"Ártico esta a arder". Cientistas alarmados com altas temperaturas na Sibéria

por RTP
Reuters

A Organização Mundial de Meteorologia está preocupada com a temperatura registada a 20 de junho na cidade russa de Verkhoyansk. Os termómetros chegaram aos 38 graus Celsius numa região onde, no inverno, chegam aos menos 68. O mais próximo que tinha estado deste valor foi a 25 de julho de 1988, com 37.3° C.

"O Ártico esta à arder", diz um cientista em clima da Universidade do Michigan. "Está a aquecer muito mais rápido do que esperávamos devido ao aumento dos níveis de dióxido de carbono e outros gases com efeito de estufa e, por isso, o degelo está a acelerar e os incêndios estão a aumentar".

Jonathan Overpeck acrescenta que a temperatura agora registada representa um aviso "de grandes proporções".

A maior parte da Sibéria registou este ano temperaturas acima do normal. De janeiro a maio a temperatura média foi de 8 graus celsius acima da média. 

Os 38 graus anormais foram registados em Verkhoyansk, numa zona oriental da Sibéria conhecida pela enorme amplitude de temperatura registada ao longo do ano - mais de 100 graus. Muito calor no verão e muito frio no inverno, como é aliás possível observar por esta fotografia da Reuters.
   

 Os cientistas estão nesta altura a analisar os dados para certificarem que o valor registado - os 38 graus - aplica-se a toda a área do Ártico a norte do Círculo Polar ou se foi uma situação isolada.

"Tem sido uma primavera invulgarmente quente na Sibéria e a falta de neve na região combinada com o aumento global de temperaturas ajudou, sem dúvida, na causa destas observações extremas de temperatura", disse o professor Cerveny da Universidade do Arizona, que tem estado a acompanhar esta situação.

A Organização Mundial de Meteorologia está a contactar a agência meteorológica russa para receber informação direta do local, para além de informações sobre qual o equipamento usado, se os instrumentos estão bem calibrados ou quais as técnicas que estão a ser usadas.

"Essa informação será depois cuidadosamente analisada por um painel internacional de cientistas atmosféricos", afirmou o professor Cerveny. O volume de gelo no mar no Ártico no mês de setembro de 2019, após a época do degelo, diminuiu mais de 50 por cento quando comparado com o volume médio de 1979 a 2019

O Ártico está entre as regiões do mundo com um aquecimento mais rápido. Está a aquecer duas vezes mais rápido do que a média global. 

A temperatura do ar nos últimos quatro anos tem sido a mais elevada alguma vez registada. 

E o volume de gelo no mar no Ártico no mês de setembro de 2019, após a época do degelo, diminuiu mais de 50 por cento quando comparado com o volume médio de 1979 a 2019, indica a Organização Mundial de Meteorologia.

E a tendência é que as coisas não fiquem melhor nos próximos tempos. 

Em maio a Sibéria registou temperaturas de 10 graus acima da média, tornando-se na região mais quente de todo o hemisfério norte. Na verdade, dizem os meteorologistas, de todo o globo.

Os especialistas em clima acreditam que estas temperaturas elevadas podem estar também relacionadas com a quebra do gelo nos rio da Sibéria.

O serviço europeu Copernicus, que acompanha as alterações climáticas, também esteve a avaliar as informações disponíveis. De acordo com o Copernicus, "apesar de o planeta como um todo estar a aquecer, isto não está a acontecer de forma igual. Por exemplo, a Sibéria ocidental sobressai como uma região que está a aquecer de forma mais rápida do que a média e onde as variações de temperaturas a cada ano tendem a ser maiores. Isto significa que, de certa forma, não são inesperadas. No enanto, o que é invulgar neste caso é o tempo da persistência das temperaturas acima do normal".

O serviço do sistema de monitorização atmosférica Copernicus diz ainda que o número e a intensidade dos incêndios no nordeste da Sibéria e no Círculo Ártico tem aumentado nos últimos dias. 

E tudo indica que as temperaturas nesta região do globo continuem elevadas até ao final de agosto.
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