Brasil. Polícia do Rio de Janeiro abre inquérito após a morte de menina de 8 anos

por RTP
Pilar Olivares - EPA

As autoridades do Estado do Rio de Janeiro abriram um inquérito após a morte de uma menina de 8 anos, vítima de uma bala perdida durante uma intervenção policial na Favela do Alemão.

Ágatha Félix, de oito anos, foi baleada mortalmente na noite de sexta-feira. A menina ia para casa numa carrinha com a avó quando foi atingida por uma bala perdida durante uma intervenção policial na Favela do Alemão. Ágatha ainda foi levada para o hospital, mas acabou por morrer durante a noite de sábado.

A polícia afirmou ter agido contra os “ataques simultâneos de grupos criminosos em diferentes lugares” da favela, um dos bairros mais pobres da cidade e onde reina a criminalidade. Alegadamente, a polícia tinha como objetivo acertar num motociclista em fuga.

A versão, porém, foi negada por moradores e pela avó de Ágatha, uma das vozes que culpa a polícia pelo tiro fatal. Segundo várias testemunhas, não havia qualquer tipo de confronto na favela nesse momento. “Não teve tiroteio, o único tiro que teve foi o deles, fatal, foi o que tirou a vida da nossa sobrinha”, disse Elias Cesar, tio da vítima.
“A gente não vive, a gente tem de sobreviver a cada dia”
No sábado, centenas de pessoas manifestaram contra a violência policial na Favela do Alemão, defendendo o fim das operações da Polícia Militar e apontando o dedo ao Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witsel.

“Seu Governador, olhe por nós, os favelados, porque moram pessoas dignas na comunidade. Tem misericórdia do povo da comunidade, por favor”, apelou uma moradora da favela à RTP.

Outra habitante exclamou que “a gente não vive, a gente tem de sobreviver a cada dia”.

“A gente tem de parar com isto uma vez por todas, as pessoas têm direito à vida”, disse uma moradora da zona sul do Rio, que veio de propósito prestar homenagem e gritar pelo fim da violência.“Pára! Basta!”

Também o ator Fábio Assunção esteve presente no protesto, admitindo estar chocado com o ocorrido. Ao correspondente da RTP no Brasil, Pedro Sá Guerra, o ator falou em “cultura de genocídio”.

Na cidade de São Paulo, haverá uma manifestação em homenagem à menina na próxima sexta-feira, dia 27 de setembro.
1.249 pessoas mortas pela polícia no Rio de Janeiro desde o início do ano
Ágatha Félix é a quinta menor falecida durante operações da polícia este ano, de acordo com a Associação Fogo Cruzado, que recenseia o número de tiroteios que ocorrem no Rio de Janeiro.

Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP) do Brasil, entre janeiro e agosto deste ano já foram mortas 1.249 pessoas pela polícia no Estado do Rio de Janeiro, quase 200 pessoas a mais do que no mesmo período do ano passado.

Em 2019, sob o governo de Witzel, as mortes em ações policiais têm batido recordes. Com uma média de cinco mortes por dia, a polícia do Rio é a mais letal do Brasil.

Apesar das manifestações, nem Witsel, nem Bolsonaro, nem Moro, Ministro da Justiça, se pronunciaram sobre a morte de Ágatha. Atitude que o deputado Marcelo Freixo descreveu como “covardia ensurdecedora que dá a medida exata do carácter desse trio”.

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