Após tiroteio em escola. Trump vai participar na convenção anual da NRA

por RTP
"A América precisa de soluções reais e de uma liderança real neste momento, não de políticos e de partidarismo", vincou Donald Trump esta semana. Hannah Beier - Reuters

O ex-presidente norte-americano Donald Trump vai participar, já esta sexta-feira, na convenção anual da National Rifle Association (NRA), entidade que há mais de um século procura proteger o direito dos cidadãos dos Estados Unidos à posse e porte de armas de fogo. A presença do republicano na convenção acontece apenas alguns dias depois de mais um massacre no país, com 19 crianças e duas professoras mortos a tiro numa escola do Texas.

“A América precisa de soluções reais e de uma liderança real neste momento, não de políticos e de partidarismo”, vincou Donald Trump numa publicação na sua própria rede social, a Truth Social, criada depois de ter sido expulso do Twitter.

O antigo ocupante da Casa Branca disse ainda planear “entregar uma mensagem importante à América”.

O evento da National Rifle Association é de extrema importância para o lobby das armas nos EUA. Criada em 1871 por dois veteranos da guerra civil, a associação é atualmente um dos maiores grupos de influência em torno do uso de armas de fogo por civis, conforme a interpretação que faz da Segunda Emenda da Constituição norte-americana.

Vários dos membros da NRA são, aliás, políticos, o que ajuda a explicar a dificuldade presente no Congresso de aprovar leis para o controlo do armamento no país.

Na conferência de três dias que tem início esta sexta-feira, está prevista a apresentação “das mais recentes novidades nas armas e equipamentos”. Será a 151ª edição do evento e acontece com apenas três dias de distância do último tiroteio em massa nos Estados Unidos.

Dezanove crianças e duas professoras morreram depois de um jovem de 18 anos ter aberto fogo numa escola no Texas. Dias antes, um outro homem matou 13 pessoas num tiroteio num supermercado em Buffalo, Nova Iorque, tendo aparentemente por alvo população afrodescendente.

O massacre na escola de Uvalde, Texas, foi o mais mortífero da última década nos Estados Unidos e veio reacender o debate sobre a posse de armas por civis. O próprio presidente Joe Biden apelou a novas restrições nesse sentido: “Como nação, temos de perguntar em nome de Deus quando é que vamos fazer frente ao lobby das armas”, declarou emotivamente.
“Podemos fazer mais do que rezar”
Para além de Donald Trump, também o governador do Texas, Greg Abbott, e o senador texano Ted Cruz vão discursar na convenção da NRA.

Beto O’Rourke, democrata que vai concorrer contra Abbott nas eleições intercalares de novembro, apelou a que o governador não participe no evento. “Governador, se tiver alguma decência, vai imediatamente cancelar a participação na convenção da NRA e pedir-lhe que a realize em qualquer lugar que não seja o Texas”, escreveu no Twitter.

“Estamos a dever ações aos pais [que perderam filhos no massacre]. Eles querem que façamos algo já. Nós podemos fazer algo já. Mas, se continuarmos a aceitar isto, então a culpa é nossa; não é só do governador, é nossa”, disse O’Rourke aos jornalistas esta semana.

Também Ted Cruz optou por não se distanciar da convenção, apesar de ter dito estar “a orar fervorosamente pelas crianças e famílias no horrível tiroteio em Uvalde”.

Em resposta, a congressista Alexandria Ocasio-Cortez escreveu no Twitter que “a fé, sem ações, está morta”.

“Não vai discursar num evento da NRA em três dias em Houston, ainda para mais?”, questionou a democrata. “Podemos fazer mais do que rezar”.

Apesar dos apelos, também desta vez tudo deverá permanecer igual nos Estados Unidos no que diz respeito à posse e porte de armas por civis. Praticamente todos os republicanos no Congresso se opõem a novas restrições, bloqueando a aprovação de leis nesse sentido.

Do lado dos cidadãos pró-armas também não tem surgido vontade de mudança. A Fundação para a Segunda Emenda (SAF) e o Comité de Cidadãos para o Direito à Posse e Porte de Armas (CCRKBA) lançaram, aliás, um comunicado conjunto no qual culparam os políticos e as direções das escolas pelo massacre desta semana no Texas.

Segundo estas organizações, os tiroteios em escolas podem ser evitados caso se treinem professores e funcionários dos estabelecimentos de ensino para dispararem em situações de emergência.
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