Até há pouco, os mosquitos transmissores de febres tropicais só existiam em regiões tropicais. Com o aquecimento global, a velha França e outros países de climas temperados começam a parecer-se cada vez mais com os trópicos. Com a alteração climática vem a bicharada tropical e com ela as doenças correspondentes.
A febre de dengue causa habitualmente temperatura elevada, dores de cabeça, dores nas articulações e náuseas, mas em casos extremos pode também causar a morte. Pode ser trazida por pessoas vindas de países tropicais, mas nunca é transmitida de uma pessoa para outra: a pessoa portadora do vírus tem de ser picada por um mosquito-tigre (Aedes albopictus), que depois o transmitirá por picada numa outra pessoa.
A existência de casos de transmissão local em países europeus implica, portanto, que esse tipo de mosquitos esteja a disseminar-se no Velho Continente, por ter passado a encontrar aqui condições de sobrevivência, tanto mais que os mosquitos não são uma espécie migratória e apenas têm capacidade para voar, no máximo, algumas dezenas de quilómetros.
Ao contrário dos mosquitos transmissores da malária, que geralmente só são activos durante a noite, os mosquitos-tigre não dão tréguas ao ser humano durante o dia. Em termos práticos, isso limita a eficácia de um meio clássico de combate à malária - o mosquiteiro, que protege os seres humanos durante o sono.
Entretanto, uma outra febre tropical transmitida por mosquito - o vírus do Nilo ocidental - registava 570 casos em Veneto, no norte de Itália. Citado pelo diário britânico The Guardian, o perito da Universidade de Southampton, Michael Head, comentou: "Parece que as terras baixas de Veneto estão a revelar-se como um habitat ideal para os mosquitos Culex, que podem albergar e transmitir o vírus do Nicol ocidental".
Além da febre de dengue e do vírus do Nilo ocidental, poderão vir aí também variedades de mosquitos que transmitam a malária ou a febre amarela, as febres de Zika ou de chikungunya, segundo a hipótese formulada por vários entomologistas que andam precisamente a estudar em que medida as alterações climáticas estarão a tornar habitáveis para essas espécies as regiões do mundo em que elas até agora não prosperavam.
A plataforma científica The Conversation, citando estudos da Organização Mundial de Saúde, admite que as alterações climáticas venham a criar novos habitats para mosquitos hospedeiros e transmissores desta doenças, fazendo elevar em 25% até 2050 o número de mortes por febre amarela e aumentando em 80 milhões o número de pessoas em risco de serem infetadas por malária no continente africano.
Já existem vacinas aprovadas e eficazes contra a febre amarela e contra a malária há também algumas que já estão a ser utilizadas na África sub-sahariana. As vacinas contra a febre de dengue também começam agora a aparecer, havendo uma já licenciada nos EUA, mas com a restrição de apenas poder ser ministrada a pessoas que já tenham sido infectadas.