Chefe da UNRWA acusa Israel de "campanha concertada" para fechar a agência

O chefe da agência de refugiados palestinianos das Nações Unidas (UNRWA, na sigla em inglês) acusou Israel de orquestrar uma "campanha concertada" com vista a pôr fim às operações da organização. A agência da ONU pode ficar sem apoios e financiamento devido à "desinformação" israelita, alertou ainda Philippe Lazzarini em resposta às alegações de que a UNRWA emprega 450 "agentes militares" do Hamas e de outros grupos armados.

Inês Moreira Santos - RTP /
O líder da UNRWA advertiu que o "pior ainda está para vir", denunciando a morte de "bebés de meses" devido a "subnutrição e desidratação" e amputações em crianças sem "anestesia". Johanna Geron - Reuters

“A Agência das Nações Unidas para os Refugiados da Palestina está num ponto de rutura”, começou Philippe Lazzarini por declarar na Assembleia Geral da ONU, acrescentando que em breve a UNRWA pode ficar em condições de cumprir as suas funções se tiver cortes no financiamento, em consequência das alegações de Israel.

“Setenta e cinco anos após a sua criação por esta Assembleia como entidade temporária da ONU, enquanto se aguarda uma solução política justa para a questão da Palestina, a capacidade da Agência para cumprir o seu mandato está seriamente ameaçada”.


Nesse sentido, Lazzarini reforça que a crise financeira que a organização enfrenta “deve ser resolvida para que esta possa continuar as suas operações que salvam vidas”.

No discurso na Assembleia Geral da ONU, Lazzarini acusou Israel de levar a cabo uma campanha de desinformação contra a UNRWA.

"As operações da agência são mandatadas por esta Assembleia e parte desta campanha passa por inundar os financiadores com desinformação destinada a fomentar a desconfiança e a manchar a reputação da agência. Mais flagrante ainda é o facto de o primeiro-ministro israelita ter declarado abertamente que a UNRWA não fará parte da Gaza do pós-guerra", afirmou.

O responsável da agência da ONU acrescentou que a execução deste plano já está em curso com a "destruição" das infraestruturas da UNRWA "em toda a Faixa de Gaza". Para Lazzarini, "só a UNRWA tem a capacidade de prestar serviços, incluindo educação e cuidados de saúde primários em grande escala, na ausência de uma autoridade estatal de pleno direito".

"O fornecimento de educação a meio milhão de crianças profundamente traumatizadas que vivem entre escombros está claramente ausente das discussões sobre a transferência da prestação de serviços em Gaza", salientou o chefe da UNRWA.


O número de crianças que já morreram devido a subnutrição e a cuidados médicos inadequados em Gaza aumentou para 16, de acordo com fontes médicas. E com a suspensão das entregas de comida por parte do Programa Alimentar Mundial, milhares de palestinianos estão a fugir da fome no norte do enclave e a dirigir-se para sul em busca de alimentos.

Tendo em conta este cenário, o líder da UNRWA advertiu que o "pior ainda está para vir", denunciando a morte de "bebés de meses" devido a "subnutrição e desidratação" e amputações em crianças sem "anestesia".

O Exército israelita acusou, nos últimos dias, a UNRWA de empregar “mais de 450 terroristas” e divulgou alegadas gravações de dois funcionários, em que descrevem a sua participação no ataque do Hamas contra Israel.



De acordo com o exército, os serviços de informações determinaram que a UNRWA “emprega mais de 450 membros de organizações terroristas na Faixa de Gaza, principalmente o Hamas” e que estes grupos “exploram rotineiramente organizações de ajuda internacional para fins terroristas”.

Para o porta-voz do exército israelita, Daniel Hagari, a colaboração dos funcionários da UNRWA com o Hamas não é um acontecimento isolado, mas um padrão.

C/agências
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