Anulação de eleição de autarca pró curdo provoca protestos na Turquia

por Lusa

O partido turco pró curdo DEM (antigo HDP) criticou hoje a anulação da eleição do presidente de câmara de Van, no leste da Turquia, a favor do partido no poder (AKP), que motivou protestos na localidade.

"O Ministério da Justiça está a tentar confiscar a vontade do povo de Van. Trata-se de um golpe político", declarou o copresidente do DEM, Tuncer Bakirhan, num comício junto do Conselho Superior Eleitoral, em Ancara.

O porta-voz do AKP, Omer Celik, contrapôs, em conferência de imprensa, ser "uma questão de lei, ao critério da comissão eleitoral provincial".

"Esta não é uma área onde o governo possa intervir. Reagir num quadro democrático é um direito de todos. Mas transformar isso em violência não tem nada a ver com democracia", acrescentou.

Abdullah Zeydan foi eleito no domingo com 55,48% dos votos em Van, uma cidade de maioria curda, famosa pelo seu lago e próxima da fronteira iraniana, contra 27,15% do seu principal rival do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) do Presidente Recep Tayyip Erdogan, derrotado em muitas das principais cidades do país.

O DEM denunciou o que apelidou de decisão "ilegal" da comissão eleitoral, que, segundo a terceira maior força política no parlamento, terá posto em causa os direitos políticos de Zeydan menos de 48 horas antes da votação.

O partido pró-curdo garantiu que o seu candidato "cumpriu todos os procedimentos legais exigidos e obteve a validação da sua candidatura pelo Alto Comité Eleitoral (YSK)".

Centenas de apoiantes reuniram-se em frente à sede do partido, em Van, para manifestar a sua solidariedade com Zeydan, lançando bombas de fumo e montando barricadas, mostram imagens da agência noticiosa turca DHA.

Em resposta, a polícia usou gás lacrimogéneo e canhões de água.

Cerca de uma centena de pessoas reuniu-se num ambiente tenso em Kadikoy, no lado asiático de Istambul, um bairro tradicionalmente rebelde e hostil ao governo.

"Não aos administradores nomeados pelo governo, não toquem na vontade do povo curdo", gritaram os manifestantes.

"Não entregar o seu mandato ao candidato do partido DEM eleito autarca de Van é negar a vontade do povo de Van. Isto é inaceitável", reagiu na rede social X (antigo Twitter) Ekrem Imamoglu, autarca de Istambul (CHP, oposição social-democrata) reeleito no domingo.

O ex-copresidente do HDP Selahattin Demirtas, preso desde 2016 por "terrorismo", desafiou o chefe de Estado: "na noite das eleições, o senhor declarou que respeitaria a vontade do povo. não é compatível com suas declarações."

Numa mensagem enviada pelos seus advogados, Dmirtas apelou à população, em Van, "bem como todas as forças e partidos pró democracia, a que se oponham a esta decisão ilegal".

Eleito deputado do HDP em 2015, Abdullah Zeydan foi preso no ano seguinte, com cerca de dez outros membros do seu partido, sob a acusação de ter assistido aos funerais de membros do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), um grupo armado considerado terrorista por Ancara e pelos seus aliados ocidentais, que o governo acusa de ligações com o principal partido pró curdo da Turquia.

Zeydan foi libertado no início de 2022.

Cerca de cinquenta presidentes de câmara eleitos em 2019 pelo HDP no sudeste da Turquia foram substituídos por administradores nomeados pelo Estado.

Estas detenções e demissões provocaram tensões na região e reações indignadas no Ocidente.

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