Aquecimento global está a tirar horas de sono a milhões de pessoas em todo o mundo

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Shannon Stapleton - Reuters

Entre todas as consequências do aquecimento global, o sono parece ser uma delas, com as pessoas a dormirem menos horas. De acordo com um estudo publicado na passada sexta-feira, cada pessoa está a perder 44 horas de sono por ano devido ao aquecimento global, o que pode resultar em sérios impactos na saúde. A perda de sono é particularmente elevada nas mulheres, idosos e habitantes de países mais pobres.

As temperaturas ambientais estão a aumentar em todo o mundo, com os termómetros a registarem maiores subidas durante a noite do que durante o dia. Consequentemente, milhares de pessoas em todo o mundo estão a dormir menos horas devido ao calor.

Um estudo da Universidade de Copenhaga publicado na revista One Earth, na passada sexta-feira, descobriu que “os adultos adormecem mais tarde, acordam mais cedo e dormem menos durante as noites quentes”. O estudo sugere que, nas noites com mais de 30°C, o sono diminui em média cerca de 14 minutos.

Concretamente, segundo a investigação, um cidadão comum está a perder 44 horas de sono por ano devido ao aumento da temperatura, o que corresponde a 11 noites com menos de sete horas de sono (o referencial para um sono ideal).

Segundo o estudo, uma noite com temperaturas acima dos 25°C numa cidade de um milhão de habitantes resultaria em 46 mil pessoas a sofrerem de perda de sono.
“A ponta do iceberg”
O estudo alerta ainda para as consequências do aquecimento global a longo prazo, prevendo que “a perda anual total de sono devido à subida das temperaturas noturnas pode aumentar constantemente até meados do século, com as perdas anuais a tornarem-se marcadamente maiores em 2099 sob um cenário de aumento dos gases de efeito de estufa”. Segundo a investigação, até o final do século, as altas temperaturas noturnas podem “roubar” entre 50 a 58 horas de sono a cada pessoa por ano.

“Para a maioria de nós, o sono é uma parte muito familiar da nossa rotina diária; passamos quase um terço das nossas vidas a dormir”, disse Kelton Minor, da Universidade de Copenhaga, que liderou a investigação, citado por The Guardian. “Mas um número crescente de pessoas em muitos países em todo o mundo não dorme o suficiente”, acrescenta.

“Este estudo é a primeira prova, à escala planetária, de que temperaturas mais quentes do que a média reduzem o sono dos humanos”, explicou. “Na verdade, esta pode ser a ponta do iceberg, porque é muito provável que as nossas estimativas sejam modestas”, afirmou.

Perda de sono é superior nas mulheres e idosos
O estudo analisou sete milhões de registos de sono nortuno de mais de 47 mil pessoas em 48 países através de pulseiras de monitorização do sono. Os dados recolhidos entre 2015 e 2017 permitem concluir que a subida das temperaturas faz com que as pessoas demorem mais tempo a adormecer.

Tal como explicam os investigadores, o corpo humano precisa de arrefecer antes de adormecer, mas tal tarefa torna-se mais difícil se as temperaturas forem mais elevadas. Por este motivo, as mulheres podem ser mais afetadas pela perda de sono, uma vez que, em média, têm mais gordura subcutânea do que os homens, tornando o processo de arrefecimento corporal mais lento.

Ainda de acordo com a investigação, a perda de sono por grau de aquecimento é duas vezes maior para as pessoas com mais de 65 anos e três vezes maior para os habitantes dos países com menores rendimentos.

O efeito nas pessoas mais velhas é explicado pela sua suscetibilidade, dado que a duração do sono é já menor e têm uma regulação mais fraca da temperatura corporal. “Descobrimos que os adultos mais velhos são marcadamente mais sensíveis a aumentos exógenos na temperatura ambiente noturna do que os adultos de meia-idade e adultos jovens”, lê-se no estudo.

Por sua vez, as pessoas que residem em países de baixo e médio rendimento estão sujeitas a uma maior perda de sono com o aumento das temperaturas uma vez que têm menor acesso a tecnologias de arrefecimento, como ar condicionado e ventiladores.

Os investigadores concluíram que os efeitos das noites mais quentes no sono foram comuns em todos os países, independentemente de terem climas naturalmente mais quentes ou mais frios. No entanto, ao contrário do que esperavam, concluíram que a perda de sono por grau de aquecimento é significativamente maior nos países mais quentes.

“Preocupantemente, também encontramos provas de que as pessoas que já vivem em países com climas mais quentes experienciaram maior perda de sono por grau de aumento de temperatura”, disse Minor. “Esperávamos que essas pessoas estivessem melhor adaptadas”, admitiu.

Por este motivo, os investigadores afirmam que os seus dados não mostram sinais de que a população se possa adaptar às noites mais quentes, o que levanta sérias preocupações relativamente aos impactos na saúde.

Tal como explicam no estudo, a falta de sono tem sido associada à redução do desempenho cognitivo, à diminuição da produtividade, aumento dos ataques cardíacos, depressão, raiva e comportamentos suicidas.
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