Assalto ao Capitólio. Ivanka Trump convidada a colaborar na investigação

por RTP
Carlos Barria - Reuters

O Comité da Câmara dos Representantes dos EUA que está a investigar o ataque ao Capitólio, levado a cabo por apoiantes de Donald Trump a 6 de janeiro do ano passado, solicitou à filha do ex-presidente, Ivanka Trump, que colabore voluntariamente na investigação. Esta é a primeira vez que o comité tenta realizar uma entrevista a um membro da família do ex-ocupante da Casa Branca.

Apesar de, até ao momento, não haver indicação de que a filha de Trump esteja sob investigação, as autoridades e fontes próximas de Ivanka garantem que esta é uma testemunha essencial de uma série de alegados crimes cometidos pelo pai.

Numa carta pública endereçada a Ivanka Trump, os investigadores pedem à filha e ex-conselheira do antigo líder uma reunião já no início de fevereiro, com o objetivo de discutir as ações do pai na invasão ao Capitólio.

“Estamos particularmente interessados nesta questão: por que é que os funcionários da Casa Branca não pediram simplesmente ao presidente que se dirigisse à sala de briefings e aparecesse em direto na televisão, pedindo à multidão que abandonasse o Capitólio?”, lê-se na carta.

Entre os temas que o comité quer abordar encontra-se um telefonema que Ivanka terá testemunhado, no qual Donald Trump alegadamente tentou pressionar o seu vice-presidente, Mike Pence, para que este rejeitasse a validação dos resultados eleitorais de 2020.

Um porta-voz de Ivanka já confirmou que a mulher, de 40 anos, leu a missiva. “Ivanka já teve conhecimento da carta pública a pedir-lhe que compareça. Como o comité já sabe, ela não falou no comício de 6 de janeiro” no qual o seu pai pediu aos apoiantes que se revoltassem contra os resultados eleitorais, esclareceu.
“Espetar uma estaca no coração da República federal”
Na carta, o comité citou testemunhas segundo as quais Ivanka implorou ao pai que pusesse fim à violência levada a cabo pelos seus apoiantes. Os investigadores dizem querer saber mais sobre as ações da mulher nos momentos em que decorreu a insurreição no Capitólio.

“Os depoimentos obtidos pelo comité indicam que vários membros da equipa da Casa Branca solicitaram a ajuda [de Ivanka Trump] em diversas ocasiões, nomeadamente para intervir na tentativa de persuadir o presidente Trump a travar a ilegalidade e a violência em curso no Capitólio”, escreveu o presidente do comité de inquérito, Bennie Thompson.

A missiva refere ainda uma mensagem de texto enviada poucos dias antes do assalto ao Capitólio, a 6 de janeiro, por um membro da House Freedom Caucus (câmara conservadora constituída por republicanos da Câmara dos Representantes) ao então chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows.

“Se o presidente permitir que isto aconteça… estaremos a espetar uma estaca no coração da República federal”, lia-se na mensagem.

No início desta semana, o comité emitiu intimações para Rudy Giuliani e para outros membros da equipa jurídica de Trump que apresentaram queixas sobre a alegada falta de transparência das eleições presidenciais de 2020.

Caso recusem comparecer, poderão ser acusados de desrespeito, como aconteceu até agora com três outros ex-assessores de Trump: o ex-chefe de gabinete Mark Meadows, o ex-procurador-geral assistente Jeffrey Clark e o ex-assessor e diretor de campanha Steve Bannon.

Na quarta-feira, o Supremo Tribunal rejeitou um pedido de Trump para não serem revelados cerca de 700 documentos sobre o ataque ao Capitólio, abrindo a porta para que venham a ser entregues ao comité de inquérito.
Ataque de 6 de janeiro fez cinco vítimas mortais
Os apoiantes pró-Trump invadiram o edifício do Capitólio a 6 de janeiro de 2021, à mesma hora em que o Colégio Eleitoral votava para atribuir oficialmente a vitória das presidenciais ao democrata Joe Biden.

O incidente, ocorrido depois de o próprio Trump ter incentivado os seus apoiantes a manifestarem-se, resultou em cinco vítimas mortais e dezenas de detidos. Levou ainda a que o Partido Democrático avançasse com um novo processo de destituição contra Donald Trump, que acabou por ser absolvido.

Para além dos cinco mortos no incidente, cerca de 140 agentes da polícia ficaram feridos e outros quatros agentes cometeram suicídio desde então.

Um questionário recentemente realizado pela agência Reuters revelou que cerca de 55 por cento dos republicanos nos Estados Unidos acreditam, tal como Trump, ter havido fraude eleitoral, mesmo depois de essa acusação ter já sido rejeitada por dezenas de tribunais, departamentos estatais e membros da antiga Administração da Casa Branca.

c/ agências
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