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Brexit e imigração dominam cimeira europeia na Áustria

por Andrea Neves - Antena 1
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, enfatizou que há assuntos a tratar, a começar pelo Brexit Yves Herman - Reuters

A cimeira que tem início esta noite é informal, mas os dossiers em cima da mesa não permitem que os chefes de Estado e de governo relaxem em Salzburgo. O presidente do Conselho Europeu já disse que há assuntos a tratar, a começar pelo Brexit, que curiosamente será o último tema da agenda, a analisar no fim da tarde quinta-feira e já sem a presença da primeira-ministra britânica.

As negociações entram agora na fase final e Donald Tusk admite que pode ser necessário marcar uma cimeira extraordinária, sobre o Brexit, para novembro, como se pode ler na carta de convite para a cimeira que endereçou aos chefes de Estado e de governo.

"Discutiremos como organizar a fase final das conversações do Brexit, incluindo a possibilidade de convocar outro Conselho Europeu em novembro. Devemos reafirmar a necessidade de um apoio legalmente operacional à Irlanda, de modo a garantir que não haverá fronteiras rígidas no futuro", escreveu o responsável.

"Deixem-me lembrar que limitar o dano causado pelo Brexit é o nosso interesse comum. Infelizmente, um cenário de não acordo ainda é bem possível. Mas se todos agirmos com responsabilidade, podemos evitar uma catástrofe", enfatizou.

O presidente do Conselho Europeu quer que os 27 cheguem a uma visão comum sobre a forma geral da declaração política conjunta sobre a futura parceria com o Reino Unido.

Acena com a possibilidade de uma cimeira extraordinária mas o negociador chefe da União Europeia, Michel Barnier, diz que outubro é, como sempre foi, o mês decisivo: "Como eu sempre disse, o Conselho Europeu de outubro será o momento da verdade. Será o momento de vermos, como eu espero, se conseguimos chegar a um acordo para o qual trabalhámos".

A proposta para um eventual encontro extraordinário de alto nível surge na mesma semana em que o mayor de Londres pediu um segundo referendo sobre o Brexit. Sadiq Khan garante que está alarmado pela caótica situação das negociações.

“Infelizmente estamos agora numa situação em que as negociações podem levar a um de dois caminhos: um mau acordo, e isso inclui a possibilidade de sairmos sem qualquer relacionamento de futuro com a União Europeia, ou um não acordo. Ambas as situações seriam profundamente prejudiciais para Londres e para o país. O que digo é que o público britânico deve ter uma palavra a dizer sobre o resultado das negociações, incluindo a opção de permanecer na UE”, advertiu.
Do Brexit à crise migratória

A saída do Reino Unido deve acontecer em março do ano que vem, mas as partes tinham decidido que outubro seria o mês para firmar o acordo que formaliza a vontade britânica.

Supunha-se que a hipótese de não haver acordo já estivesse afastada, mas na atual situação até a directora-geral do FMI já veio pedir entendimentos. Christine Lagarde antecipa dificuldades para a economia britânica com a saída da União Europeia e garante que sem acordo será ainda pior.

A Áustria recebe os chefes de Estado e de governo porque tem a presidência rotativa da União Europeia e o chanceler Sebastian Kurz insiste na importância de um acordo: “Temos que fazer tudo o que for possível para evitar o Hard Brexit [saída dura] e que seja possível que exista uma forte cooperação entre o Reino Unido e a União Europeia depois de os britânicos saírem da União”.

Mas há mais em cima da mesa. Logo no jantar desta quarta-feira Donald Tusk quer falar sobre a crise migratória. O presidente do Conselho Europeu diz é uma tarefa de todos e que espera que se consiga ultrapassar ressentimentos em Salzburgo.

Na carta que enviou aos chefes de Estado e de governo o presidente do Conselho Europeu é claro.

"Vamos começar o nosso jantar na quarta-feira com uma discussão sobre migração. Durante o verão, as tensões entre os Estados-membros reapareceram mais uma vez. Quero declarar abertamente o seguinte: a missão de pôr fim à crise migratória é uma tarefa comum de todos os Estados-membros e instituições da UE. Se alguns quiserem resolver a crise, enquanto outros a querem usar, ela permanecerá insolúvel. Espero que em Salzburgo possamos acabar com o ressentimento mútuo e voltar a uma abordagem construtiva".

A situação vive, todavia, de extremos.

Em Viena, numa reunião com representantes europeus e africanos, o ministro luxemburguês dos Negócios Estrangeiros perdeu a paciência com o ministro italiano do Interior.

Jean Asselborn disse que a Europa precisava de migrantes, por causa do crescente envelhecimento da população. Matteo Salvini não gostou e respondeu que prefere que os italianos comecem a ter filhos em vez de receber “novos escravos” para substituir os filhos que os italianos já não fazem.

Asselborn irritou-se e respondeu: "No Luxemburgo, há milhares de italianos que vieram como migrantes e trabalham no Luxemburgo para que a Itália tivesse dinheiro para pagar pelos vossos filhos. Merde, alors".



Tensões que Donald Tusk quer esbater em Salzburgo, onde os chefes de Estado e de governo vão ainda falar sobre segurança europeia, sobre a necessidade de uma reposta comum a desastres naturais e sobre a melhor forma de garantir a resiliência no ciberespaço.
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