Brasil. "Redes sociais vão ter papel fundamental nas eleições de 2018"

por Christopher Marques - RTP
O perito em meios digitais Renato de Paula antevê que as redes sociais tenham um papel fundamental nas eleições brasileiras de 2018 Nacho Doce - Reuters

O perito em meios digitais Renato de Paula antevê que as redes sociais tenham um papel fundamental nas eleições brasileiras de 2018. O especialista justifica esta visão com os baixos níveis de escolaridade e a elevada taxa de implementação das redes no país.

Em 2018, o Brasil vai a votos. As eleições realizam-se na sequência de uma forte crise política que abala a sociedade brasileira há pelo menos dois anos. Em 2016, a Presidente Dilma Rousseff foi destituída. Michel Temer subiu à Presidência, apesar da forte contestação de que é alvo e das suspeitas de corrupção.

Nas sondagens, o ex-Presidente Lula da Silva é dado como favorito para regressar ao Palácio do Planalto, apesar da condenação de que foi alvo no processo Lava Jato. Não é sequer certo que possa ser candidato.

As redes sociais prometem desempenhar um papel preponderante na contenda política do próximo ano. É pelo menos esta a convicção de Renato de Paula, especialista internacional em meios digitais. Em entrevista à RTP, o publicitário recorda que o Brasil conta com níveis de escolaridade mais baixos e elevada taxa de utilização de redes sociais, sendo terreno fértil para notícias falsas.

Renato de Paula é um especialista internacional em meios digitais. Nasceu em São Paulo, mas vive atualmente nos Estados Unidos, sendo um dos mais conceituados executivos de publicidade. É diretor-executivo da RED Fuse, agência que pertence ao WPP, o maior grupo de publicidade e marketing do mundo.

O aclamado publicitário é um dos convidados do Fronteiras XXI desta quarta-feira, dedicado ao tema “A verdade e a mentira nas redes sociais”.

A colunista Clara Ferreira Alves, o especialista em assuntos internacionais Bernardo Pires de Lima e o subdiretor de informação da RTP para a área multimédia, Alexandre Brito, fecham o painel de convidados. Um debate organizado pela RTP e pela Fundação Francisco Manuel dos Santos que é transmitido na RTP3.

RTP: O Brasil vive em crise política há pelo menos dois anos e tem eleições presidenciais marcadas para 2018. Que papel terão as redes sociais nesta contenda política?


Renato de Paula: O Brasil é um dos países com maior nível de utilização das redes sociais do mundo. O que está a acontecer com as redes sociais é o mesmo que acontece no resto do mundo, mas com uma grande diferença: o nível de educação média do povo brasileiro é mais baixo. É mais difícil o discernimento entre o que é real e não é real. As pessoas tendem a acreditar mais no que leem.

As redes sociais vão ter um papel fundamental nas eleições de 2018. Vão ser um aglutinador. Porque os verdadeiros problemas são os erros cometidos pelo Governo, o contexto macroeconómico e os casos de corrupção.

Quando temos todos estes problemas, grande nível de penetração das redes sociais e baixos níveis de educação, temos uma fórmula muito complicada. Pelo que pude entender, as redes sociais vão ter maior influência nas eleições do Brasil do que tiveram na Alemanha e em França.

As autoridades brasileiras e os partidos políticos estão a ter algum cuidado especial com as redes sociais?

Não sei se há cuidados especiais, mas todos se estão preparando para as utilizar. Todos os partidos têm equipas de marketing social e o assunto é prioritário. Vai ser um ano crítico. Mas vai ser também uma oportunidade para as novas gerações perceberem como discernir o que é real do que não é.

As redes sociais podem surgir como grande alternativa a uma imprensa tão politizada como é a brasileira?

Há alguma imprensa com maior propensão para a esquerda ou para a direita e as redes sociais podem ser uma alternativa. Mas as próprias redes sociais também vão ter essas inclinações. O que vai ser mais importante é controlar as verdades e mentiras. Depois irá contar quem tem mais voz e a melhor proposta.

A relação tensa entre parte do povo brasileiro e a sua imprensa não vai motivar o crescimento das redes sociais, inclusivamente de fake news?


Pode aumentar o crescimento das redes sociais e de fake news. Mas a verdade é que também há mais consciencialização em relação ao assunto e vão surgir contramovimentos em relação às fake news.

A grande questão é o tempo: temos três ou quatro meses para decidir a eleição e, muitas vezes, eliminar uma informação falsa demora mais tempo do que isso. E a informação falsa acaba por dominar o debate. Acredito que acabaremos por encontrar um ponto de equilíbrio, mas sem dúvida que as redes sociais vão ter um papel importantíssimo no resultado final das eleições brasileiras.
Tópicos
pub