Chefia do Partido Comunista em Urumqi anuncia pena capital para sublevados

O dirigente do Partido Comunista da China em Urumqi, a capital de Xinjiang, reserva a pena de morte a todos os que "cometeram crimes cruéis" nos motins dos últimos dias. Li Zhi atribui a responsabilidade pela violência às duas etnias que habitam o noroeste da China, os han e os uighures, e garante que "a situação está controlada", apesar de ataques esporádicos.

RTP /
O Governo chinês reforçou em 20 mil operacionais militares o dispositivo de segurança implementado em Urumqi Diego Azubel, EPA

Dezenas de milhares de efectivos das forças de segurança chinesas ocupavam, esta quarta-feira, em Urumqi, as zonas de delimitação entre os bairros habitados por chineses han e pela minoria muçulmana uighure. Três dias de motins e violência entre as duas etnias, esmagados por um poderoso dispositivo do braço da ordem do regime chinês, fizeram pelo menos 156 mortos e mais de 1.100 feridos, segundo os números oficiais de Pequim. Os dissidentes uighures asseguram que o número de vítimas mortais ascende a quatro centenas.

A capital da região setentrional de Xinjiang, com uma massa populacional de 2,3 milhões de habitantes, vive hoje um quadro de lei marcial. No sector muçulmano, centenas de operacionais paramilitares armados com espingardas automáticas vigiam todos os movimentos. A acompanhá-los estão outros tantos efectivos das brigadas de intervenção, equipados com escudos e bastões.

O objectivo declarado das autoridades é vedar o bairro uighure a novas investidas de chineses han - a etnia maioritária do país -, que procuram vingar-se dos actos de violência cometidos no fim-de-semana durante os motins da minoria muçulmana. Enquanto as forças de segurança varrem as ruas, alguns helicópteros lançam panfletos sobre a cidade com apelos à calma. Ainda assim a violência prossegue, embora menos frequente.

Na versão da agência oficial Xinhua, Urumqi foi palco, nas últimas horas, de "confrontos esporádicos" entre manifestantes e as forças da ordem. Segundo a Reuters, uma multidão de mil chineses han travou um novo braço-de-ferro com a polícia. A agência France Presse, que dispõe de jornalistas no terreno, relata pelo menos dois incidentes separados de ataques de chineses han contra uighures: uma das acções envolveu seis pessoas, que agrediram a murro e a pontapé um homem uighure enquanto dezenas de han encorajavam a violência.

Pequim culpa exilados

Os dissidentes uighures alegam que os motins de domingo foram desencadeados por incidentes ocorridos a 25 de Junho, quando dois operários fabris da minoria muçulmana morreram durante uma confrontação com chineses han em Shaoguan, no Sul da China.

Li Zhi, dirigente do Partido Comunista em Urumqi, afirma que "a situação está controlada" e que "os pequenos grupos de pessoas violentas já foram apanhados pela polícia". Todos aqueles que vierem a ser considerados culpados de assassínio "serão executados". O mesmo responsável responsabiliza as duas etnias pelo caos na cidade. Mas é aos exilados uighures que parte dos folhetos lançados sobre a capital de Xinjiang atribui a orquestração dos motins.

O dedo acusador de Pequim isola Rebiya Kadeer, figura de proa dos dissidentes da etnia muçulmana exilados nos Estados Unidos. A exilada uighure denuncia, por sua vez, a "força excessiva" aplicada pelas forças de segurança destacadas para Urumqi.

A situação em Xinjiang levou o Presidente chinês a cancelar a sua participação na cimeira do G8, que decorre na cidade italiana de L'Aquila. Hu Jintao adiou também uma visita oficial a Portugal, inicialmente prevista para sexta-feira.

A tensão no noroeste da China, onde a minoria muçulmana está concentrada, acentuou-se nos últimos anos com a chegada de milhares de chineses han. Os uighures ligam a explosão da população han a uma discriminação crescente no acesso ao mercado de trabalho.

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