Cabo Verde sem crianças para adoção apesar de dezenas de pedidos de Portugal

por Lusa

As autoridades de Cabo Verde têm pendentes 75 processos administrativos de pedidos de adoção internacional de crianças cabo-verdianas, mais de metade apresentados por famílias portuguesas, que continuam por concretizar.

Os dados constam do relatório anual sobre a situação da Justiça, referente ao ano judicial 2019/2020 (01 de agosto a 31 de julho), elaborado pelo Conselho Superior do Ministério Público (CSMP), sendo que neste último ano as autoridades cabo-verdianas receberam dois novos pedidos de adoção, ambos de Portugal, tal como o único caso no ano 2018/2019, que terminou com 78 processos pendentes.

Desse total, de 80 processos administrativos com pedidos de adoção tramitados, cinco foram arquivados no último judicial, sendo três por desistência, todos de Portugal, e dois "na sequência da adoção plena" em virtude dos pedidos provenientes do Brasil e da França, pelo que continuam pendentes 75 pedidos e transitados para o novo ano judicial, que se iniciou em 01 de outubro.

O parlamento de Cabo Verde discute hoje o estado da Justiça no país, abordando nomeadamente este relatório do MP.

Do total de processos pendentes, 56 são oriundos de Portugal, nove de França, oito de Espanha, um de Itália e um através dos tribunais cabo-verdianos, refere o relatório do CSMP.

Dos 75 processos administrativos com pedidos de adoção internacional pendentes, 64 aguardam ainda a "identificação de criança para adoção", enquanto um refere-se ao processo de candidatura com criança identificada, oito a processos de regularização de situações de crianças a viver com os futuros pais adotivos no estrangeiro, mas "com o processo de adoção ainda não concluído", um refere-se a uma criança falecida em Itália e outro a um processo de adoção plena.

"A maioria dos processos pendentes deram entrada entre 2005 e 2009", refere o relatório do Ministério Público cabo-verdiano, que recorda que com a alteração das competências de Autoridade Central para a Adoção Internacional, essas foram transferidos para a Procuradoria-Geral da República (PGR).

"A situação relativa a crianças disponíveis para adoção não se alterou no ano judicial de 2019/2020, ou seja, as informações provindas das instituições nacionais, mais especificamente do ICCA [Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente], referem que não existem crianças disponíveis para adoção internacional, o que vem acontecendo nos últimos cinco anos, razão pela qual tem ocorrido desistência nos pedidos pendentes e não tem havido muitas entradas de candidaturas para novas adoções", lê-se no relatório, que justifica assim o número (64) "elevado de processos de candidaturas pendentes".

O Conselho para a Adoção Internacional (CAI), recentemente instalado, é o organismo da PGR cabo-verdiana que coordena os processos de adoção internacional, em cooperação com o secretariado da Convenção de Haia e autoridades centrais congéneres.

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