Apoio da SADC ficará mais claro com levantamento da equipa de peritos - analistas

por Lusa

Analistas consideraram hoje que os resultados da "equipa técnica" que a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) vai enviar a Moçambique vão dar indicações sobre a forma de ajuda da organização na luta contra os grupos armados.

A SADC anunciou na quinta-feira em Maputo o envio de "uma equipa técnica" a Moçambique para a avaliação das necessidades do país visando o combate aos grupos armados que protagonizam ataques na província de Cabo Delgado, região norte, anunciou a organização, na declaração final de uma cimeira extraordinária realizada na capital moçambicana.

Comentando os resultados da cimeira, Calton Cadeado, especialista em Paz e Conflitos na Universidade Joaquim Chissano, instituição estatal, considera que "as recomendações" da equipa técnica vão mostrar a forma de intervenção concreta da SADC na luta contra a violência armada em Cabo Delgado.

"Podemos antecipar que haverá uma resposta mais concreta da SADC na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, porque houve essa convergência de posição na cimeira de Maputo, mas não sabemos que tipo e forma de ação será", afirmou o investigador.

A natureza da intervenção da SADC, prosseguiu, será "vislumbrada nas recomendações" do grupo de trabalho que será enviada ao país pela organização regional.

"Esses peritos vão ao terreno inventariar as necessidades de Moçambique na luta contra os grupos armados e só depois do seu trabalho é que ficaremos a saber o que a SADC poderá fazer", frisou.

Calton Cadeado considerou "remota" a possibilidade de um destacamento de tropas da SADC na frente de combate, tendo em conta a posição de princípio de Moçambique de que "a linha da frente" deve ser assumida pelos moçambicanos, em respeito ao princípio de soberania.

Dércio Alfazema, do Instituto para a Democracia Multipartidária (IMD), organização da sociedade civil, qualificou como "importante" a avaliação da equipa técnica da SADC, porque vai dar "pistas" sobre o papel que a organização irá ter no apoio a Moçambique.

"A declaração final da cimeira de Maputo é inequívoca, quando diz que a equipa técnica deve vir a Moçambique com caráter imediato. Isso significa que o seu trabalho é importante para a definição dos próximos passos", afirmou Dércio Alfazema.

Por outro lado, continuou, ao classificar a equipa de trabalho como "técnica", a SADC sinaliza que quer conhecer em "pormenor e profundidade" as necessidades de Moçambique na luta contra o terrorismo e no campo da assistência humanitária.

Sobre a possibilidade do destacamento de forças pela SADC, Dércio Alfazema também entende ser "difícil imaginar esse cenário", porque o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, tem deixado claro que o combate deve ser feito pelas Forças de Defesa e Segurança moçambicanas.

"Se vier apoio militar, não é necessariamente através da colocação de militares da SADC, pode ser, por exemplo, apoio logístico e equipamento, se também os houver, porque a SADC não é nenhuma superpotência militar e enfrenta constrangimentos de vária ordem", afirmou.

Fernando Lima, presidente do mais antigo grupo de media privado em Moçambique, Mediacoop, qualificou como mistos os resultados da cimeira de Maputo, um "dececionante e um outro mais concreto".

"Um dos resultados de fundo foi a criação de uma comissão técnica para avaliar a situação no terreno, o que significa que termos mais reuniões, o que pode mostrar que a SADC ainda se vai arrastar à procura de uma resposta para Cabo Delgado", afirmou Fernando Lima.

Mas da SADC saíram igualmente indicações no sentido de "uma ação mais incisiva", através do chefe de Estado do Zimbabué, Emerson Mnangangwa, que disse à comunicação social do seu país que a organização deve ativar uma força de intervenção rápida para enfrentar a situação em Cabo Delgado, disse.

"Na retórica de Emerson Mnangagwa já se sente um tom mais musculado na abordagem da situação de Cabo Delgado pela SADC, mas temos de esperar para ver que tipo de intervenção será feita", enfatizou Fernando Lima.

A violência desencadeada há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há mais de duas semanas, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, que está a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.

Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitária que atinge cerca de 700 mil pessoas na província, desde o início do conflito, de acordo com dados das Nações Unidas.

O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia, mas as Forças de Defesa e Segurança (FDS) moçambicanas reassumiram completamente o controlo da vila, anunciou no domingo o porta-voz do Teatro Operacional Norte, Chongo Vidigal, uma informação reiterada esta quarta-feira pelo Presidente moçambicano.

Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.

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