Boeing 737 Max. Afinal o que pode estar na origem do acidente?

por Alexandre Brito - RTP
A Boeing tem mais de 4500 encomendas do 737 MAX para serem entregues em mais de 100 companhias aéreas em todo o mundo Reuters

Será ainda cedo para avançar de forma clara as razões para o acidente do Boeing 737 Max 8 da Ethiopian Airlines que caiu pouco depois de levantar voo. A caixa negra do avião, que pode dar mais pistas sobre o que aconteceu a bordo, chegou esta quinta-feira a Paris para ser analisada por especialistas. Mas as semelhanças entre este acidente e um outro, em outubro de 2018, parecem indicar que a causa está relacionada com um sistema de voo automático introduzido pela Boeing neste modelo. E com algum desconhecimento dos pilotos sobre esse mesmo sistema.

Os dados disponíveis até ao momento indicam que o Boeing 737 Max 8 levantou voo de Addis Abeba às 8h38 a caminho de Nairobi. Cerca de seis minutos depois, o avião caiu num pequena vila próximo da capital da Etiópia. Todas as pessoas a bordo – 157 – morreram.

Os registos do site que segue todos os voos comerciais mundiais – Flightradar – mostram que o avião subiu de forma errática, com velocidades instáveis. Acabou por se despenhar.

Não é ainda possível – se é que alguma vez será – afirmar que o acidente foi causado por erro humano ou técnico. A companhia aérea Ethiopian Airlines saiu em defesa do comandante, com mais de oito mil horas de voo. Garantiu ainda que o avião tinha sido alvo de manutenção “rigorosa” a 4 de fevereiro.

Especula-se nesta altura que o problema poderá estar no software deste Boeing. E num sistema de voo introduzido neste aparelho conhecido como MCAS – Maneuvering Characteristics Augmentation System.

Quando em outubro de 2018 um 737 Max da Lion Air caiu no Mar de Jacarta, os dados que foram então recolhidos mostram que o padrão de voo foi muito semelhante ao do acidente na Etiópia. Subida de forma errática com velocidades instáveis.

De acordo com o diário norte-americano The New York Times, que na altura investigou as causas desse acidente, o tal sistema MCAS poderá ter sido, pelo menos em parte, responsável pela queda.
O que é o MCAS?
O MCAS está localizado no nariz do avião e tem como função “sentir” a inclinação do aparelho e, se necessário, corrigir automaticamente a linha de voo. A má manutenção destes sensores poderá levar o sistema a pensar que o avião está a subir de forma vertical exagerada, num ângulo em que o ar deixa de correr devidamente pelas asas podendo originar problemas de sustentação e, eventualmente, uma quebra estrutural.

Para impedir isso, o sistema corrige automaticamente a inclinação. Ou seja, puxa o avião para baixo, com o nariz apontado para o chão.

De acordo com o New York Times, suspeita-se que em relação ao acidente de outubro, com um Boeing 737 MAX, os pilotos não sabiam sequer da existência deste sistema a bordo. As caixas negras revelaram que o comandante tentou corrigir, sem sucesso, a trajetória de queda. Mas nunca desligou o sistema.

O MCAS foi introduzido pela Boeing nestes 737 MAX para compensar as alterações aerodinâmicas provocadas pelos motoros maiores, mais potentes, mas também mais eficientes. É um sistema que ajuda os pilotos a manter o avião numa trajetória correta e impedir que atinja um ângulo de voo demasiado vertical. Veja o vídeo:


A Boeing continua a afirmar que mantém total confiança no avião. No entanto, acrescenta em comunicado, decidiu, numa “abundância de precaução e de forma a reassegurar o público sobre a segurança do avião, recomendar à FAA a suspensão temporária das operações de toda a frota de 737 MAX” .

A empresa acrescenta que está a fazer todos os possíveis para perceber “as causas do acidente em parceria com os investigadores”, ao mesmo tempo que adianta que está a fazer atualizações de segurança de forma a impedir que acidentes como estes voltem a acontecer.
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