Brexit. Governo britânico com mais dois mil milhões para saída sem acordo

por RTP
Reuters - Kirsty Wigglesworth

O Governo britânico vai dispor de fundos adicionais para preparar uma saída da União Europeia sem acordo. O novo ministro das Finanças, Sajid Javid, anunciou esta quinta-feira que estes dois mil milhões de euros vão servir para armazenar medicamentos e contratar polícias para as fronteiras, mas não só.

“Com 92 dias até o Reino Unido deixar a União Europeia é vital que se intensifique o planeamento para garantir que estamos preparados", afirmou o novo ministro das Finanças, Sajid Javid.

"Os 2,1 mil milhões de libras [2,2 mil milhões de euros] vão garantir que estamos prontos para partir a 31 de outubro -com acordo ou não-acordo”, acrescentou.

O anúncio feito por Sajid Javid veio na sequência da insistência do primeiro-ministro britânico “em direção a um não-acordo totalmente evitável".

No início desta semana, Boris tinha pintado um quadro bastante otimista ao garantir que ainda havia "um amplo escopo para fazer um novo acordo e um acordo melhor”.

No entanto, o chefe de Estado britânico já decidiu “ligar o turbo” nos preparativos de uma saída sem acordo.

“O meu trabalho é tornar as ruas mais seguras. Isso começa por contratar mais 20 mil polícias”, lê-se num tweet do primeiro-ministro britânico.


Nos próximos três meses, Boris Johnson pretende utilizar os fundos adicionais para o Brexit na contratação de polícias para as fronteiras. Melhorar os transportes, armazenar medicamentos e aumentar o apoio consular aos britânicos residentes em países da UE vão ser mais algumas medidas a tomar pelo Governo britânico.

Ainda assim, o chefe de Estado do Reino Unido não pretende gastar os 2,2 mil milhões de euros apenas com estas burocracias. Metade desse valor – 1,21 mil milhões de euros – vai ser gasto imediatamente e o restante irá ficar disponível, caso seja necessário.

Um membro do parlamento do Reino Unido, John McDonnell, referiu que estas medidas podem ser “um desperdício terrível do dinheiro dos contribuintes”.

Este governo poderia ter descartado esta falta de acordo e gasto estes mil milhões em escolas, hospitais e nos cidadãos”, acrescentou.

Já na opinião do antigo diretor-geral da Força de Fronteira, Tony Smith, este dinheiro extra até pode ser um "passo na direção certa", mas deveria ter sido dado muito mais cedo.

"Não entendo porque não foi implementado há três anos, quando o Governo sabia que íamos deixar a União Europeia”, criticou Tony Smith.

Este novo financiamento junta-se aos 4,2 mil milhões de euros que o antecessor de Sajid Javid, Philip Hammond, já tinha atribuído para o mesmo efeito.

“Aconteça o que acontecer”

A fronteira da Irlanda com a Irlanda do Norte tem sido uma das prioridades do sucessor de Theresa May e um dos maiores impasses nas negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia.

Boris não pretendia abrir mão do elemento mais contestado do acordo de divórcio, mas agora apenas tem em vista a saída da UE dentro do prazo previamente estipulado.

Apesar de Johnson estar disposto a chegar a um acordo sem uma solução para a Irlanda do Norte, as negociações continuam.

"Penso que percebem que o Reino Unido e a UE são duas grandes entidades políticas e que é possível chegarmos a um novo acordo que irá beneficiar ambos os lados", argumentou o chefe de Estado britânico.

Em último recurso, o backstop pode ser a única solução para evitar uma "fronteira dura" que imponha inspeções aduaneiras ou infraestruturas físicas.

A criação de um "território aduaneiro comum" que abranja a UE e o Reino Unido, sem quotas ou quaisquer tipos de tarifas, pode ser a melhor forma de chegar a um possível acordo.

O primeiro-ministro Boris Johnson está disposto a tirar o Reino Unido da UE a 31 de outubro, “aconteça o que acontecer”.

 

Tópicos
pub