Catalunha. Carles Puigdemont afasta-se provisoriamente e quer Jordi Sànchez na Generalitat

por Christopher Marques - RTP
Sànchez dirigiu até ao passado mês de novembro a organização independentista Assembleia Nacional Catalã. Está preso desde outubro Eric Gaillard - Reuters

Carles Puigdemont anunciou esta quinta-feira que renuncia “de forma provisória” à investidura como presidente da Generalitat da Catalunha. O político catalão anunciou que o seu partido apresentará o seu número dois, Jordi Sànchez, como substituto. Sánchez dirigiu até ao passado mês de novembro a organização independentista Assembleia Nacional Catalã. Está preso desde outubro.

Depois de dois meses de incerteza, Carles Puigdemont deu um passo para desbloquear a situação política na Catalunha. Num vídeo publicado nas redes sociais, o líder do Juntos pela Catalunha anunciou que renuncia à investidura como presidente do Governo catalão.

“Informei hoje o presidente do Parlamento que, de forma provisória, não apresento a minha candidatura à presidência da Catalunha. Pedi-lhe que iniciasse o mais rapidamente possível uma ronda de audições para que seja nomeado outro candidato”, afirmou no vídeo.

Carles Puigdemont anunciou ainda que o seu partido irá propor Jordi Sànchez como candidato à presidência da Generalitat. “Sànchez é o número dois da nossa lista e representa como ninguém os valores do Juntos pela Catalunha e é um homem de paz”, explicitou.

Jordi Sánchez é um reputado dirigente independentista da Catalunha. Dirigiu à organização Assembleia Nacional Catalã até novembro de 2017, quando renunciou ao cargo para se juntar à lista de Puigdemont às eleições regionais de dezembro. Jordi Sánchez encontra-se preso desde outubro de 2017, acusado dos crimes de sedição e rebelião.

A renúncia à investidura de Puigdemont apresenta-se como uma forma de tentar ultrapassar o impasse que se vive no hemiciclo catalão. Apesar de ter o voto da maioria dos deputados, Carles Puigdemont não foi investido, uma vez que não compareceu no Parlamento de Barcelona e que não é permitida uma investidura à distância.

O presidente destituído da Catalunha continua a ser alvo de um mandado de detenção emitido por Madrid, pelo que seria detido ao entrar em território espanhol.
Queixa nas Nações Unidas
Para além de anunciar a sua renúncia provisória, Carles Puigdemont revelou que deu início a uma “ofensiva jurídica e política a nível internacional” contra o Governo de Espanha.

O presidente destituído da Catalunha explicou que apresentou uma denúncia contra Madrid no Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas por “violação da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Carta dos Direitos Civis e Políticos”.



O líder catalão, que se encontra em Bruxelas desde o passado mês de outubro, insistiu que os independentistas não irão desistir.

“Nenhum povo que manteve a defesa da sua dignidade alguma vez perdeu. Demorou mais ou menos mas, com paciência, perseverança e persistência, ganharam sempre”, afirmou.

A decisão de Carles Puigdemont foi revelada no dia em que o Parlamento catalão votou uma moção que classifica a destituição de Puigdemont como "ilegal e ilegítima". No entanto, os deputados não ratificaram a declaração de independência feita o ano passado.
"Vontade do povo da Catalunha"
A renúncia de Carles Puigdemont acontece mais de dois meses depois das eleições regionais e é o resultado de prolongadas negociações entre os três partidos que defendem a independência da região: Juntos pela Catalunha de Carles Puigdemont, Esquerda Republicana da Catalunha de Oriol Junqueras e os radicais da Candidatura de Unidade Popular.

Carles Puigdemont justifica a decisão com a necessidade de a Catalunha ter um “novo Governo” que “respeite o acordo e a vontade do povo da Catalunha”. “Que as nossas instituições continuem governadas pelo independentismo e não pelo utilitarismo do 155”, justifica, numa referência ao artigo da Constituição espanhola que permitiu suspender a autonomia da região.

No entanto, ainda não é certo que Jordi Sànchez possa ser investido como Presidente do executivo regional. O ex-presidente da Assembleia Nacional Catalã encontra-se preso e não é certo que a justiça espanhola permita a sua deslocação até ao Parlamento da Catalunha para que seja investido.

O Governo de Espanha tem garantido que manterá a suspensão da autonomia da Catalunha até que seja apresentado um candidato à presidência da Catalunha que não esteja a ser alvo de um processo judicial.
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