Associação denuncia desaparecimento de jornalista ruandês exilado em Moçambique

por Lusa

A Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique denunciou hoje o desaparecimento, desde domingo, de um cidadão do Ruanda, o jornalista Ntamuhanga Cassien, que se encontrava exilado na ilha de Inhaca, Maputo.

Cassien foi levado "por oito indivíduos desconhecidos que se apresentaram como agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM)", num grupo que incluía outro cidadão do Ruanda "que se expressava na mesma língua local do visado", disse à Lusa o porta-voz da associação, Cleophas Habiyareme, dando voz a uma posição também expressa em comunicado.

A PRM demarcou-se de qualquer detenção e esclareceu que não há registo de qualquer queixa sobre o desaparecimento ou rapto de um estrangeiro.

"Não há registo de qualquer operação para a detenção de cidadãos ruandeses, nem registamos qualquer queixa", disse à Lusa Hilário Lole, porta-voz do Serviço Nacional de Investigação Criminal (Sernic).

Habiyareme detalhou que uma denúncia foi apresentada junto do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) em Maputo.

Ntamuhanga Cassien, 37 anos, foi jornalista e diretor da rádio cristã Amazing Grace, em Kigali (capital ruandesa), trabalhando agora como comerciante em Moçambique.

Dizia-se vítima de perseguição política como outros críticos do regime do presidente Paulo Kagame.

Fugiu da prisão no Ruanda em 2017, depois de ter sido condenado em 2015 a uma pena de 25 anos de prisão por conspiração contra o Estado, cumplicidade com terrorismo e homicídio - sentença na altura contestada por organizações de defesa de direitos humanos.

Em comunicado, a Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique manifestou-se preocupada com alegados casos de detenções arbitrárias de cidadãos ruandeses em Moçambique.

"Vimos requerer a intervenção urgente do Governo de Moçambique, na qualidade de Estado de direito democrático, das organizações da sociedade civil e demais entidades que velam pelos direitos humanos", uma vez que "o refugiado tem direito a ser protegido".

Líder do Ruanda desde 1994, a Kagame é atribuído o desenvolvimento do país após o genocídio de tutsis daquele ano, mas o chefe de Estado é também acusado de limitar a liberdade de expressão e de reprimir a oposição.

A organização Human Rights Watch (HRW) acusou no final de março as autoridades ruandesas de estarem a limitar a população que recorre à Internet para se expressar no país, depois de restringirem a liberdade de expressão nos órgãos de comunicação social.

A organização de defesa dos direitos humanos diz que pelo menos oito pessoas que cobrem ou comentam a atualidade, incluindo o impacto das medidas de contenção da covid-19 na população mais pobre, foram ameaçadas, presas ou processadas no último ano, segundo a agência France-Presse.

"O registo ruandês de intolerância e represálias abusivas contra os críticos levanta sérias questões sobre a segurança de uma nova geração de `bloggers` e comentadores", afirmou o diretor da HRW para África Central, Lewis Mudge.

A restrição de liberdades tem também sido denunciada e condenada por outras organizações como a Repórteres sem Fronteiras e a União Europeia (UE).

O genocídio no Ruanda foi responsável pela morte de mais de 800.000 pessoas, principalmente da minoria tutsi, entre abril e julho de 1994.

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