China avisa Estados Unidos para não trilharem "as linhas vermelhas"

por Cristina Sambado - RTP
Mark Schiefelbein - Reuters

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, advertiu o homólogo norte-americano para que Washington não pise as "linhas vermelhas" de Pequim. Esta sexta-feira, Antony Blinken vai também encontrar-se com o presidente Xi Jinping.

A China e os Estados Unidos devem manter a direção certa de avançar com estabilidade ou voltar a uma espiral descendente?”, questionou Wang durante um encontro com Blinken em Pequim.

A relação entre a China e os Estados Unidos está a começar a estabilizar, mas continua a ser testada por “fatores negativos”, acrescentou.

O governante reconheceu os "progressos alcançados" desde novembro, quando os líderes chinês e norte-americano, Xi Jinping e Joe Biden, respetivamente, se voltaram a encontrar, em São Francisco, depois de anos sem reuniões presenciais. O responsável da diplomacia chinesa frisou que Pequim respeita as linhas vermelhas em matéria de soberania, segurança e desenvolvimento e advertiu os EUA para não as ultrapassarem.

“Os fatores negativos na relação [EUA-China] continuam a aumentar e a desenvolver-se, e a relação está a enfrentar todos os tipos de perturbações”, alertou Wang.

Para o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, “os direitos legítimos de desenvolvimento da China foram injustificadamente suprimidos e os nossos interesses fundamentais estão a enfrentar desafios”.

Wang não especificou quais são os desafios, no entanto, existem vários pontos sensíveis entre as duas superpotências, incluindo as suas posições sobre o Mar do Sul da China, o apoio dos EUA ao governo de Taiwan e os Direitos Humanos.
Esta visita de Blinken, a segunda em menos de um ano, é vista como uma tentativa de reduzir as tensões entre as duas maiores economias do mundo. Contudo, os diferendos continuam a envenenar as relações, nomeadamente as restrições impostas pelos EUA às exportações para a China de tecnologias avançadas, incluindo os semicondutores.
"A comunidade internacional está a observar se a China e os Estados Unidos podem orientar a cooperação internacional para resultados mutuamente benéficos ou para o confronto", realçou Wang, sublinhando que isso vai afetar todo o mundo.

Blinken foi mais circunspeto nos seus comentários durante a conferência de imprensa ao responder que era necessária uma “diplomacia ativa” para avançar com a agenda estabelecida entre Joe Biden e Xi Jinping quando se encontraram em São Francisco.

Não há substituto, na nossa opinião, para a diplomacia cara a cara”, realçou o secretário de Estado norte-americano, acrescentando que quer garantir que “somos tão claros quanto possível sobre as áreas em que temos diferenças, no mínimo para evitar mal-entendidos, para evitar erros de cálculo”.Taiwan, TikTok e Ucrânia

Antes da sua viagem, Antony Blinken tinha indicado que iria abordar questões sensíveis com os seus homólogos chineses, como as práticas comerciais da China, o apoio de Pequim a Moscovo.

Algumas das diferenças entre a China e os EUA foram evidenciadas no início desta semana, depois de Washington ter aprovado o seu último pacote de ajuda, que incluía assistência militar a Taiwan. Este facto suscitou fortes críticas por parte de Pequim, que o considerou uma “grave violação do princípio de uma só China”.

A China considera Taiwan como uma província autónoma que acabará por ficar sob o controlo de Pequim, mas a ilha considera-se independente.

A visita de Blinken ocorre também alguns dias depois de os EUA terem aprovado uma lei que obriga a TikTok, uma empresa chinesa, a vender a popular aplicação de vídeo ou a ser proibida na América.

A rede social TikTok está também ameaçada de proibição nos Estados Unidos se não cortar os laços com a sua empresa-mãe chinesa ByteDance. Washington suspeita que a aplicação é utilizada para espiar os americanos, recolher informações pessoais e servir de propaganda chinesa.

Nos bastidores, os americanos têm avisado Pequim para deixar de exportar para a Rússia peças que, segundo eles, ajudam Moscovo a fabricar armas para a sua guerra na Ucrânia, com a ameaça de sanções a pairar sobre as conversações.

A disponibilidade da administração de Joe Biden para trabalhar com a China contrasta fortemente com os esforços para isolar a Rússia desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

Embora os chineses não forneçam armas diretamente à Rússia, Washington acusou-os nas últimas semanas de fornecerem equipamento e tecnologia de dupla utilização a Moscovo, o que está a facilitar o seu esforço de rearmamento, o maior desde a invasão da Ucrânia pela União Soviética.

c/ agências
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