Argélia diz-se "visada" com acordo de segurança entre Marrocos e Israel

por Lusa

O presidente do Senado argelino afirmou hoje que a Argélia foi "visada" com a visita do ministro da Defesa israelita, Benny Gantz, a Marrocos, em que os dois países assinaram um importante acordo de cooperação na área da segurança.

"Os inimigos mobilizam-se cada vez mais para prejudicar a Argélia", que é "o alvo" da visita de Gantz, declarou Salah Goudjil, a segunda figura do Estado argelino, citado pela agência noticiosa oficial APS.

"Hoje, as coisas estão claras com a visita do ministro da Defesa da entidade sionista a Marrocos, depois da realizada [em agosto] pelo ministro dos Negócios Estrangeiros desta entidade neste país vizinho", acrescentou Goudjil, lembrando que o chefe da diplomacia israelita, Yair Lapid, tinha então "ameaçado a Argélia a partir de Marrocos e não houve reação do governo marroquino". 

Durante a visita de Gantz a Marrocos, que terminou hoje, Marrocos e Israel assinaram quarta-feira um acordo de cooperação no domínio da segurança que facilitará a aquisição por Rabat de tecnologias da indústria militar israelita.

A visita do ministro da Defesa israelita a Marrocos suscitou hoje comentários indignados na imprensa argelina.

"O que não fez com Egito e com a Jordânia em 43 anos e 27 anos de relações, respetivamente, Israel está a fazer com o Marrocos depois de apenas 11 meses de reconhecimento mútuo", escreveu o site de notícias `online` Tout sur l`Algerie (TSA). 

"Este novo passo de compromisso [...] abre caminho para a Mossad [serviços secretos] israelita colocar os dois pés na fronteira ocidental da Argélia, com tudo o que isso implica como uma ameaça à segurança de todo o Magrebe", escreveu, por seu lado, o diário L`Expression.

O acordo, assinado numa altura em que é grande a tensão entre o reino alauita e a Argélia, foi assinado durante um encontro de Gantz, antigo chefe das Forças Armadas de Israel, com o ministro delegado da Defesa Nacional marroquino, Abdellatif Loudiyi.

Os dois governantes assinaram o protocolo de acordo apenas um ano após a normalização das relações entre os dois países e que lança formalmente a cooperação na área da segurança "sob todos os aspetos", como o planeamento operacional, investigação e desenvolvimento, entre outros itens, face "às ameaças e desafios na região", tal como sublinhou Gantz.

Marrocos e Israel estabeleceram relações diplomáticas no início dos anos 1990, antes de Marrocos as suspender no início da segunda Intifada, o levantamento palestiniano no começo dos anos 2000. 

Agora aliados num tenso contexto regional, Rabat e Telavive retomaram-nas em dezembro de 2020, no quadro dos "Acordos de Abraham", processo de normalização das relações entre o Estado hebraico e os países árabes, iniciativa apoiada pela administração do então Presidente dos Estados Unidos Donald Trump. 

Para tal, Washington reconheceu a "plena soberania" de Marrocos sobre o Saara Ocidental, território em disputa com os separatistas sarauís da Frente Polisário, apoiados pela Argélia. 

A visita de Gantz ocorre no momento em que, em agosto, Argel cortou relações com Rabat devido às "ações hostis" marroquinas face à Polisário que, por sua vez, decidiu "intensificar" a luta armada contra Marrocos. 

Segunda-feira, em Washington, ao reunir-se com o seu homólogo marroquino, Nasser Bourita o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reiterou o forte apoio dos Estados Unidos a Marrocos na questão do Saara Ocidental.

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