BP acumula fracassos nas manobras para estancar derrame de petróleo

A BP está a preparar uma nova operação com robótica subaquática para tentar vedar a fuga de petróleo que se alastra há seis semanas no Golfo do México, após o fracasso de uma técnica conhecida como top kill. Ao longo de três dias, os técnicos da petrolífera verteram lama pesada e cimento sobre a ruptura do poço, uma solução que nunca havia sido aplicada a 1.520 metros de profundidade. Os responsáveis confessam-se “assustados”.

RTP /
O poço explorado pela BP está a libertar pelo menos 12 mil barris de petróleo por dia e a contaminar a costa do Lousiana Sean Gadner, EPA

Em 72 horas, as equipas de contenção envolvidas nas operações de limpeza do Golfo do México despejaram, a uma profundidade de 1.520 metros, 30 mil barris de lama pesada e cimento, a um ritmo de 80 barris por minuto. A fuga de petróleo não cessou. E a BP somou mais um fracasso a uma sequência de tentativas com custos estimados em mais de 940 milhões de dólares (765 milhões de euros).

"Não fomos capazes de parar o fluxo. Isto está a assustar toda a gente, o facto de não sermos capazes de fazer com que este poço pare de derramar, o facto de não termos sido bem sucedidos até agora", admitiu nas últimas horas o responsável pelos trabalhos, Doug Suttles. "Muitas das coisas que estávamos a tentar já foram feitas a superfície, mas nunca foram tentadas a mais de 1.500 metros [de profundidade]", acrescentou.

Aquele que começa a ser encarado como o pior desastre ecológico da história dos Estados Unidos teve início há seis semanas com a explosão e o afundamento de uma plataforma da petrolífera BP no Golfo do México - 11 pessoas morreram no colapso da Deepwater Horizon. A ruptura do poço está a libertar pelo menos 12 mil barris de petróleo por dia. O crude já poluiu, entretanto, mais de 110 quilómetros de linha costeira do Estado do Lousiana, contaminando fauna, flora, praias e zonas pantanosas.

Nova tentativa

O plano inicial passava pela colocação de uma cúpula de 125 toneladas sobre a fuga de petróleo, mas as operações falharam quando o mecanismo acabou bloqueado por cristais de gelo. Seguiu-se a aplicação de um tubo de grandes proporções desenhado para captar parte do petróleo. Uma vez mais, os esforços revelaram-se infrutíferos, apesar dos mais de três milhões de litros de crude sugados pelo tubo.

Concluída a técnica top kill, a BP aposta agora num sistema de contenção denominado LMRP (Lower Marine Riser Package). A técnica envolve a utilização de um robô subaquático equipado com uma serra mecânica: o objectivo é remover a tubagem danificada e cobrir o local da fuga com uma válvula de contenção.

A empresa espera aplicar a nova técnica durante os próximos quatro a sete dias. Ao mesmo tempo prossegue a perfuração de um poço contíguo para aliviar a fuga de petróleo, uma solução que tem vindo a ser apontada como permanente. Contudo, a própria BP admite que os trabalhos de perfuração só devem ser concluídos em Agosto. No sábado, 24 horas depois de uma deslocação às regiões atingidas, o Presidente norte-americano, Barack Obama, mostrava-se "enraivecido" e de "coração partido" perante a última operação gorada da petrolífera.

"Verão perdido"

Enquanto a BP acumula fracassos, cresce a ira entre as populações directamente afectadas pelo derrame de petróleo. Alguns pescadores do Louisiana começaram a instalar cartazes com palavras de protesto contra a empresa.

"Toda a gente começa a perceber que este Verão está perdido. E todo o nosso estilo de vida pode estar perdido", lamentou, em declarações à Associated Press, Michael Ballay, o gerente da marina de Cypress Cove, em Venice, no Estado do Louisiana. Foi naquela zona que o petróleo começou a chegar à costa, há quase duas semanas.

Para Johnny Nunez, o proprietário de uma empresa de aluguer de barcos de pesca em Shell Beach, as perspectivas são igualmente sombrias: "Se a pesca for má durante os próximos cinco anos, eu terei 60. Estarei acabado".

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