ARA San Juan poderá ter sofrido explosão, diz porta-voz da Armada da Argentina

por RTP
“Estamos na frase crítica”, afirmou Enrique Balbi, acrescentando que até à data não existiu qualquer tipo de contacto por parte da tripulação Marcos Brindicci - Reuters

Passaram oito dias desde o desaparecimento do submarino ARA San Juan. Esta quinta-feira, a Marinha argentina revela que um "evento impulsivo subaquático" aconteceu na passada quarta-feira, perto da área em que desapareceu o submarino San Juan. O acontecimento foi detetado pela Organização do Tratado de Proibição de Testes Nucleares, que diz que o som é consistente com o de uma explosão.

A Marinha da Argentina revelou esta quinta-feira que terá ocorrido uma possível explosão na rota em que estaria o San Juan. Segundo os responsáveis, não há nenhuma informação sobre o que pode ter causado a situação que foi "anormal, singular, curta, violenta, não nuclear e consistente com uma explosão".

A Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares, projetada para detetar explosões secretas, detetou um "sinal incomum" na semana passada, perto da zona em que desapareceu o submarino ARA San Juan, de acordo com a agência Reuters.

Esta organização opera estações de monitoramento equipadas com dispositivos, incluindo os hidrófones - microfones subaquáticos que exploram oceanos para ondas sonoras.O denominado de "evento impulsivo subaquático" detetado na passada quarta-feira, "pode ser consistente com uma explosão, mas não há certeza sobre isso", afirmou o engenheiro hidroacústico da organização, Mario Zampolli.

Apenas esta quinta-feira foi revelada esta informação porque tiveram de ser estudados os registos captados pelos instrumentos acústicos e sensores utilizados pela equipa de busca, explicaram.

O ARA San Juan desapareceu com 44 tripulantes a bordo na passada quarta-feira. Partiu de Ushuaia e deveria chegar a Mar del Plata. De acordo com cartas marítimas, a zona em que o San Juan desapareceu coincide com uma zona de grande profundidade, conhecida como declive continental, que pode atingir 6 200 metros, e com o limite da zona económica exclusiva da Argentina.

Depois de o submarino desaparecer, a marinha diz que o protocolo militar aconselha a um período de espera de 48 horas antes de iniciar a procura pelo San Juan, perdido no mar, razão que tem criado alguma contestação entre as famílias da tripulação.
Familiares esperam pela tripulação



“Sinto que estou à espera de um cadáver”, diz Elena Alfaro, irmã de um membro da tripulação, Christian Ibañez, que é técnico no submarino.
“Porque é que há tantos protocolos? Os protocolos vão trazê-los de volta?”, pergunta Elena Alfaro, relativamente à demora da marinha argentina em avisar o Presidente da Argentina, Mauricio Macri, que o contacto com o submarino tinha sido perdido.

Segundo o The Guardian, o Presidente da Argentina mostrou-se perturbado com a maneira como a Marinha lidou com este acontecimento, pois o ministro da Defesa da Argentina, Oscar Aguad, apenas terá sabido do sucedido quando saiu nos meios de comunicação social, depois de a Marinha ter anunciado no sábado que perdeu o contacto com San Juan.


Irmã de um membro da tripulação, Elena Alfaro, no porto de Mar del Plata - Reuters

Federico Ibañez, irmão de Christian, tem vindo a questionar a razão pela qual as equipas de salvação estão a demorar para começar a procurar no fundo do oceano.

“Se o submarino estivesse à superfície já o tinham encontrado. As equipas de salvação não os encontram à superfície e continuam sem procurar por eles no fundo do mar”, acrescentando que se a equipa já o tivesse feito, o cenário poderia ser diferente.

O técnico do submarino San Juan tem uma filha com nove anos. “Ela sabe que o pai está desaparecido, mas também sabe que ele está bem e que vai voltar para casa em breve. Tenho a certeza que os 44 [tripulantes] estão bem e vão voltar para casa a qualquer momento”, disse a mulher do tripulante, Fernanda Valacco, à CNN.


Uma criança e um adultou penduram uma mensagem no porto de Mar del Plata - Reuters

Federico Ibañez explica que os familiares dos tripulantes têm ficado todos numa divisão com mesas e camas desdobráveis à espera: “Todos estão silenciosos. Todos estão à espera. À espera do quê? Não consigo estar aqui”.

Peter Layton, convidado da Universidade de Griffith, na Austrália, explicou que, se o submarino se tiver afundado mas estiver intacto, os marinheiros têm cerca de uma semana a dez dias de oxigénio, mas que há outros fatores associados que tornam as previsões imprecisas, tais como a última vez que recarregaram as baterias, há quanto tempo refrescaram o ar e o que está dentro do navio.

Dos 44 tripulantes há apenas uma mulher de 35 anos, Eliana María Krawczyk, a primeira oficial a servir num submarino. Vem de uma cidade no norte da Argentina, Oberá, e é chamada pelo pai como “a rainha do mar”.Fase crítica
Se o navio tiver vindo ao de cima ou a tripulação tiver utilizado um tubo que vem à superfície para refrescar o ar, o submarino poderá ter mais de dez dias de oxigénio. No entanto, esta é uma suposição, explica Enrique Balbi.

“Estamos na frase crítica”, afirmou Enrique Balbi, acrescentando que até à data não existiu qualquer tipo de contacto “ativo ou passivo” por parte da tripulação.

No sábado foram registadas comunicações por satélite que poderiam ser do submarino. Entretanto, a Marinha argentina descartou a hipótese, referindo que os sons que se ouviram são de origem biológica, isto é, da vida marinha.O porto de Mar Del Plata, na província de Buenos Aires, local de destino do submarino, tornou-se um ponto de encontro entre pessoas que procuram informações e se juntam para aguardar novidades e rezar.

“As sete tentativas de contacto não correspondem ao submarino", confirmou no início da semana Enrique Balbi à agência Reuters.

Na terça-feira foi encontrado um kit de sobrevivência que voltou a suscitar esperança, mas que também não pertenciam ao San Juan, pois não era o mesmo modelo, explicou Enrique Balbi.

Antes de ser dado como desaparecido, o navio reportou uma avaria, como se estivesse a ser criado um "curto-circuito", confirmou a Marinha argentina.

Na altura, a tripulação não forneceu nenhuma informação adicional sobre o que causou o curto-circuito, refere Enrique Balbi, mas o “problema foi considerado  de rotina e a tripulação foi considerada salva”.

A procura pelo submarino cobre uma área de 621 milhas, cerca de mil quilómetros, ao longo do Atlântico Sul.
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