China em exercícios militares durante visita de emissário dos EUA a Taiwan

por RTP
Tyrone Siu - Reuters

A China anunciou esta sexta-feira a realização de manobras militares no Estreito de Taiwan, com o envio de 18 aviões para a região, coincidindo com a visita de um alto representante norte-americano à região. Pequim justificou os exercícios como uma ação para “proteger a soberania”. Washington, por sua vez, considera os exercícios uma “fanfarronice militar”.

O exército chinês enviou esta sexta-feira 18 aviões, incluindo caças, para o Estreito de Taiwan, numa grande e incomum demonstração de força.

Em comunicado, o Ministério chinês da Defesa justificou que os exercícios consistem numa "ação legítima e necessária, tomada em resposta à atual situação no Estreito de Taiwan, para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial".

As tropas "cumprem o seu dever e têm a confiança e determinação para derrotar qualquer força que planeie ou lance qualquer forma de atividade separatista em Taiwan", acrescenta o comunicado. As autoridades de Taiwan, por sua vez, denunciaram a violação do espaço aéreo da ilha e ativaram o sistema de mísseis antiaéreos para monitorizar a atividade da Força Aérea chinesa.

Os exercícios militares coincidiram com a visita do vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Keith Krach, que chegou na quinta-feira à ilha e onde fica até sábado para uma homenagem ao falecido Presidente de Taiwan, Lee Teng-hui. Krach é o mais alto funcionário do Departamento de Estado dos EUA a visitar Taiwan desde que os dois lados romperam os laços formais, em 1979, quando os EUA aceitaram a "política de uma só China", que pressupõe que Pequim é o único Governo legítimo de todos os territórios chineses. China e Taiwan vivem como dois territórios autónomos desde 1949, altura em que o antigo Governo nacionalista chinês se refugiou na ilha, após a derrota na guerra civil frente aos comunistas. Mas a China considera Taiwan como território sob a sua soberania e opõe-se a qualquer tipo de interação oficial entre outros países e a ilha.

A aproximação de Washington a Taipé é, por isso, altamente sensível para a Pequim e os exercícios militares acontecem numa altura de aumento de tensão entre os dois países, desde que os EUA ampliaram o seu apoio a Taiwan.

A China já tinha advertido contra o envio do vice-presidente dos EUA à ilha depois de na segunda-feira, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Wenbin, ter exortado os Estados Unidos a "interromperem todas as formas de intercâmbio oficial com Taiwan". A China tem uma "vontade firme, total confiança e capacidade suficiente para impedir todas as interferências externas e ações separatistas das forças de independentistas de Taiwan", avisou o porta-voz do ministério.

No mesmo dia, o porta-voz do Ministério da Defesa da China, Ren Guoqiang, acusou os EUA e Taiwan de “intensificarem o coluio, frequentemente causando problemas”.

Guoqiang disse aos jornalistas que “usar Taiwan para controlar a China”, ou tentar “depender de estrangeiros para se fortalecer”, era uma ilusão. “Aqueles que brincam com o fogo vão-se queimar”, afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa chinês.
"Fanfarronice militar"
Os exercícios militares da China foram apelidados pelo secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, de “fanfarronice militar”.

“Enviámos uma delegação a um funeral e os chineses responderam com fanfarronice militar”, disse Pompeo, durante uma conferência de imprensa esta sexta-feira.

As visitas dos EUA à ilha inserem-se numa série de iniciativas do Governo de Donald Trump para fortalecer as relações com Taiwan, incluindo o aumento da venda de armas e o apoio à participação da ilha em fóruns internacionais.

Analistas dizem que a resposta militar chinesa é uma mensagem clara para os EUA contra a rutura do equilíbrio que Washington tinha mantido sob as administrações anteriores. Para além disso, China já tinha tomado ações semelhantes quando o secretário de saúde dos EUA visitou Taipé em agosto.

Do lado de Taiwan, o Governo parece ver os EUA - com a liderança de Trump e as tensões com Pequim - como uma oportunidade de lutar por uma relação mais estreita com Washington e, por sua vez, alcançar o objetivo de ser reconhecido internacionalmente como um país independente.

c/ agências
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