uma votação suficiente para entrar no Parlamento Europeu, em 2014, com sete mandatos. Em fevereiro de 2016, a AfD foi expulsa do agrupamento internacional de que fazia parte, a ECR (agrupamento "conservador e reformista"), precisamente devido à sua retórica extremista. Em maio do mesmo ano, em novo congresso, radicalizou ainda a orientação islamofóbica.

Mais recentemente, Frauke Petry começou a ser posta em causa pela direita mais radical dentro do partido, liderada pelo pró-nazi Björn Höcke. Este constituiu um triunvirato dirigente com Alexander Gauland e com Alice Weidel, que por enquanto não afastou Petry da presidência do partido, mas que predominará provavelmente na composição da bancada parlamentar da AfD.

As estimativas atribuem aos apoiantes de Höcke uma falange de 25 parlamentares, contra uma escassa meia dúzia para Petry. A grande maioria do grupo parlamentar não tem fidelidades ou compromissos conhecidos com uma ou outra facção, mas a truculência da retórica parlamentar que se anuncia parece continuar a reflectir a mesma tendência do partido, sempre mais à direita enquanto permanecer excluído do poder.
Como lidar com a AfD no Bundestag
Perante os 89 deputados da extrema-direita, o velho establishment parlamentar discute se hão-de ostracizar ou envolver. Muitos, como a responsável na bancada verde, Britta Haßelmann, ou como a sua homóloga social-democrata Christine Lambrecht, apostam numa táctica de envolvimento e sedução da AfD.

Os partidos à direita têm evitado pronunciar-se sobre o dilema "ostracizar ou envolver", mas ao nível dos parlamentos regionais já tem havido casos paradigmáticos da táctica de envolvimento. Assim, no parlamento da Alta-Saxónia, vários deputados da CDU votaram a favor de uma moção da AfD para ser constituída uma comissão parlamentar de inquérito sobre a extrema-esquerda. Angela Merkel repreendeu depois os democratas-cristãos da Saxónia por essa aproximação à extrema-direita, que considerou inaceitável.

Na imprensa de referência começam a levantar-se vozes de peso, como a de Sebastien Fischer, a profetizarem o fracasso da táctica de envolvimento, porque agora é de esperar "violação dos limites, provocações, encenação de escândalos". Numa palavra: o estilo de Agitprop parlamentar que valeu a fama ao líder de bancada nazi, no começo dos anos 1930, Hermann Göring.
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