Brasil reforça presença militar na fronteira com a Guiana e a Venezuela

por Graça Andrade Ramos - RTP
Marines brasileiros em exercícios Ricardo Moraes . Reuters

A possibilidade da Venezuela tentar anexar dois terços da vizinha Guiana tem preocupado o governo do Brasil, que ordenou o reforço da presença militar na região fronteiriça com os dois vizinhos.

Em comunicado, o exército brasileiro "garantiu, através do seu sistema de reconhecimento e de alerta, uma vigilância constante" na área, "para garantir a inviolabilidade das nossas fronteiras".

Anunciou assim "um reforço em tropas e em equipamento" nas cidades de Pacaraima e Boa Vista, no estado brasileiro de Roraima, a norte, que faz fronteira tanto com a Guiana como com a Venezuela. Está ainda previsto o envio de veículos blindados a partir do centro e do sul.

Uma brigada de infantaria com cerca de dois mil soldados, estacionada na região, "intensificou a sua ação de presença" com a missão de "vigilância e proteção do território nacional", acrescentou o exército.

As manobras respondem ao aumento de tensão entre os dois vizinhos a norte depois de a Venezuela ter avançado com um referendo sobre Essequibo, região que corresponde a dois terços do território da Guiana, com zonas ricas em minérios e em petróleo.

Os resultados oficiais ao referendo, muito contestados por observadores internacionais, referem que 10,4 milhões de eleitores participaram, tendo 95 por cento aprovado a integração de Essequibo na Venezuela.

Ato contínuo, o presidente da Venezuela atribuiu licenças de exploração de petróleo na área disputada, declarações consideradas "uma ameaça direta" pelo seu homólogo da Guiana, Irfaan Ali, que contudo tem tentado sossegar os seus cidadãos.
Prudência de Itimaraty
O Ministério brasileiro da Defesa já tinha anunciado na semana passada que os meios militares na sua fronteira norte seriam reforçados, antecipando a manobra venezuelana e o aumento da tensão, até porque os blindados deverão levar cerca de duas semanas a chegar a Roraima.

"O Ministério da Defesa tem acompanhado a situação. As ações de defesa têm sido intensificadas na região da fronteira ao Norte do país, promovendo maior presença militar", disse o ministério, numa nota enviada a 28 de novembro à BBC News Brasil.

"Atualmente, do lado brasileiro, a atividade na fronteira é normal", sublinhou o comunicado oficial desta quarta-feira.

Em círculos diplomáticos, a eventualidade de um avanço militar venezuelano sobre o território em disputa é tida como remota. Sublinham apesar disso a necessidade de cautela, pela possibilidade de Maduro poder usar o tema como plataforma da sua campanha à reeleição nas eleições presidenciais do país previstas para 2024.

Hipótese admitida como muito provável pelo professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Lucas Carlos Lima.

"Sem dúvida a decisão do referendo e o discurso de recuperação de um território supostamente perdido por uma ilegalidade é algo que move o espírito nacional e pode ser um argumento nas eleições. Sabemos que apelos ao nacionalismo podem ser fatores extremamente decisivos numa eleição. Isso pode também servir de teste da popularidade do atual governo", disse à BBC News Brasil.
Esforços infrutíferos
O Brasil tenta há meses fazer a ponte entre os seus vizinhos do norte. Cerca de 300 mil pessoas habitam Essequibo e o Brasil seria o seu refúgio natural em caso de conflito, abrindo uma nova crise humanitária e económica na região.

O presidente Lula da Silva já falou ao telefone com Irfaan Ali e enviou o seu assessor especial para questões internacionais a Caracas onde ele se reuniu com Nicolás Maduro. Em ambas as ocasiões o Brasil frisou a necessidade de resolver a questão de forma pacífica.

Apesar de garantias tranquilizadoras deixadas por Caracas, os Ministérios das Relações Exteriores e da Defesa iniciaram análises conjuntas do problema, das quais resultou o reforço dos meios militares a norte, uma vez que Essequibo faz fronteira direta com o estado de Roraima.

Dias depois, o jornal Folha de São Paulo noticiava a deslocação de 200 militares, veículos blindados e munições, para a base de Pacaraima, em Roraima. Meios agora reforçados.

PUB