Casa da confusão. Biden venceu mas Trump não aceita. O que está a acontecer?

por Alexandre Brito - RTP
Reuters

À entrada da primeira semana após a eleição presidencial nos Estados Unidos, que terminou com a vitória do candidato democrata Joe Biden, paira um nevoeiro de dúvidas e incertezas sobre a Casa Branca. O atual inquilino, Donald Trump, continua a não reconhecer a derrota, continua a prometer luta nos tribunais e continua a deixar o país no limbo. Já Joe Biden, numa espécie de falsa partida, começa esta segunda-feira a fazer o que tinha prometido em tempo de campanha. Vai apresentar uma equipa para elaborar um plano de combate à Covid-19.

A verdade é que oficialmente Joe Biden não é ainda o candidato vencedor destas eleições.

Após o voto popular, os membros do Colégio Eleitoral “comprometem-se” a votar no candidato que venceu no Estado. Mas não há quaisquer provisões constitucionais ou peça de legislação federal que vincule os “eleitores” a votarem segundo os resultados do voto popular nos respetivos Estados.

No curso da história da democracia dos Estados Unidos mais de 99 por cento dos “eleitores” honraram o compromisso partidário, como explica o Carlos Santos Neves neste artigo sobre como funciona o Colégio Eleitoral.

Trump sabe disso. E num aparente ato de desespero começou a partilhar no Twitter, esta madrugada, publicações que vão nesse sentido, ou seja, que levantam a possibilidade de os membros do Colégio Eleitoral não seguirem a tradição de votaram no candidato que venceu no Estado.
O Presidente norte-americano continua a lançar e a partilhar outros tweets com vídeos onde são levantadas dúvidas sobre a forma como decorreu a contagem dos votos. É fundamental reafirmar que, até ao momento, não há notícias de que tenha havido qualquer tipo de fraude.

Mesmo dentro do Partido Republicano a cautela tem sido imensa. Apesar de, salvo raras exceções, ainda não terem atribuído a vitória a Biden, os republicanos têm também mantido alguma distância em relação a Donald Trump.

Mesmo no seio da família Trump, de acordo com notícias divulgadas este fim-de-semana por vários meios de comunicação norte-americanos, parece haver alguma divisão. 

Escreve a CNN que tanto a mulher Melania, como o genro Jared Kushner terão falado com o Presidente para que seja elaborarada uma estratégia de saída. Os filhos, Donald Jr. e Eric continua numa retórica de batalha.

O cerco, no entanto, aperta-se, até quando se olha para fora de fronteiras. Se as primeiras horas foram de alguma cautela, aos poucos os líderes de vários países estão a felicitar Joe Biden pela vitória.

Algumas dessas reações terão enfurecido Donald Trump, em particular a do primeiro-ministro israelita Benjamin Ntanyahu.
Mas também não terá reagido bem à declaração do primeiro-minsitro bitânico Boris Johnson que congratulou "Joe Biden e Kamala Harris pelo feito histórico".

Uma vez mais Trump foi para o Twitter lamentar, indiretamente, estas declarações, com um tweet onde questiona dese quando é que são os meios de comunicação que decidem quem vai ser o próximo presidente. 
Enquanto isto, Joe Biden prepara-se para lançar esta segunda-feira uma equipa com 12 membros para elaborar um plano de ataque à pandemia de Covid-19 que está a atingir de forma severa os Estados Unidos da América. Tal como prometido, esta task-force será composta por cientistas e especialistas em várias áreas.

Uma iniciativa que acontece no mesmo dia em que o vice-presidente Mike Pence volta a reunir com a equipa da Casa Branca para o mesmo efeito. Há semanas que não tinham um encontro por causa da campanha eleitoral.

Na impossibilidade de dar início ao trabalho de transição, uma vez que Trump não reconheceu a derrota, resta a Joe Biden preparar o que prometeu fazer nos primeiros dias na presidência em caso de vitória. 

A começar pela elaboração de várias ordens executivas para reverter as decisões de Donald Trump de retirar os Estados Unidos da América da Organização Mundial da Saúde e do acordo climático de Paris.
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