Centenas de enfermeiros investigados por alegada fraude de qualificações no Reino Unido

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Luis Melendez - Unsplash

Mais de 700 profissionais de saúde estão envolvidos num potencial escândalo por terem participado numa alegada fraude de qualificações "à escala industrial" em centros de exames na Nigéria, revelou esta quarta-feira o jornal The Guardian.

Centenas de profissionais do Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS) continuam ao serviço apesar de estarem a ser investigados por um esquema de fraude que envolve, alegadamente, pessoas que se fazem passar pelos enfermeiros e realizam o exame informatizado de admissão na Nigéria, um critério obrigatório para que possam ser inscritos e autorizados a trabalhar no Reino Unido.

"É muito, muito preocupante que haja uma organização que se envolva em atividades fraudulentas, que permita aos enfermeiros contornar estes testes, ou que recorra a substitutos para fazer os exames por eles", afirmou Peter Carter, antigo diretor executivo do Royal College of Nursing (RCN), em entrevista ao Guardian.
"A implicação é que acabamos por ter no Reino Unido enfermeiros que não são competentes" e podem colocar em risco os pacientes, explicou Carter.

Peter Carter, um dos antigos presidentes do NHS, defende que os enfermeiros que vão para o Reino Unido devem ser devidamente qualificados, dado o seu papel tanto na administração de medicamentos como na resposta a emergências médicas como uma paragem cardíaca.

Face à crise de recrutamento e de retenção de pessoal que o país enfrenta na prestação de cuidados de saúde e de assistência pessoal, o Conselho de Enfermagem e Obstetrícia britânico (NMC, na sigla em inglês) tem centros de exames espalhados por todo o mundo. 

No entanto, terá deixado de utilizar 40 dos seus 800 centros de exames por suspeita de estarem envolvidos em atividades fraudulentas generalizadas, nomeadamente depois de ter vindo a lume no ano passado o caso do Centro de Exames da Yunnik, na cidade nigeriana de Ibadan, onde se suspeita que alguns enfermeiros tenham obtido resultados dos exames de forma fraudulenta.

O NMC declarou inválidos, desde então, os resultados dos exames informatizados de 1.955 profissionais de saúde nigerianos, a quem foi dada a oportunidade de voltar a realizar o exame ou enfrentar a exclusão do registo e possível expulsão do país. Embora o regulador não tenha conseguido provar que houve fraude em 1238 deste casos.

Um porta-voz do Ministério da Saúde e da Assistência Social britânico afirmou que estavam “cientes das investigações de fraude do Conselho de Enfermagem e Obstetrícia (NMC) sobre enfermeiros que passaram no seu teste informatizado num centro na Nigéria”, segundo conta The Guardian. "Fomos informados de que o NMC está a tomar todas as medidas necessárias para garantir a integridade do seu registo e a proteção da segurança dos doentes", acrescentou.
NMC "a analisar cuidadosamente cada pedido"

Quarenta e oito enfermeiros que estão a ser investigados desde setemebro continuam a trabalhar no Serviço Nacional de Saúde britânico (NHS) porque o Conselho de Enfermagem e Obstetrícia (NMC) não pode anular a sua admissão no registo nem suspendê-lo,  apenas pode submetê-los a um novo exame para provar que as suas competências estão em conformidade com as normas do NHS, segundo informação revelada em setembro pela entidade reguladora da saúde.

Segundo Andrea Sutcliffe, diretora executiva e responsável pelo registo do NMC, no próximo mês de março serão realizadas audições, constituídas por um painel independente, que "decidirá se essas pessoas obtiveram uma entrada fraudulenta no nosso registo. Em caso afirmativo, é provável que sejam retiradas do registo".

No entanto, foram revelados esta quarta-feira que existem novos “669 candidatos ao registo sobre os quais temos as mesmas preocupações em relação à fraude", na sua maioria enfermeiros, explicou Sutcliffe. 

De acordo com a diretora executiva, o NMC está "a analisar cuidadosamente cada pedido". Mas avança que, até ao momento, já foram recusados 80 desses novos pedidos analisados, embora "esses indivíduos possam recorrer".
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