Ancara rejeita acusações "infundadas" de Paris sobre manobra no Mediterrâneo

por Lusa
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A Turquia rejeitou hoje as acusações "infundadas" de Paris que denunciou, na quarta-feira, que um navio francês envolvido numa missão da NATO no Mediterrâneo tinha sido recentemente alvo de uma manobra "extremamente agressiva" por parte de fragatas turcas.

"É óbvio que essas acusações (...) são infundadas", declarou um alto responsável militar turco, citado pela agência francesa France-Presse (AFP), que falou sob a condição de anonimato.

O mesmo responsável turco acusou, por sua vez, o navio militar francês em questão de ter efetuado uma "manobra em alta velocidade e perigosa".

Na quarta-feira, o Ministério das Forças Armadas francês divulgou que uma fragata francesa que procurava identificar um navio cargueiro suspeito de transportar armas para a Líbia foi alvo de um "ato extremamente agressivo" por parte de navios turcos.

Segundo Paris, que classificou o incidente como "muito grave", os navios de guerra turcos que escoltavam o cargueiro iluminaram o navio francês "por três vezes com o seu radar de condução de tiro".

O alto responsável militar turco desmentiu hoje esta acusação, afirmando que os navios turcos usaram a câmara integrada no seu radar "como uma medida de segurança" para "observar o navio francês que estava a realizar uma manobra perigosa a uma distância muito curta".

"Em nenhum momento, o radar iluminou" o navio francês, insistiu o responsável turco, acrescentando que a embarcação das forças francesas não procurou estabelecer um contacto com as fragatas turcas.

De acordo com o responsável, os navios turcos tinham reabastecido com combustível a fragata francesa antes do incidente.

"Estamos tristes por ver que este incidente evoluiu de forma contrária ao espírito de amizade e de aliança", prosseguiu o responsável turco, acrescentando que a Turquia partilhou as imagens do incidente com a NATO.

Este episódio acontece num contexto de tensões entre a Turquia e a França, países aliados na NATO que têm registado uma deterioração das relações bilaterais desde 2016.

A tensão intensificou-se ainda mais nas últimas semanas por causa das divergências dos dois países em relação à Líbia.

Na Líbia, Ancara apoia militarmente o Governo de Acordo Nacional (GAN) de Fayez al-Sarraj, sediado em Tripoli e reconhecido pelas Nações Unidas, também com a contribuição do Qatar e da Itália, contra as forças do marechal dissidente Khalifa Haftar, o homem forte do leste líbio apoiado designadamente pela Rússia, Egito, Jordânia e Emirados Árabes Unidos.

A França, apesar das declarações oficiais em contrário, é acusada de apoiar Haftar, que recentemente registou importantes reveses militares no terreno.

A Turquia, cujos esforços para a integração na União Europeia (UE) permanecem bloqueados, suspeita que a operação Irini (operação naval europeia desencadeada em 01 de abril para tentar reforçar o embargo às armas em torno do conflito na Líbia) se concentre mais no GAN em detrimento das forças rivais do marechal Haftar.

A guerra civil na Líbia, que se tem agravado na sequência do crescente envolvimento de potências estrangeiras, provocou milhares de mortos, incluindo muitos civis, e mais de 200.000 deslocados.

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