Cardeal da Nicarágua apela à polícia para evitar violência e lamenta cerco de catedral

por Lusa
Protestos pela libertação de presos políticos na Nicarágua EPA

Tegucigalpa, 18 mai 2019 (Lusa) - O cardeal da Nicarágua apelou à Polícia Nacional na sexta-feira para "evitar mais violência" e lamentou o cerco à Catedral Metropolitana de Manágua, em busca de opositores ao Governo do Presidente Daniel Ortega.

"Eu vi um vídeo no qual a minha Catedral está praticamente rodeada pela polícia (...). É lamentável", disse Leopoldo Brenes numa conferência de imprensa do Conselho Episcopal Latino-Americano, que está a ter lugar nas Honduras.

Brenes apelou à Polícia Nacional da Nicarágua "para evitar mais violência, porque a violência gera mais violência e traz mais desconfiança" entre os cidadãos.

Familiares dos "presos políticos" na Nicarágua realizaram na sexta-feira um protesto no qual se exigiu justiça para os opositores "assassinados".

A manifestação teve lugar depois da morte de um opositor do regime, a tiro, na quinta-feira, na prisão "La Modelo".

Os grupos escolheram a catedral de Manágua para a manifestação.

Dezenas de patrulhas com centenas de polícias cercaram a catedral, horas antes, e há testemunhos de que vários jovens foram perseguidos e detidos nos portões da igreja católica.

Na quinta-feira, um opositor detido na Nicarágua por ter participado em manifestações antigovernamentais morreu durante um incidente ocorrido numa prisão de alta segurança.

Eddy Montes, de 57 anos, foi ferido durante "um confronto" com um segurança, ao qual pretendia roubar a arma, tendo morrido no hospital para onde foi levado, indicaram as autoridades em comunicado.

Eddy Montes foi detido em novembro de 2018, durante manifestações contra o Presidente nicaraguense, Daniel Ortega, e foi acusado de atos terroristas, roubo e uso de armas proibidas, além de outros delitos.

Nos últimos dias, familiares dos detidos e organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram a deterioração das condições de detenção.

Desde abril de 2018, a repressão do regime causou 325 mortos, centenas de opositores foram detidos e mais de 62 mil nicaraguenses fugiram do país, de acordo com organizações de defesa dos direitos humanos.

Também a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, lembrou no mês passado que "mais de 300 pessoas foram mortas, duas mil feridas, 62 mil deslocadas para fora do país e várias centenas privadas de liberdade" durante a repressão em 2018.

A Nicarágua vive uma crise desde que, a 18 de abril de 2018, uma controversa reforma da segurança social desencadeou uma onda de contestação popular a exigir a demissão de Daniel Ortega, há quase 12 anos consecutivos no poder.

O Governo só reconheceu a existência de 199 vítimas mortais e denunciou uma alegada tentativa de golpe de Estado.

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