Ataque a Zaporizhia. Moscovo e Kiev trocam acusações

por Cristina Sambado - RTP
Alina Smutko - Reuters

A Rússia acusa a Ucrânia de ter atacado a central nuclear de Zaporizhia por três vezes, no domingo, e exige uma resposta do Ocidente. No entanto, Kiev nega os ataques com drones a um dos seis reatores. A Agência Internacional de Energia Atómica, que tem peritos no local, afirmou que esta foi a primeira vez, desde novembro de 2022, que um ataque atingiu diretamente a maior central da Europa e que o incidente colocou em perigo a segurança nuclear.

Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional da Energia Atómica (AIEA), condenou os três ataques diretos contra as estruturas de contenção do reator principal da ZNPP e frisou que a situação “aumenta significativamente o risco de um grave acidente nuclear”.

Na rede social X, Grossi recordou que "este foi o primeiro ataque deste tipo desde novembro de 2022, quando se instituíram cinco princípios básicos para evitar um acidente nuclear com consequências graves".


"Este é um grande agravamento dos perigos de segurança nuclear que a central de Zaporizhia enfrenta. Estes ataques imprudentes aumentam significativamente o risco de um acidente nuclear de grandes proporções e devem cessar imediatamente", realçou Grossi.

"Atacar uma central nuclear é absolutamente proibido", frisou o diretor-geral da AIEA, acrescentando que apesar “de os danos na unidade não terem comprometido a segurança nuclear, este foi um incidente grave que teve o potencial de comprometer a integridade do sistema de contenção do reator".
A AIEA acrescentou que os peritos tinham sido informados do ataque do drone e que "essa detonação é consistente com as observações da Agência Internacional da Energia Atómica".

Numa declaração separada, o organismo de vigilância nuclear confirmou o impacto físico dos ataques de drones na central, incluindo num dos seus seis reatores. Foi registada uma vítima. "Os danos na unidade seis não comprometeram a segurança nuclear, mas trata-se de um incidente grave com potencial para comprometer a integridade do sistema de contenção do reator". As forças russas assumiram o controlo de Zaporizhia em 2022, pouco depois da invasão em grande escala da Ucrânia. Moscovo e Kiev acusaram-se repetidamente de arriscarem um acidente nuclear ao atacarem a central.

Os seis reatores de Zaporizhia estão desligados há meses, mas a central continua a necessitar de energia e de pessoal qualificado para operar os sistemas de refrigeração cruciais e outros dispositivos de segurança.

A central nuclear tem seis reatores VVER-1000 V-320, de conceção soviética, arrefecidos e moderados por água, que contêm urânio 235 e têm também combustível nuclear usado nas instalações.

Os reatores 1, 2, 5 e 6 estão em paragem a frio, enquanto o reator n.º 3 está encerrado para reparação e o reator n.º 4 está na chamada "paragem a quente", segundo a central.
Moscovo e Kiev trocam acusações
A corporação nuclear estatal da Rússia, Rosatom, afirmou que a Ucrânia atacou a central nuclear três vezes no domingo com drones, o primeiro feriu três pessoas perto de uma cantina, outro caiu num área de carga e o terceiro na cúpula acima do reator número seis.

"A central nuclear de Zaporizhia foi sujeita a uma série de ataques com drones, uma ameaça direta à segurança da central", acrescentou a Rosatom.

"Os níveis de radiação na central nuclear e na área circundante não mudaram", revelou.

Os serviços secretos ucranianos afirmam que Kiev não tem nada a ver com quaisquer ataques à central nuclear e sugeriu que eram obra dos próprios russos.

"Os ataques russos, incluindo os de imitação, no território da central nuclear ucraniana (...) são há muito uma prática criminosa bem conhecida dos invasores", afirmou o porta-voz dos Serviços Secretos da Ucrânia, Andriy Usov.

A porta-voz do Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, exortou os líderes mundiais a condenar o ato de "terrorismo nuclear".

Maria Zakharova questionou quantas vezes mais a Ucrânia iria pôr em perigo a segurança nuclear na central antes de os líderes ocidentais tomarem medidas.

c/ agências internacionais
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