Ataque ao Capitólio. Líder republicano da Câmara dos Representantes intimado por comissão de investigação

por Inês Moreira Santos - RTP
Jim Lo Scalzo - Reuters

Num passo sem precedentes, a comissão que investiga o ataque ao Capitólio, a 6 de janeiro de 2021, intimou o líder da minoria republicana na Câmara dos Representantes. Para além de Kevin McCarthy, outros quatro congressistas do partido do ex-presidente Donald Trump foram também chamados a prestar declarações e a testemunhar perante os congressistas norte-americanos.

O presidente da comissão, o democrata Bennie Thompson, afirmou num comunicado que os deputados do Partido Republicano têm informações relevantes para a investigação. Segundo o democrata do Mississípi, o painel teve de emitir as intimações depois de os congressistas republicanos e o líder da minoria da câmara baixa terem recusado colaborar de forma voluntária.

"Pedimos aos nossos colegas que cumpram a lei, que cumpram o seu dever patriótico e que cooperem com a nossa investigação, como centenas de outras testemunhas fizeram", disse em comunicado.

A comissão de investigação já tinha pedido a cooperação voluntária destes deputados republicanos, assim como doutros legisladores do partido, mas todos recusaram o pedido para prestar declarações.

"Estes membros incluem-se naqueles que participaram em reuniões na Casa Branca, que tiveram conversas diretas com o presidente Trump antes e durante o ataque ao Capitólio e aqueles que estiveram envolvidos no planeamento e coordenação de certas atividades antes e durante o 6 de janeiro”, referiu ainda o comité de investigação, no anúncio das intimações.
Líder republicano acusa investigação de não ser "legítima”
Quanto a McCarthy, o republicano já tinha admitido que falou com Trump a 6 de janeiro de 2021, enquanto apoiantes do então presidente invadiam e agrediam as forças policiais no Capitólio. No entanto, o líder dos republicanos na câmara baixa do Congresso nunca deu muitos detalhes sobre esta conversa com o ex-chefe de Estado.

Por isso, a comissão de investigação solicitou, novamente, informações sobre as suas conversas com Trump "antes, durante e depois" do tumulto.

Após o anúncio da comissão, McCarthy disse, numa conferência de imprensa, que não soube de alguma intimação, mas que a sua opinião sobre o painel de investigação não mudou desde lhe pediram para colaborar, há uns meses.

“Eles não estão a conduzir uma investigação legítima”, disse McCarthy. “Parece que só querem ir atrás dos seus opositores políticos”.

Segundo o líder da minoria da Câmara dos Representantes, Trump já assumiu ter alguma responsabilidade no ataque ao Capitólio.

"Ele admitiu-me que tem alguma responsabilidade pelo que aconteceu. E tem de reconhecer isso", disse numa gravação divulgada pela CBS News.

Os membros da comissão de investigação nomeada pela Câmara dos Representantes pretendem analisar as conversas de McCarthy com Trump, no dia do ataque, assim como as reuniões que os outros quatro congressistas tiveram com a Administração norte-americana na altura, enquanto o ex-presidente e assessores conspiravam para reverter a derrota eleitoral e impedir a confirmação de Joe Biden.

As intimações a McCarthy, da Califórnia, e aos representantes republicanos Jim Jordan, de Ohio, Scott Perry, da Pensilvânia, Andy Biggs, do Arizona, e Mo Brooks, do Alabama, surgem numa altura em que a investigação está mais perto de ser concluída e a comissão de investigação se prepara para uma série de audiências públicas durante o verão.
Intimações "para fazer manchetes"
Se os cinco republicanos não acatarem as intimações, Thompson deixou claro que podem ser acusados por desobediência, como aconteceu com outros legisladores, embora os membros do painel ainda não tenham discutido essa medida. O painel também pode fazer uma referência à Comissão de Ética da Câmara ou explorar outras opções, disse ainda, acrescentando que pretendem ir "dando um passo de cada vez" e espera que os legisladores cumpram as intimações.

Para já, nenhum dos intimados confirmou que iria cumprir e colaborar com as investigação. Scott Perry disse à comunicação social que a investigação é uma “charada” e que a intimação é para “fazer manchetes”.

A decisão da comissão de investigação de intimar estes cinco republicanos, depois de ter recolhido informações de quase mil testemunhas, é um grande passo para o painel, uma vez que intimações a membros efetivos do Congresso, especialmente a um líder partidário, são praticamente inexistentes nas últimas décadas.

"Reconhecemos que isto é uma situação sem precedentes"
, disse o deputado de Illinois Adam Kinzinger, do painel de investigadores na quinta-feira. “Mas o ataque de 6 de janeiro foi um caso sem precedentes”.

“É importante para obtermos todas as informações que pudermos”, concluiu.

A comissão pediu também, segundo a CBS News, ao deputado republicano Ronny Jackson para colaborar voluntariamente com as investigações, não tendo ainda sido intimado.

Este painel da Câmara dos Representantes pretende apurar não só a conduta de Trump no dia 6 de janeiro de 2021, quando este apelou à multidão para "lutar incessantemente" contra o resultado eleitoral, mas também os esforços do presidente republicano, e da sua equipa, meses antes, na contestação da derrota eleitoral ou na obstrução a uma transição pacífica de poder.
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