Antissemitismo. Autoridades francesas investigam "mãos vermelhas" no Memorial da Shoah em Paris

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Mãos vermelhas grafitadas no "Muro dos Justos" no exterior do memorial da Shoah em Paris, a 14 de maio de 2024, depois de o monumento ter sido vandalizado durante a noite. Antonin Utz - AFP

A procuradora-Geral de Paris, Laure Beccuau, anunciou esta segunda-feira a "abertura de um inquérito judicial" para prosseguir com as investigações sobre as trinta e cinco "mãos vermelhas" grafitadas no Muro dos Justos, no exterior do Memorial da Shoah em Paris, na noite de 13 de maio. A procuradora não quis comentar "ingerências estrangeiras" no ato de vandalismo mas admitiu que a sua equipa tem "pistas sobre os autores" que fugiram para a Bélgica.

Na sequência do ato de vandalismo ao Muro dos Justos, onde estão afixadas placas com os nomes dos 3.900 homens e mulheres que ajudaram a salvar os judeus durante a Segunda Guerra Mundial, foi aberta uma investigação, no dia 15 de maio, por “danos intencionais a bens classificados e com base na pertença a uma nação, grupo étnico, raça ou religião”. Um crime punível com sete anos de prisão, de acordo com o Ministério Público.
Ingerência estrangeira nos atos de antisemitas?
A procuradora-Geral de Paris, Laure Beccuau, disse à France Info esta segunda-feira que tinha sido "aberto um inquérito judicial na sexta-feira" para prosseguir as investigações. Quando questionada sobre a possibilidade de interferência estrangeira, a procuradora recusou-se a confirmar: "Temos algumas pistas sobre os autores, mas não me cabe a mim chegar à conclusão de que houve interferência".

No ano passado, a diplomacia francesa condenou a "ingerência digital russa" nas centenas de estrelas de David que foram pintadas na região de Paris, no final de outubro de 2023. O serviço de informações francês (DGSI), por sua vez, insistiu que a operação tinha sido planeada pelos serviços de segurança russos (FSB). De acordo com as autoridades francesas, tratou-se de um ato de desestabilização orquestrado a partir da Rússia.


A investigação da FranceInfo denuncia uma vasta rede de desinformação russa

Laure Beccuau reconheceu que o Ministério Público de Paris tem estado sobrecarregado, devido ao aumento de atos antisemitas, desde o atentado de 7 de outubro perpretado pelo grupo islamita palestiniano Hamas em Israel.  "Infelizmente, recebemos muitas, muitas denúncias de atos anti-semitas e, por conseguinte, o departamento especializado de Paris, que é responsável por todos os tipos de investigação, está muito ocupado", disse a procuradora de Paris.
Três suspeitos em fuga
O Ministério Público anunciou na quarta-feira, 22 de maio, que os três suspeitos tinham sido detetados pela polícia através das câmaras de videovigilância e da localização dos telemóveis, escreve o jornal francês Libération.  

"As investigações permitiram apurar que as reservas (dos bilhetes de autocarro) tinham sido feitas a partir da Bulgária", acrescentou o Ministério Público.

Até ao momento, os inspetores conseguiram "reconstruir o seu percurso" até a um hotel a leste de Paris e descobrir que os indivíduos deixaram a capital francesa, em direção a Bruxelas num autocarro da Flixbus, imediatamente após a profanação do Muro dos Justos, de acordo com o Ministério Público de Paris.

c/agências
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