Alterações climáticas. Vêm aí os mosquitos portadores de doenças tropicais

por RTP
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Até há pouco, os mosquitos transmissores de febres tropicais só existiam em regiões tropicais. Com o aquecimento global, a velha França e outros países de climas temperados começam a parecer-se cada vez mais com os trópicos. Com a alteração climática vem a bicharada tropical e com ela as doenças correspondentes.

Em França, data de 2010 o primeiro caso registado de febre de dengue numa pessoa que não tinha viajado para qualquer país de risco. Depois disso, houve uma média de 12 casos de dengue transmitido localmente em cada ano, mas neste último verão excepcionalmente quente o número saltou, só durante o trimestre estival, para 40 casos.

A febre de dengue causa habitualmente temperatura elevada, dores de cabeça, dores nas articulações e náuseas, mas em casos extremos pode também causar a morte. Pode ser trazida por pessoas vindas de países tropicais, mas nunca é transmitida de uma pessoa para outra: a pessoa portadora do vírus tem de ser picada por um mosquito-tigre (Aedes albopictus), que depois o transmitirá por picada numa outra pessoa. 

A existência de casos de transmissão local em países europeus implica, portanto, que esse tipo de mosquitos esteja a disseminar-se no Velho Continente, por ter passado a encontrar aqui condições de sobrevivência, tanto mais que os mosquitos não são uma espécie migratória e apenas têm capacidade para voar, no máximo, algumas dezenas de quilómetros. 

Ao contrário dos mosquitos transmissores da malária, que geralmente só são activos durante a noite, os mosquitos-tigre não dão tréguas ao ser humano durante o dia. Em termos práticos, isso limita a eficácia de um meio clássico de combate à malária - o mosquiteiro, que protege os seres humanos durante o sono.

Entretanto, uma outra febre tropical transmitida por mosquito - o vírus do Nilo ocidental - registava 570 casos em Veneto, no norte de Itália. Citado pelo diário britânico The Guardian, o perito da Universidade de Southampton, Michael Head, comentou: "Parece que as terras baixas de Veneto estão a revelar-se como um habitat ideal para os mosquitos Culex, que podem albergar e transmitir o vírus do Nicol ocidental".

Além da febre de dengue e do vírus do Nilo ocidental, poderão vir aí também variedades de mosquitos que transmitam a malária ou a febre amarela, as febres de Zika ou de chikungunya, segundo a hipótese formulada por vários entomologistas que andam precisamente a estudar em que medida as alterações climáticas estarão a tornar habitáveis para essas espécies as regiões do mundo em que elas até agora não prosperavam.

A plataforma científica The Conversation, citando estudos da Organização Mundial de Saúde, admite que as alterações climáticas venham a criar novos habitats para mosquitos hospedeiros e transmissores desta doenças, fazendo elevar em 25% até 2050 o número de mortes por febre amarela e aumentando em 80 milhões o número de pessoas em risco de serem infetadas por malária no continente africano.

Já existem vacinas aprovadas e eficazes contra a febre amarela e contra a malária há também algumas que já estão a ser utilizadas na África sub-sahariana. As vacinas contra a febre de dengue também começam agora a aparecer, havendo uma já licenciada nos EUA, mas com a restrição de apenas poder ser ministrada a pessoas que já tenham sido infectadas.


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