Afinal o Sol é uma estrela "normal"

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Bobby Johnson / Unsplash

"Nasce todos os dias" e quando as nuvens o escondem sentimos a falta dele. Falamos evidentemente do Sol, classificado cientificamente como estrela. O Sol é uma fonte de energia natural composto essencialmente por hélio, hidrogénio, carbono e vários tipos de metais, 109 mil vezes maior que a Terra, ainda assim considerado dentro da categoria estelar "normal".

Quem o refere é astrofísica Ângela Santos do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, da Universidade do Porto, que lidera um trabalho que pretende por fim à controvérsia de que o “nosso” Sol poderia estar fora do padrão normal dentro do leque de estrelas existentes no universo.

Um trabalho publicado esta quinta-feira na revista Astronomy & Astrophysics, em que a equipa “Rumo a um estudo abrangente de estrelas” do IA na Universidade do Porto, liderada por de Ângela Santos, teve por base a recolha de dados dos satélites Kepler (NASA), Gaia (ESA) e SOHO (NASA/ESA).

Tem havido ao longo de várias décadas a questão sobre “se realmente o sol é uma estrela semelhante às outras estrelas”. Foram feitos diversos estudos científicos e nem todos chegam à mesma conclusão, mas há uma razão para isso, refere a investigadora Ângela Santos, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.
“Nós temos vindo a classificar um pouco erradamente as estrelas, que são um pouco mais jovens ou de pequena massa, em comparação com o Sol, com estrelas semelhantes ao Sol.”

Com o avançar da tecnologia, os instrumentos à disposição dos cientistas fornecem agora melhores observações que lhes permitem aferir com maior exactidão como são as outras estrelas e estabelecer, desta feita, uma comparação com o nosso astro rei.

“Quando selecionamos essas estrelas, vemos que as propriedades, em termos de actividade magnética, são muito semelhantes àquilo que observamos para o Sol”, explica.

Para este trabalho, foram escolhidas estrelas com propriedades muito semelhantes às do Sol.

A equipa usou um novo catálogo de propriedades de estrelas, provenientes de observações do satélite Kepler, além de alguns dados do satélite Gaia e ainda do catálogo de períodos de rotação e índices de atividade magnética da própria equipa.

Os dados destas estrelas foram comparados com a atividade dos últimos dois ciclos de atividade do Sol, obtidos pelo instrumento VIRGO/SPM, a bordo do telescópio espacial solar SOHO.

Uma das estrelas estudadas, escolhida do catálogo do Kepler, foi “Doris”. Uma estrela com massa solar idêntica ao nosso Sol (5.785 K, temperatura efetiva), situada na Constelação Cisne, a 500 anos-luz do nosso sistema solar.

Num trabalho anterior, a equipa já tinha observado que a amplitude do ciclo de “Doris”, nome carinhosamente dado pelos astrónomos, que se apresentou duas vezes maior do que os ciclos solares mais recentes, isto apesar de “Doris” ter propriedades muito semelhantes às do Sol.

Ângela Santos explica que “a diferença era a metalicidade (composição quimica metálica). A nossa interpretação é que o efeito da metalicidade, que torna a zona de convecção mais profunda, leva a um dínamo mais eficaz, o que implica um ciclo de atividade mais forte”.

Neste trabalho recente, quando a equipa selecionou estrelas semelhantes a “Doris”, sem considerar a metalicidade na seleção, encontrou um excesso de estrelas com elevada metalicidade. “Na nossa seleção, o único parâmetro que poderia levar a este excesso é o período de rotação. Em particular, Doris tem um período mais longo do que o Sol. E encontramos de facto evidências para uma correlação entre o período de rotação e a metalicidade”, diz a astrónoma.

Bolas de fogo, compostas por hidrogénio, hélio e vários tipos de metal que, dependendo do seu tamanho e temperatura, se enquadram em várias categorias.
De acordo com o espetro, as estrelas podem classificar-se em sete tipos espetrais designados pelas letras O, B, A, F, G, K e M. As estrelas mais “quentes” são as do tipo O e as mais “frias” são as do tipo M. Ainda dentro de cada tipo espetral consideram-se 10 subtipos, designados de zero a nove.

Mas que bolas de fogo são estas? A astrónoma levanta um pouco o véu e “clarifica” a dúvida.

“Existe o hélio, o hHdrogénio e os metais. Todos os materiais que são mais pesados que o hélio, nós consideramos metais”, material esse que é produzido no interior das estrelas ou na altura da morte destas.


Mas onde se enquadra então este nosso Sol, dito “normal”?

A estrela que nos “alimenta” e é o centro do nosso sistema solar enquadra-se na categoria espectral G, com temperaturas a rondar entre os 5000K e 6500K graus Célsius.

Uma estrela normal que também é, na verdade, muito especial para todos os seres vivos neste planeta em que vivemos, como explica a investigadora Ângela Santos à RTP.

E é através da comparação de ambientes extremos e tamanhos das estrelas, neste caso entre o Sol e “Doris”, que o resultado dos dois trabalhos, agora publicados mostram consistência, já que atividade magnética mais forte significa que o processo de travagem magnética leva a um período de rotação mais lento, o que explica porque é que “Doris” tem uma rotação mais lenta do que o Sol, apesar de ser muito semelhante e ligeiramente mais nova.

Ângela Santos conclui: “O que descobrimos é que, apesar de haver estrelas mais ativas do que o Sol, o Sol é uma estrela do tipo solar completamente normal”.

Uma estrela normal, muito especial para os estudiosos em astrofísica. Mas este astro é também visto com uma fonte de vida, de força e inspiração nesta sociedade.
A investigadora da IA (Universidade do Porto) demonstra isso mesmo e revela-se exemplo disso mesmo.

“Nasci e cresci numa aldeia no distrito de Aveiro e hoje sou cientista. Acho que a sociedade deve ser justa e deve dar a oportunidades iguais para toda a gente e por isso o Sol quando nasce é para todos.”

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