Cartas-bomba em Espanha. EUA suspeitam de envolvimento das secretas russas

por Inês Moreira Santos - RTP
Susana Vera - Reuters

As autoridades norte-americanas acreditam que os Serviços de Informação das Forças Armadas Russas (GRU) podem estar envolvidos no envio de cartas-bomba para vários locais de Espanha. A notícia foi avançada pelo New York Times, cujas fontes revelaram haver suspeitas de que Moscovo tenha coordenado um grupo de supremacia branca, o Movimento Imperial Russo. Teme-se mais atos terroristas nos países europeus que apoiem a Ucrânia.

Agentes dos serviços secretos da Rússia terão orientado militantes do Movimento Imperial Russo, um grupo supremacista branco baseado no país, a enviar explosivos tendo como destino o primeiro-ministro espanhol, o ministro da Defesa de Espanha e alguns diplomatas estrangeiros. A informação é dos serviços de informação dos Estados Unidos e da União Europeia, que investigam as cartas-bomba enviadas no final de novembro a vários locais em território espanhol – incluindo a residência oficial de Pedro Sánchez, as embaixadas dos EUA e da Ucrânia em Madrid e ainda o Ministério da Defesa.

Na altura, não houve vítimas mortais. Um funcionário da Embaixada ucraniana ficou ferido e as autoridades norte-americanas consideraram o incidente como um ato terrorista.

Ao New York Times, os serviços de informação norte-americanos revelaram que têm investigado o Movimento Imperial Russo, com membros em toda a Europa, e que crêem que haja ligações às agências russas de inteligência. Há indícios, segundo as mesmas fontes, de que elementos de relevo deste organismo considerado terrorista estiveram em território espanhol, tendo a polícia local identificado ligações a organizações espanholas de extrema-direita.

Washington acredita que foram agentes russos a coordenar os atos terroristas, ao enviar explosivos em Espanha, com a intenção de apanhar os Governos europeus desprevenidos. Além disso, as autoridades dos EUA receiam que Moscovo esteja preparar-se para escalar o conflito, ameaçando países europeus que apoiem a Ucrânia.
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De acordo com a investigação norte-americana, citada na publicação, o objetivo do envio das cartas-bomba a Espanha era mostrar que a Rússia e aliados tinham a capacidade de orquestrar ataques terroristas na Europa, “inclusive nas capitais dos Estados-membros da NATO, que estão a ajudar a Ucrânia a defender-se contra a ofensiva russa”. A Espanha é membro da Aliança Atlântica e tem fornecido ajuda militar, humanitária e apoio diplomático a Kiev.

Um dos envelopes com explosivos foi enviado para as instalações da Instalaza, uma empresa de Zaragoza, no nordeste de Espanha, que desenvolve e fabrica armas e granadas – armamento que o Governo espanhol enviou para a Ucrânia. Um segundo explosivo teve como destino a base aérea de Torrejón de Ardoz, nos arredores de Madrid.

Não há qualquer indício de que o Kremlin esteja prestes a atacar algum país europeu ou membro da NATO, escalando o conflito. Mas os EUA temem que a estratégia russa mude se a Ucrânia continuar a resistir e a reconquistar território invadido pelas forças de Moscovo. As autoridades norte-americanas referiram ao NYT que o presidente russo, Vladimir Putin, deu orientações aos serviços de inteligência do país para desenvolver e conduzir “operações secretas na Europa”.

“Isto parecer uma espécie de aviso”, disse ao jornal Nathan Sales, coordenador do Departamento de Antiterrorismo dos EUA. “É a Rússia a enviar um sinal de que está preparada para realizar atos terroristas para atacar a retaguarda do Ocidente”.
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Embora os Serviços de Informação Militar dos EUA não possam ainda provar que há mesmo relações entre os membros do Movimento Imperial Russo e os GRU, sabem que o grupo de supremacia branca tem realizado, nos últimos anos, várias “ações secretas e fatais com impunidade” – esta organização terrorista esteve envolvida na interferência das eleições norte-americanas de 2016 e na queda de um avião civil da Malásia, em território ucraniano, em 2014.

Os especialistas norte-americanos e europeus referiram ainda que uma unidade específica do Movimento Imperial Russo tentou “destabilizar a Europa”, sendo constituída por veteranos de guerra russos e de carater tão secreto que nem as Forças Armadas Russas tinham conhecimento da sua existência. No caso das cartas-bomba enviadas para Espanha, os investigadores acreditam que os envolvidos pertençam a um Centro de Treino Especializado para Fins Especiais, sediado a leste de Moscovo.

A maioria deste tipo de organização está ligada à inteligência russa, seja o GRU ou o FSB”, disse Fiona Hill, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, referindo-se também ao Serviço Federal de Segurança, a agência de inteligência interna da Rússia.

“Muitas vezes, são apenas grupos de fachada para as atividades secretas de inteligência militar”, continuou, acrescentando que os oficiais dos serviços de inteligência usam os grupos para gerar confusão.

A investigação está a ser levada a cabo pelos serviços de inteligência norte-americanos, britânicos e a polícia espanhola, desde os finais de novembro de 2022. Entretanto, as informações de todos coincidiam e levaram às suspeitas sobre as ligações do Kremlin ao grupo de supremacistas – movimento radical que está “apenas parcialmente alinhado com o Governo russo”, mas que tem os mesmos “objetivos de Moscovo de destabilizar os Governo ocidentais e semear o caos na Europa”.
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