Amazónia. Conferência climática reúne ativistas no coração da floresta

por RTP
Adriano Machado/Reuters

Na tentativa de encontrar soluções para a atual crise climática, vários ativistas ambientais viajaram de canoa até ao coração da floresta tropical da Amazónia e juntaram-se a grupos indígenas e a especialistas climáticos, com objetivo de criar um "pacto florestal".

Está a decorrer uma reunião inédita na região da Terra do Meio, nas profundezas da Amazónia, esta sexta-feira. Com o objetivo de tornar a Amazónia um tema central no debate global sobre o clima, vários ativistas europeus e membros do grupo "Rebelião contra a Extinção" viajaram em canoas para debater e partilhar ideias com líderes indígenas, comunidades da floresta, cientistas climáticos, antropólogos e arqueólogos do Brasil, avança o Guardian.

A ideia central deste encontro, a que chamaram de “COP da Floresta”, é encontrar soluções para impedir a destruição da floresta e das populações que nela habitam. Este evento, organizado pelo Instituto Socioambeintal (ISA), o Instituto Ibirapitang e a Associação dos Moradores da Reserva Extrativista Rio Iriri, decorre semanas antes de começar em Madrid, de 2 a 13 de dezembro a conferência climática oficial da COP-25 -abreviatura por que é conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2019.
Brasil fora dos debates da ONU mas importante para o mundo
Embora o Brasil não entre nas conversações para o clima das Nações Unidas, os grupos reunidos na Amazónia querem criar uma aliança e demonstrar que o Brasil pode continuar a ter um papel importante e a contribuir positivamente para encontrar soluções para a crise climática mundial.

É inegável que a floresta tropical é fundamental tanto para a agricultura brasileira, e por isso para a sua economia e desenvolvimento, como também para o clima mundial.

O cientista e especialista na Amazónia António Nobre disse, ao jornal britânico, que não hesitou em participar nesta reunião “intergeracional, internacional e interdisciplinar”.

Para este investigador “a Amazónia é o centro do mundo”. Reforçando os apelos da jovem ativista Greta Thunberg, o especialista diz que não temos só de ouvir os cientistas, “mas que os cientistas precisam é de ouvir as pessoas sábias da floresta”.

Numa altura em que o Governo de Bolsonaro tem enfraquecido a proteção ambiental e restringido o financiamento a diversas Organizações Não-governamentais, os ambientalistas dizem que se sentiam “paralisados” até ao crescimento dos novos movimentos da juventude, como o de Greta Thunberg, a nível global.

“Foi uma grande inspiração. Queríamos ligar essa geração europeia às comunidades indígenas e ribeirinhas, que querem que mais pessoas venham ver o que está a acontecer nas suas terras ”, disse Marcelo Salazar, chefe regional da ISA.
De barco à vela até ao coração da Amazónia
Foram vários os participantes europeus, incluindo as ativistas belgas Anuna De Wever e Adélaide Charlier, que atravessaram o oceano Atlântico de barco à vela para evitar as altas emissões de carbono dos aviões. Outros, que viajaram de avião, compensaram as emissões de carbono da sua viagem com a plantação de várias sementes nativas no âmbito de um projeto de restauração florestal.

Após o debate e as considerações sobre os perigos dos caminhos até Terra do Meio, como cobras, aranhas, doenças como a malária e a febre amarela, os ativistas seguiram pela pela estrada Transamazónica passando por algumas das maiores áreas afetadas pelo desmatamento.

Depois viajaram, de canoa, ao longo do rio Iriri até às florestas da Terra do Meio, uma área de territórios indígenas, unidades de conservação e reservas ativistas.

Quando terminar a “COP da Floresta” segue-se, no domingo, a reunião “Amazónia Centro do Mundo” em Altamira, com o objetivo de debater o futuro da floresta.
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